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Enleum AMP-23R

Enleum AMP-23R

João Carlos Anselmo

3 agosto 2024

As melhores coisas vêm em caixas pequenas


Em audição


O Enleum já tinha um conjunto apreciável de horas de rodagem quando entrou na minha casa. Ainda assim, deixei-o a rodar quase ininterruptamente durante dois dias. Já quase no final deste dia, estava noutra sala da casa, quendo me pareceu ouvir trovoada… que estranho! Fui à janela, e o céu estava limpo. Bom. Passado um bocado, ouvi uma porta a bater… e estava sozinho em casa… Lembrei-me então que poderiam ser sons a vir da sala de música… fui ver, e, voilá, era mesmo dali. Tinha deixado a rodar um CD de teste de aparelhagens da Chesky, e uma das faixas era justamente uma trovoada. Caramba, hiper-realista, pensei para comigo! Foi da maneira que não consegui esperar mais, e, passados instantes, estava sentado no sofá e a dar início às audições.

Foto 5_Enleum_AMP-23R_5

Ora, ao fim de segundos, aconteceu-me o que é raro, muito raro acontecer: Logo ao princípio da primeira audição, emiti um WOW !!
O que ouvi de imediato foi uma vivacidade no som que normalmente associo a colunas enquadradas em sistemas de muito alta qualidade. A imagem tinha largura, profundidade, uma tridimensionalidade que me fazem pensar em grandes amplificadores a válvulas. E, as minhas Sonus faber e KEF desapareceram (quase) completamente!
Das primeiras coisas que me ocorreram foi que parecia que tinham sido removidos véus que estavam na frente da visualização da música. Bem sei que esta imagem é utilizada com alguma frequência, mas foi o que me ocorreu: Foram retirados véus da frente do meu sistema. Ficou tudo mais transparente, mais de talhado, e mais dinâmico. Isto também se deve ao facto de o Enleum AMP-23R ser notavelmente silencioso e limpo.

Nos graves, por vezes – nem sempre - notei um ligeiríssimo calor; mas sempre com forte impacte, controlo e definição. Nos médios, a clareza e a definição evidenciadas foram sempre surpreendentes. Nos agudos, a combinação de um fundo extraordinariamente silencioso e de uma leve escuridão fez com que nenhuma gravação, mesmo as menos cuidadas, soasse a áspera. Aliás, o nível de ruído extremamente baixo do Enleum – nunca consegui ouvir nada nas várias vezes que encostei o ouvido à colunas, em momentos de pausa dos instrumentos - empresta grande dinamismo e grande abertura a todos os tipos de gravações e de música. Com conteúdos com uma gravação de alta qualidade, com um boa amplitude dinâmica, a experiência auditiva é levada a um nível altíssimo.
O AMP-23R possui uma invulgar combinação de clareza, suavidade e dinamismo que não pode deixar de impressionar até mesmo os melómanos que estão habituados a ouvir música ao vivo.
Outras experiências proporcionadas pelo Enleum incluem a percepção de um fundo do palco bem escuro e bem silencioso, contra o qual se desenham claramente os contornos e o corpo dos instrumentos, o invulgar prolongar no tempo da vibração de uma corda de guitarra quando dedilhada, as vozes e instrumentos de grande dimensão, mas realistas na sonoridade e no tamanho, o vocalista não aparentando ter uma boca com um metro,.

Foto 6_Enleum_AMP-23R_6

Pontualmente puxado até limites mais elevados, o AMP-23R levou todas as colunas com que o confrontei a níveis de pressão sonora que eu não esperava que atingissem. Seguramente, se na altura me tivessem pedissem para adivinhar a potência deste amplificador, teria dito que não ficava atrás dos 80 W do meu Conrad-Johnson Premier 11A. Ora, recordo que, nesta altura, eu ainda não sabia que estava na presença de um amplificador com 25 W!
Os CDs que utilizei – os LPs estão ainda à espera de melhores dias – seguiram dois critérios, como sempre: Uns têm gravações de alta qualidade, e outros são discos que conheço muito bem, e de que gosto muito. Alguns, claro, enquadram-se nas duas tipologias.
As minhas audições começaram com a primeira faixa, Here to Stay, do CD We Live Here de Pat Metheny. Nem era esta a faixa que eu queria ouvir, era apenas a primeira, e começou a tocar antes de eu ter podido mudar. Esta faixa até é uma gravação sofrível (ao contrário da maioria das outras faixas do álbum), mas, logo aos primeiros acordes, lá está, WOW! Presença! Tive que baixar o som. Grave mais forte e definido que o habitual? Transparência, presença, presença, transparência, definição e controlo do grave, uma das pechas desta gravação. Impressionante.
Na faixa To The End of the World do mesmo disco, impressionou-me particularmente a bateria, notando-se claramente e de forma invulgar a variação nas batidas, à medida que o baterista passava de uns tambores para outros, ou para ferros, ou para madeiras.

Foto 7_Enleum_AMP-23R_3

Finalmente, na faixa Something to Remind You, no início da canção, a percussão oscila entre madeiras e metais, e foi impressionante a transparência com que o Enleum nos permite aperceber e apreender as variações percutivas introduzidas pelo baterista.
No CD dos Genesis Selling England by the Pound, logo aos primeiros acordes de Dancing with the Moonlit Knight começa-se de imediato a notar a percussão de Phil Collins nos pratos, subtil, que vai acompanhando, a bassa voce, e pontilhando a voz de Peter Gabriel enquanto este canta. Nunca me tinha dado conta desse trabalho da bateria…
Entre os 5 m 20 s e os 5 m 30 s, nota-se perfeitamente o baixo de Mike Rutherford a acompanhar, a igualar, nota a nota, as notas que Tony Banks vai tocando no sintetizador. Não estava habituado a ouvir isto! Adoro o trabalho dos Genesis, até à saída de Steve Hackett, mas nunca considerei Mike Rutherford como um génio do baixo, ao contrário do que foi, p.ex. o seu contemporâneo Chris Squire dos Yes. Ora, o Enleum mostrou ser um admirador de Mike Rutherford, mostrando que ele é capaz de altos voos. Muito interessante.
No final da faixa, entra-se numa terra de calmaria, em que subsiste um dedilhar no que parece ser uma guitarra de 12 cordas, sobre a qual vão intervindo ora uns riffs suaves de guitarra eléctrica, ora uns glissandos de mellotron, ora umas escovas da bateria, tudo num momento calmo, e planante; ou assim até aqui me parecia ser. Não desta vez! Agora, apercebi-me de que há variações dinâmicas constantes, como ondas que vêm e que, ao chegaram, fazem subir a altura do som, para depois se afastarem, e o som baixar com elas, para em seguida tudo recomeçar… Fiquei espantado com isto…

Foto 8_Enleum_AMP-23R_5

Na faixa seguinte, I Know What I Like, o Enleum começa logo por eleva às alturas a altura do palco. O “helicóptero” no início da canção quase parecia ir levantar voo na minha sala! Os sons à esquerda e à direita, acima e abaixo, à frente e atrás a sucederem-se, com o helicóptero sempre a ronronar. Que experiência! Finalmente, em Firth of Fifth, uma das melhores canções dos Genesis e, na minha opinião de toda a música popular, quase no início, Peter Gabriel toca a sua flauta. Sempre pensei que cada um dos seus sopros produzia um som linear, constante; mas agora percebi que não! Não é que existe um pouco de ondulação nas notas que produz? Pensei: é tal como na natureza, onde não existem linhas rectas… até a linha do horizonte, vista com detalhe, está repleta de ondulações… Enleumlações? Espantoso.


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