As melhores coisas vêm em caixas pequenas
O álbum Havana é a banda sonora do filme homónimo, dirigido pelo mítico realizador Sidney Pollack, cujos principais actores são os grandes Lena Olin, e sobretudo Robert Redford. Dá-se o caso de este ser um dos meus actores favoritos de sempre, desde que o vi pela primeira vez no Caleidoscópio, ainda adolescente, em 1977, em Os Homens do Presidente, com outro monstro do cinema, um tal Dustin Hoffman. Mas não é devido a Redford que aqui trago este disco, mas sim por gostar muito da música que ele contém. Esta é da autoria de Dave Grusin, e reúne um extraordinário conjunto de músicos, como Lee Ritenour, Arturo Sandoval, Alex Acuña, Abraham Laboriel e Dorival Caymmi. A música tem uma forte influência cubana, que se junta a uma sonoridade jazz fusion que foi a que Dave Grusin (com o seu irmão Don) mais cultivou.
Sendo o álbum excelente, do princípio ao fim, há duas faixas que me merecem particular atenção, dadas as suas especialidades, as quais submeti à análise do Enleum. Mambo Lido tem uma entrada explosiva. Só ela justifica a audição da canção. As percussões atacam fortíssimo desde o primeiro segundo, juntando-se-lhes pouco depois um tremendo naipe de metais, a tocar a todo o gás. A dinâmica que o Enleum consegue reproduzir é avassaladora. Neste contexto, merece destaque um trombone que cria uma enorme pressão sonora nos registos graves, até faz com que as Sonus faber estremeçam a sala! Parece que tenho umas colunas de chão… Impressionante. E depois, A Los Rumberos de Belén, que é uma canção fantástica. Tem uma energia e uma dinâmica tremendas; do melhor que conheço. É uma faixa tipicamente cubana, totalmente acústica, que começa com vários instrumentos de percussão, à esquerda, à direita e ao centro do palco. O que há de especial, e que nunca me tinha dado conta, é que o AMP-23R mostra que a gravação posicionou os músicos abaixo da linha das colunas; quase como se os músicos estivessem a tocar sentados no chão à minha frente. E, ao lado deles, acaba por se juntar um coro masculino, que dialoga entre si e com os percussionistas. É uma demonstração impressionante do Enleum, de como consegue fazer uma apresentação credível da música, e muitíssimo bem delimitada no espaço.
Songs From The Last Century, do malogrado cantor britânico George Michael, é um excelente álbum, de alguém que até ao seu lançamento eu não apreciava, embora reconhecesse que era dotado de uma grande voz. Mas aqui, a música é outra, literalmente, temos aqui um álbum claramente jazzy. Conta com um punhado de grandes canções daquilo que se costuma chamar “Americana”, o cancioneiro clássico que contribuiu muito para a criação do imaginário cultural dos EUA. Conta com standards do jazz como Brother, Can You Spare a Dime, um clássico do tempo da grande depressão de 1929-33 ou My Baby Just Cares for Me, sensivelmente da mesma época, e que mais tarde foi popularizado por Nina Simone. O Enleum é soberbo ao mostrar a técnica vocal de George Michael, repleta de recursos, especificidades, apontamentos, nuances. Mostra que a sua voz, aqui envolta em roupagens menos exuberantes do que o que sucedia na generalidade das suas canções pop, não fica em nada atrás das de outros grandes intérpretes do jazz, como Sinatra, Bennett, Dean Martin ou Sammy Davies. Aqui, com o AMP-23R, a voz, liberta das batidas sincopados e dos sintetizadores, assume um maior protagonismo, acompanhada quase exclusivamente de instrumentos acústicos, contrabaixo, piano, bateria, guitarra acústica, saxofone, trombone, secção de cordas. Um conjunto que o Enleum mostra que ora se revela de uma grande subtileza, ora é possuída de uma dinâmica avassaladora. Não tivesse eu comprado este disco aquando do seu lançamento e fá-lo-ia agora, ao ouvi-lo através do Enleum (a título de curiosidade, este foi o único álbum a solo de Michael que não chegou ao primeiro lugar do top britânico, ficando-se “apenas” pelo segundo lugar, ao ser ultrapassado por Come On Over, de Shania Twain…).
Conclusão
Como referi no início, parti propositadamente para este teste sem qualquer informação sobre a Enleum nem o AMP-23R, e só após a conclusão do teste e das notas que fui tomando é que fui ver as informações disponíveis na internet sobre a Enleum e este seu AMP-23R. E, tal como me aconteceu a mim, este pequeno grande amplificador impressionou muitíssimo todos os que com ele contactaram. A mim também, claro, e muito para lá do que poderia esperar, mesmo que me tivessem dito: Olha que isto é muito bom. Muito bom não teria chegado para o descrever. Algumas pessoas que passaram por minha casa durante as semanas em que tive comigo o Enleum também tiveram dificuldade em acreditar que aquela grande música que estavam a ouvir era engrandecida por este pequeno grande rapaz.
Tenho também que referir o seguinte: Podia dizer que experimentei o AMP-23R na sua funcionalidade de amplificador de auscultadores; só que, como não aprecio a sensação de ter música dentro da cabeça – em vez de a sentir a vir de fora para dentro – mais uma vez os meus Sennheiser HD-650 pouco uso tiveram. Portanto, não vou emitir opinião sobre o seu desempenho nesta vertente. Mas vi que nessa vertente outros manifestaram muito agrado com o AMP-23R.
O Enleum é um amplificador da classe AB, mas tem um som classe A+. Além disso, tem um desenho e um acabamento extraordinários. Tem uma sonoridade neutra, nem com a frieza de alguns amplificadores de estado sólido, nem com o calor excessivo de algumas válvulas, embora penda ligeiramente mais para este último lado.
O AMP-23R é uma excitação ininterrupta. É um amplificador tão especial que não há nenhum cliché que o possa descrever. Muitas vezes, à medida que subimos na escala dos melhores componentes do mundo, eles revelam mais música – mais resolução, menos ruído, mais dinâmica, mais da sua voz própria. É aqui que se enquadra o Enleum AMP-23R. Só se compara com os melhores.
O Enleum geriu todas as colunas com que o emparelhei sem sequer piscar os olhos. Sonus Faber, ProAc, Totem, Kef, nenhuma delas é uma pera doce de alimentar, cada uma delas com as suas idiossincrasias. Ora, continuando no plebeísmo, a todas o AMP-23R chamou um figo. O grave das minhas Sonus Faber nunca foi tão forte, até pareciam umas colunas de chão de 3 vias… o AMP-23R tão forte, e, no entanto tão delicado. Pois, mas se as raparigas nunca tinham descido tão baixo, ao mesmo tempo, também nunca as tinha ouvido subir tão alto… E com médios doces quando eram para o ser, mas duros quando a gravação as chamou a sê-lo. As KEF têm um grave potente, mas ao qual falta algum controlo; mas o Enleum conseguiu minimizar esse aspecto menos positivo, ao mesmo tempo que tirava o melhor da encantadora gama média destas colunas.
O AMP-23R é de longe o melhor dos vários amplificadores integrados que já tive em casa. E é mesmo um dos dois ou três melhores conjuntos (apesar de aqui se tratar de um integrado) que já cá tive, em absoluto. Nalguns aspectos, poderá mesmo ter sido o melhor que já tive, mesmo, e sobretudo, quando confrontado com a minha excelente amplificação Conrad-Johnson residente.
O AMP-23R faz tudo bem? No domínio do som, faz. Muito, muito bem, mesmo. Há apenas a questão dos cliques associados ao manuseamento do botão do ganho (volume), que não me incomodou, mas que não posso deixar de referir. Além disto, o único aspecto negativo que senti quando o tempo para a análise chegou ao fim foi o início imediato do sentimento de falta de mais oportunidades de com ele explorar o fluxo interminável de maravilhas que a música tem para oferecer.
Não adquiri o exemplar do AMP-23R que testei; mas tal aconteceu (ou não) não porque não tivesse vontade, mas sim porque outros valores falaram mais alto, ou antes, mais baixo. Mas, lá vontade não faltou…
Confirma-se: As melhores coisas vêm mesmo em caixas pequenas.
Amplificador integrado Enleum AMP-23R
Preço 7 490 €
Fabricante Enleum Corp., Coreia do Sul
Representante my Hi-Fi House