São cabos, senhor
Os cabos são componentes indispensáveis num sistema de áudio. Desde logo, porque, sem eles, não haveria energia para fazer funcionar o sistema. Depois, porque o sistema é como uma corrente, cada um dos seus elos precisa de ser ligado a pelo menos mais um componente, a fim de que a informação musical seja enviada ao longo da cadeia, até que finalmente se atinge o objectivo do sistema, a reprodução da música gravada. Uma fonte (gira-discos, leitor de CDs, streamer…) precisa de ser ligada (pelo menos) à secção da ampliação, pré-amplificador, ou amplificador integrado, e esta secção precisa finalmente ser ligada à componente final do sistema, as colunas. Com mais ou menos componentes de permeio (um pré-amplificador de gira-discos ou um DAC, p. ex.), estas ligações são feitas através da utilização de cabos, aos pares, pois, tratando-se de um sistema stereo, é necessário um cabo para transportar a informação de cada um dos dois canais, o esquerdo e o direito. Outras formas de envio da informação entre componentes, como o Bluetooth, têm, por várias razões inerentes, técnicas, muita perda de informação, por isso, ainda que possam ter uma melhor conveniência, não estão à altura de se equiparar ao desempenho de um bom cabo.
Este teste aos cabos de coluna da série Carbon da Kimber Kable surgiu da identificação da necessidade que eu, como muitos de nós, melómanos (alguns dos quais audiófilos), sentimos em encontrar uns cabos de alta qualidade que permitam ao nosso sistema evoluir para um patamar mais próximo do Graal musical: O de termos os músicos a tocarem à nossa frente, na nossa sala.
Porque julgo que a melhor forma de testar bem um cabo é no contexto de um sistema em que todos os cabos - todos mesmo - sejam do mesmo fabricante, inicialmente considerei a possibilidade de o fazer; contudo, se aos três cabos de coluna tivesse adicionado também cabos de corrente e de interconexão, isso significaria a introdução de ainda mais variáveis na equação, o que dificultaria sobremaneira a análise. Como o objectivo principal era mesmo testar de cabos de coluna, deixei essa ideia para outra oportunidade em que esteja em causa testar apenas um cabo.
Há muito tempo, ouvi alguém chamar aos cabos os perfumes do áudio, pois seria isso que eles fariam, perfumariam o som produzido. Hoje, penso neles de outra maneira: A música produzida por um sistema de áudio é quase como um cozinhado, e os cabos são o tempero, as especiarias, as ervas: com eles, pode fazer-se um muito bom cozinhado (ou estragar-se esse cozinhado…). Com eles, pode ajustar-se o sistema ao gosto do cozinheiro, com os quatro gostos básicos do paladar (auditivo) mais ou menos ácido, doce, amargo e salgado…
Dito isto, o ideal seria que os cabos não acrescentassem nem subtraíssem nada ao som que recebem e transmitem. Só que as leis da física não funcionam assim. O contacto do sinal musical com o material de que cada cabo é feito, o impacto a que esse sinal é sujeito pelas forças electromagnéticas que o rodeiam, tudo isso leva a que, de alguma forma, cada cabo tenha o seu impacto no som final. Ora, cada fabricante de cabos com preocupações de qualidade do sinal produzido (exceptuando, portanto, os cabos vulgares Made in China, ou outros análogos, cuja preocupação é o preço) sabe bem disto, e tem, justamente, preocupações com a tipologia, com os materiais, com o processo de construção, por forma a eliminar ou minimizar esse impacto. Com maior ou menor sucesso… isso já é outra coisa.
A empresa
A empresa Kimber Kable teve a sua origem na década de 1970, quando o seu proprietário Ray Kimber trabalhava para uma empresa de som e iluminação em Los Angeles, para a qual fazia a instalação e a manutenção de equipamentos em discotecas e clubes nocturnos. Nesse processo, apercebeu-se de que se entrelaçasse os cabos de áudio diminuía muito o ruído audível gerado pelos sistemas de iluminação dos espaços. Mais, constatou que essa acção não só diminuía a quantidade de ruído, mas também melhorava a qualidade do som do sistema de áudio. E assim nasceu a Kimber Kable; Kable e não Cable, com o mesmo K de Kimber.
Já com a KK em actividade, Ray Kimber demonstrou aos seus distribuidores os benefícios dos seus cabos, ao substituir os cabos de coluna que estes usavam pelos cabos Kimber, do que era notória a melhoria significativa na qualidade do som. Ao longo dos tempos, Kimber veio a melhorar o desempenho dos seus cabos, recorrendo a diferentes tipos de metais como condutores, tamanhos e comprimentos de torção e isolamento e métodos de fabrico. Sempre na procura de melhorar o conceito e o design do cabo original.
Actualmente a Kimber disponibiliza uma enorme e variada oferta de cabos para todas as finalidades existentes, cabos de interconexão, cabos de coluna, digitais, de corrente, para gira-discos, auscultadores, etc. Ao contrário de outras marcas, a Kimber oferece soluções das mais ambiciosas às mais simples, e preços dos mais elevados aos mais acessíveis.
Refira-se também que Ray Kimber é um promotor da causa da Ucrânia, na sua luta contra a Rússia invasora, tema ao qual dedica toda uma secção da sua página na internet.
Como antes referi, a principal inovação da Kimber é o factor pela qual é mais conhecida, que foi o desenvolvimento de tramas de condutores entrelaçados, contra-rotativas, com o intuito de cancelar as interações entre os condutores e reduzir o ruído. Além disso, segundo a Kimber, esta solução permite também a criação de um escudo eletromagnético contra interferências e distorções causadas por indutores externos.
A KK também é conhecida como uma empresa pioneira na importância dada às fichas de interconexão e à técnica de terminação. Isto levou ao seu forte relacionamento com a empresa alemã WBT, fabricante de conectores RCA de muito alta qualidade, que equipam a generalidade das soluções da marca, dos quais a Kimber foi um dos primeiros a utilizar em várias das suas séries.
A Kimber Kable disponibiliza várias séries de produtos, a saber, Ascent, Base, Summit, Carbon e Select. Existe ainda as séries Axios e Naked, dedicadas a aplicações mais especializadas. Nos cabos de coluna, a Kimber disponibiliza várias soluções espalhadas por estas séries de produto, entre as quais a Carbon. Esta série é a segunda a contar do topo na linha de produtos da Kimber, abaixo da série Select, que apresenta preços (e, alegadamente, desempenhos) substancialmente superiores. A Carbon inclui não só os três cabos de coluna em análise, bem como uma solução de cabos de interconexão e outra de cabos para gira-discos.
A Kimber Kable foi uma empresa importante no meu passado audiófilo, assim como para muitos outros como eu, tendo estado presente de alguma forma no meu sistema quase desde o início, com os cabos de coluna 4TC, depois com os 8TC e também com os cabos de interconexão PBJ e Hero. O preço acessível das suas propostas de entrada, associado à sua sonoridade quente e musical foi uma bênção para muitos sistemas relativamente básicos, e uma proposta de valor muito difícil de bater. Contudo, já nessa altura a Kimber tinha cabos de alto gabarito, o que sucedia é que o seu preço levava a que não lhes desse muita atenção. Em retrospectiva, julgo que deve ser mais difícil encontrar quem nunca teve uns cabos Kimber do que o contrário. Conheço várias pessoas que mantém cabos da Kimber nos seus sistemas há muitos anos, mesmo depois de estes terem passado por vários upgrades, o que diz muito sobre a qualidade dos produtos da marca.
E é assim que, passados muitos anos, alguns desses cabos da Kimber Kable, os cabos de coluna da série Carbon, de preço intermédio, são finalmente merecedores da minha atenção.
Cabos de coluna - Lembrete
Numa penada: Os cabos de coluna são aqueles que são usados para fazer as ligações entre o amplificador e as colunas. Estes cabos possuem três propriedades eléctricas principais: resistência, capacitância e indutância. A resistência é de longe a propriedade mais importante a ser tida em conta. Um cabo de baixa resistência permite que mais energia chegue à bobina de uma coluna, o que significa mais potência e mais som. Um outro factor muito importante é que a bitola do cabo seja adequada à impedância das colunas, e também ao comprimento do próprio cabo.