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PMC twenty5.24i

PMC twenty5.24i

João Carlos Anselmo

2 fevereiro 2023

Inovação da tradição


Ora, sucedeu que, inesperadamente, volvidas mais duas semanas, quando pensava estar a terminar as audições, ou seja, por volta das 50 horas que lhes tinha dado (portanto, por volta das 100 horas totais) eis que, de um momento para o outro, as raparigas deram um salto qualitativo. Um belo final de tarde, quando ligo o sistema, ao fim de um quarto de hora (válvulas dixit), mal começo a dar atenção à música que enchia a sala, e, eh lá… o que é que se passa aqui? soltei. Pois súbita e inesperadamente, as 241 tinham desabrochado. Estava tudo mais solto, mas ao mesmo tempo mais dinâmico, o palco tinha aumentado, havia mais transparência… foi uma bela surpresa. Isto obrigou-me a voltar ao princípio, tive que voltar a ouvir as mesmas canções, a alterar as minhas notas… enfim, foi quase como testar umas novas colunas. E fi-lo sem esforço, pelo contrário, que ouvir música pelas 24i foi sempre um prazer.
O palco das PMC é muito bom, consegue discernir-se muito bem o posicionamento dos instrumentos, mais à esquerda ou à direita, mais à frente ou atrás, mais baixo ou mais acima do plano da audição. Consegue-se sem dificuldade “visualizar” o posicionamento dos músicos no palco, e apontá-los a dedo: olha, o baixista está aqui, a cantora está ali, o oboé está além. Além disso, o palco é bem largo, aparentando ter uma largura bem maior do que a distância entre as colunas.
A correcção tímbrica é também muito boa. Uma guitarra eléctrica de 12 cordas soa distinta de uma guitarra de 6 cordas, sendo ambas identificáveis, e a mesma distinção é notória com os sons da guitarra baixo e do bombo da bateria, ou com as notas do oboé e do clarinete.
Se é que tal se pode dizer, estas colunas têm ritmo que se fartam. Vezes e vezes sem conta tive aquela sensação imersiva de bater os pés com a música, como p.ex. com a fantástica canção From Light to Light do disco Vibe dos Steps Ahead.

Twenty5-24i-3-4-O-cut

Tudo o que dei a beber às PMC foi processado a alto nível, fosse o saxofone quase estridente de Jan Garbarek em Red Wind, the Visible World, o violoncelo profundo do Isao Suzuki Quartet, em Aqua Marine, a voz e os agudos quase irreais de Renée Fleming em Let the Bright Seraphim, do Samson de Handel, a voz camaleónica de Peter Gabriel em Cinema Show, dos Genesis, a gigantesca massa orquestral de The Might of Rome, de Gladiator de Hans Zimmer, este também com graves do mais profundo que já se me foi dado ouvir, as guitarras em distorção de Joe Satriani, em Trundrumbalind, do disco Crystal Planet, ou o contagiante baixo funky de Marcus Miller em Rush Over, do álbum Tales. Cada peça musical que era tocada enchia a sala, e dava a notar a clareza, o timbre, a separação de instrumentos complementares, que é uma característica marcante destas colunas. Com as PMC, cada actuação dos músicos foi sempre de tirar o fôlego.

We Live Here, de Pat Metheny, é um disco curioso. Não no que diz respeito à música em si, que essa é excelente (mas eu sou suspeito…), mas no que respeita à gravação: com uma excepção, a qualidade da gravação é apenas bastante. Mas não é assim com a primeira canção, Here To Stay. Aqui, as PMC mostraram bem a massa musical amorfa que resultou do trabalho feito no estúdio. Os instrumentos estão em cima uns dias outros, não há ar, não há separação, não há tridimensionalidade, tudo nos é apresentado como se os músicos estivessem todos a tocar sentados no palco e encostados uns aos outros. O grave, esse então, sobretudo o que sai da guitarra baixo de Steve Rodby, é quase um borrão, balofo, sem definição tímbrica, quase que se confundindo com o bombo da bateria. Parece aquele boom boom que se ouve produzido pelos (tão frequentes) sistemas de cinema em casa de 3ª categoria, com o subwoofer a bombar e a ribombar por tudo quanto é sítio. As 24i mostraram muito bem esta deficiência da gravação, a qual já antes tinha ouvido várias vezes, mas nunca tão claramente como agora. Ora, a qualidade da gravação muda completamente daí para a frente, a começar pela segunda faixa do álbum, And Then I Knew. Aqui, como nas canções que se seguem, a gravação está bastante boa, e as PMC mostram-no logo aos primeiros acordes. Nessa segunda faixa, e isto acontece em dois momentos distintos, há uma voz bem…bem lá no fundo, em que um dos músicos, a acompanhar o que está a ser tocado, trauteia um “dá-dára-dá” quase inaudível, provavelmente gravado de forma involuntária. Quase inaudível, porque sistemas reveladores, como o meu, há muito que me mostram a sua existência. Sucede que as PMC foram das colunas que melhor mo revelaram, o que para mim, mostra a sua capacidade de nos dar a ouvir a música tal como ficou gravada, literalmente até ao mais pequeno detalhe.

Twenty5-24i-3-4-O-G-cut

Bom, então e os graves destas twenty5.24i? Pois os sons graves são muito bem executados pelos woofers e pelo seu sistema de linha de transmissão. No entanto, o grave não domina. Acompanha o resto da música, é rápido, encorpado, profundo e melodioso. Em particular, a tão amada guitarra baixo foi especialmente bem servida nas várias gravações que utilizei, chegando com força ou com subtileza, conforme o pretendido pelos músicos.
A banda sonora do filme Gladiador, de Hans Zimmer, inclui várias canções com gigantescas massas orquestrais, que põem à prova até mesmo as colunas mais robustas e de grande porte (e os amplificadores que as alimentam, já agora). A conjugação de uma orquestra sinfónica a tocar a todo o gás atinge níveis de pressão sonora tremendos, que até bandas de metal, com amplificação do sinal (o contrário das orquestras, com música não amplificada) se esforçam para atingir. Em Gladiator, tornam-se especialmente tremendas as conjugações de vários tambores e bombos, pratos, trombones, tubas, contrabaixos, enfim, toda a artilharia de baixas frequências que integra uma orquestra. Entre outras, as faixas The Battle e The Might of Rome são de fazer abanar a sala. Fiquei impressionado com a falta de distorção das 24i quando estas baixas frequências telúricas e viscerais pressurizaram a sala e quase me convenceram p.ex. de que havia uma batalha a acontecer à minha frente. Ao longo da audição, fiquei surpreso com o quão pouco os cones médios/graves das 24i se movem em resposta a impulsos fortes. Isto é algo de notável, dada a força dos graves que, desta vez como de outras, atingiam o meu sofá, e demonstra o quão eficaz é o carregamento do sistema ATL no controle da excursão da unidade de graves.
To the End of the World, do álbum We Live Here de Pat Metheny é uma canção que se desenvolve num regime allegro moderato, por vezes quase intimista, em que o piano e os sintetizadores do malogrado Lyle Mays, o baixo de Steve Rodby, a guitarra de Pat e as vozes de David Blamires e Mark Ledford se vão alternando na definição da melodia principal. No início surge a guitarra baixo, num “bass intro” que marca o ritmo da canção, e que a vai pontuar até ao fim. As PMC mostram que este baixo, que se enquadra na gama média alta dos graves, é sempre bem notório, presente, profundo e muito musical. Já quase no final, desenvolve-se um crescendo em que, lentamente, os vários instrumentos vão tocando mais alto, culminando numa espécie de um crash (o fim do mundo?), uma emulação de um ribombar de trovões que me faz lembrar a polka Mit donner und blitzen, com trovões e relâmpagos, de Johann Strauss, que voltei a ouvir recentemente pela mão da Orquestra Metropolitana de Lisboa. Trata-se de um momento muito complexo, muito exigente para qualquer sistema, e em particular para umas colunas, sobretudo nos graves, mas também na não-intromissão destes nas restantes gamas, sobretudo na média, mas as PMC saem-se lindamente, conseguindo recriar de forma convincente a sonoridade tempestuosa pretendida pelos músicos.
A tão importante gama média, aquela na qual se posiciona a maior parte da música, é de muito bom nível nestas PMC. Pergunto-me como será com o modelo que se lhes segue na gama twenty, as 5.26i, que já são uma coluna de 3 vias, com o acrescento de uma unidade dedicada à reprodução dos médios. Nas 5.24i, a importantíssima faixa de frequência da voz humana é retratada com uma precisão incrível, mas consegue transmitir emoções muito bem.


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