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Enleum AMP-23R

Enleum AMP-23R

João Carlos Anselmo

3 agosto 2024

As melhores coisas vêm em caixas pequenas


Nota prévia


Como sempre, as opiniões aqui expressas resultam do que ouvi com o meu sistema de áudio, na minha sala de música e com os meus ouvidos. O meu sistema funciona num espaço de 4,4 x 3,7 x 2,65 m, com uma boa acústica e com linhas eléctricas independentes e de boa qualidade. Outras conjugações de factores podem levar a apreciações diferenciadas.


Introdução


Estive hesitante no título deste artigo. Acabei por escolher “As melhores coisas vêm em caixas pequenas”, uma ideia atribuída ao filósofo grego clássico Esopo, autor das famosas fábulas. Mas também considerei “Os amplificadores não se medem aos palmos”, “Concentrado de alta música”, “Tamanho não é documento”, ou ainda “Ponto pequeno Surpresa grande”. De facto, a primeira coisa que se percebe do Enleum AMP-23R é aquilo que se vê, claro. E percebe-se, claro, antes de se ouvir, antes de se o pôr a desempenhar a sua função: Amplificar. Mas, para isso, é preciso ligá-lo, à corrente e ao sistema de som. Ao primeiro contacto, é inevitável: o AMP-23R tem uma pequena dimensão. Física. Só que… Pois! Chegados aqui, já se está a adivinhar o que vai seguir-se; para aperitivo, direi, recorrendo a outra ideia também atribuída a Esopo “As aparências iludem”; Ou ainda “quem vê caras não vê corações”. Portanto, fica já claro que aqueles que consideram que, para ser de alta qualidade, um amplificador tem que ser grande, não vão gostar de ler estas linhas.

Foto 1_Enleum_AMP-23R_2

Todos já vimos isto acontecer


Todos nós, os que sabemos que adoramos música, e que por isso dela queremos desfrutar ao máximo nas nossas casas (e em concertos, mas isso é outra história) já vimos nascer muitas marcas de áudio. As marcas consagradas, as Sonus faber, Conrad-Johnson, Linn, Audio Research, B&W, Krell, Rega, McIntosh, Wilson, Dynaudio e várias outras, não o foram sempre. Houve um dia em que nasceram; houve um momento em que foram novidade. Houve um momento em que foram recebidas com curiosidade, por uns, e com desconfiança, por outros. E só depois, com o tempo, vieram a adquirir a aura que hoje têm. Pois a marca que aqui está em análise é uma desconhecida do grande público (à parte, imagino, de alguns nichos mais informados). Apesar da sua juventude, a Enleum começou já a construir uma imagem relevante no panorama internacional do áudio, o que veremos mais adiante.

Foto 2_Enleum_AMP-23R_7

Folha em branco

Quando se colocou a possibilidade de testar este Enleum AMP-23R, a minha primeira reacção foi: Enle-quê? De facto, nunca tinha ouvido falar desta marca, e menos ainda deste amplificador. Em seguida, pensei em ir investigar, obviamente, pensei em ir ler sobre o amplificador e a marca. Que potência, que preço, que tecnologia de transístores (é óbvio que a válvulas não seria), que alimentação, que historial, etc. Mas depois, pensando melhor, decidi que não o ia fazer. Ao contrário de tudo o que tinha feito até agora, decidi deitar mãos ao trabalho sem quaisquer ideias preconcebidas. O Enleum que me surpreendesse (ou não).


Enleum: O princípio


A Enleum é uma empresa sul-coreana, mas a sua história não começa nesse país, mas sim no Japão. Aqui, existia desde 1991 uma empresa de áudio designada Bakoon Products Co., Ltd. (BP). Em 2009, o seu fundador Akira Nagai conheceu um apaixonado de áudio e engenheiro sul-coreano, Soo In Chae, e com ele estabeleceu uma relação de trabalho. Um ano depois, Soo criou em Seul a Bakoon International (BI), a fim de desenvolver alguns melhoramentos no amplificador em que a Bakoon japonesa estava a trabalhar. Com o passar dos anos, a BI veio mesmo a representar uma linha de produto algo diferente dos modelos da BP existentes apenas no Japão, vendida quase com o mesmo nome. Este modelo de gestão era uma receita para o desastre, pelo que, após anos de fricção entre a casa japonesa e a sua subsidiária sul-coreana, Soo-In acabou por sair, criando então a Enleum (a Bakoon continua em actividade). O AMP-23R em análise é assim um descendente de amplificadores anteriores da Bakoon, especialmente o Bakoon AMP-13R.

Foto 3_Enleum_AMP-23R_8

O nome da empresa, Enleum, é composto pelas palavras Enlightenment e Eum que significa “som” em coreano. A Enleum aspira assim a introduzir uma nova experiência de ”enlightened sound”.
A Enleum diz que é possivelmente o único fabricante do mundo de áudio High-End que simultaneamente ganhou prémios de publicações audiófilas de todo o mundo e também alguns dos mais prestigiados prémios de design - área em que a marca também aposta fortemente - como o Red Dot Award: Product Design 2021 e o iF Design Gold Award 2022.

Principais características técnicas

Embora nominalmente o Enleum AMP-23R’s seja um amplificador integrado, na sua essência ele é um amplificador de potência estéreo com um ganho de tensão verdadeiramente variável, selecionável pelo utilizador, conforme se verá.
No que diz respeito à topologia, o AMP-23R é um amplificador integrado push-pull de banda larga e de classe AB. Funciona no modo de corrente, e o botão de controlo de volume faz variar o ganho do amplificador, ao invés de apenas atenuar o sinal de entrada. Tem uma potência de 25 W a 8 Ω e 45 W a 4 Ω e uma resposta de frequência de 10 Hz a 100kHz. A topologia do AMP-23R parte de uma entrada de tensão nas entradas RCA, a qual é processada como um sinal de corrente no estágio de ganho intermediário. O andar de entrada do AMP-23R emprega um par de módulos Ensense, da Enleum, um para cada canal, com todos os componentes discretos e nenhuma realimentação negativa. A polarização (bias) é constantemente monitorizada, controlada e corrigida (se necessário) em tempo real, pelo circuito JET 2 Bias da Enleum. O andar de saída Classe A/B do Enleum usa um par de MOSFETs da Exicon. O AMP-23R mede 23 x 23 x 5,5 cm (L x P x A) e pesa 4 kg.
Em termos estéticos, o AMP-23R evidencia uma grande preocupação com o design, o que é patente em todo o aparelho, e em particular na forma de organização o painel frontal que, no entanto, me parece algo espartana.
A interface com o utilizador apresenta na fachada dois botões. O primeiro, mais pequeno, e de premir, desempenha simultaneamente duas funções, a de ligar/desligar e a de selector de entrada. Existem apenas duas entradas, e aquela que é seleccionada acende o respectivo e minúsculo LED. O segundo botão, bastante maior, e rotativo, é facetado em forma de onda e possui um acabamento texturizado. Não se trata aqui de um convencional botão de regulação do volume do amplificador; trata-se, em vez disso, de um controlo do ganho do amplificador, a que a Enleum chama “Phase Gain”. Emprega um sistema motorizado (não apenas manual) de regulação, e é circundado por um conjunto de LEDs, cada um deles indicando, de forma cumulativa, e quando tal é seleccionado, o nível de ganho atingido. Além do seu accionamento manual, o manuseamento do ganho no controlo remoto faz também mover este botão – e a respectiva luz sinalizadora – de forma mecanizada. Na fachada existem apenas mais dois dispositivos, uma entrada para auscultadores e uma janela do circuito de controlo por infravermelhos, que recebe o sinal do controlo remoto.

Foto 4_Enleum_AMP-23R_5

Nos dois painéis laterais, existe um conjunto de aberturas de ventilação, de forma ondulada, com um aspecto que faz lembrar guelras, que são eficazes na dissipação do calor, e que também criam um contraste interessante com o design linear e minimalista de todo o aparelho.
No global, o Enleum apresenta uma superfície escovada que transpira altíssima qualidade de concepção e de acabamento, a ponto de, por si só, o design da caixa do amplificador poder tornar o AMP-23R um produto de culto para alguns. Ora, quando se o roda, vê-se que na traseira as coisas também são um pouco diferentes do que é normal encontrar-se num amplificador. Aqui encontram-se dois pares de entradas RCA analógicas marcadas como “Voltage”, que são entradas analógicas tradicionais. No meio, existe um par de entradas BNC marcado como “Enlink”, que são conectores especiais que permitem a entrada de corrente, construídos para funcionar com componentes de fonte a criar pela Enleum. Finalmente, existem ainda dois pares de ligações para os cabos de coluna e a ficha de ligação do cabo de corrente.
A abertura da caixa de cartão dupla que contém o amplificador permite observar os acessórios que o acompanham, os mais distintivos dos quais são os já referidos pés (sendo oferecidos uns pés opcionais, por um preço adicional), o manual de utilização e um controle remoto metálico, robusto, pesado e com um design muito pensado. Tal como o amplificador em si, apesenta um reduzido número de opções de utilização. A qualidade de construção é excelente e apresenta linhas algo futuristas, com o metal macio ao toque e colorido com uma espécie de cinza escuro e azulado.
Em termos de funcionalidade, o selector de entradas e o botão ligar / desligar antes mencionados funcionam bem, embora o botão de ganho (volume), faça um pequeno ruído de clique, o que por vezes faz com que se ouçam esses cliques nas colunas. No entanto, não achei este comportamento problemático.
Ao final de algum tempo de utilização activa, o AMP-23R fica quentinho. Sem os painéis laterais de ventilação, e a respectiva dissipação de calor, a coisa devia fiar mais fino. Portanto, não se trata apenas da estética a falar.
Na minha casa, o Enleum AMP-23R faz parceria sobretudo com o leitor de CDs Ayre Evolution CX-7 e com as colunas Sonus faber Electa Amator II e KEF Reference 2, embora tenha usado vários outros componentes. Em contraste estiveram o Pré-amplificador Conrad-Johnson PV-12AL e o amplificador de potência Conrad-Johnson Premier 11A.


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