Inovação da tradição
Os Steps Ahead, que já antes referi, são uma banda de referência do jazz e do jazz de fusão de que muito gosto, na linha de uns Weather Report, uns Brand X, uns Yellow Jackets. E, claro, de um Miles, que terá sido o primeiro a trilhar esse caminho (esse, e muitos outros). Criados pelo vibrafonista Mike Manieri, neles já tocaram incontáveis monstros do jazz: Mike Brecker, Steve Gadd, Eliane Elias, Mike Stern, Tony Levin, Victor Bailey, e muitos mais. No CD Vibe, a canção Miles Away é uma homenagem a Miles Davis; aliás, o próprio disco procura ir ao encontro de Miles, recreando uma sonoridade, um vibe nele inspirado. Sugerem os Steps com esta canção que Miles estaria “Miles Away”, “Steps Ahead”, estava a milhas, a milhas à frente de tudo o resto. Aqui, criam uma sonoridade em que um andamento lento, iniciado com as escovas da bateria, vai permitindo a entrada gradual do baixo, do saxofone, do vibrafone e finalmente do piano acústico, instrumentos que, na sua maioria, se situam na gama média. É uma canção de uma grande beleza e de uma grande subtileza, em que o carácter acústico dos vários instrumentos pede para ser mostrado; e as PMC respondem, presenteando-nos quer com o detalhe micro de cada instrumento, e nota, quer com o todo que forma a canção.
As vozes são especialmente bem tratadas pelas 24i. Com elas, os seus donos têm corpo, têm vida, têm timbre. Seja Peter Gabriel em Cinema Show, dos Genesis, seja David Blamires e Mark Ledford, do Pat Metheny Group, seja Hope Sandoval dos Mazzy Star, ou as vozes semi sintetizadas dos Deep Forest, ou ainda Melissa Walker, em A Time for Love, cada uma tem um timbre único, todas são bem projectadas, separadas dos outros instrumentos. Muitas vezes, há um ou mais cantores a acompanhar o vocalista principal, e nessas situações as PMC mostram bem que há mais que uma pessoa a entoar o mesmo fraseado.
Nos agudos, veja-se Renée Fleming, a famosa soprazo, conhecida como “The Beautiful Voice” que faz uma intervenção estonteante em Let the Bright Seraphim, do Samson de Handel. Como é sabido, uma soprano tem a voz feminina mais aguda e com maior alcance vocal de todos os tipos de vozes. Fleming tem especiais capacidades no pianíssimo, no legato, no controle de respiração e na emissão quer de graves de peito firmes quer de agudos precisos. As 24i evidenciam bem o exercício destas suas capacidades e a coerência do seu desempenho.
The Famous Sound of Three Blind Mice, tem uma gravação de altíssima qualidade, sobretudo para um CD (XRCD). Em Aqua Marine, o som do baterista, a tocar vários instrumentos de percussão, sobretudo metálica, incluindo os pratos da bateria, enche completamente o palco, à medida que um contrabaixo tocado com arco vai delineando uma linha musical e um piano eléctrico complementa a cena musical. É uma gravação excelente, que põe em causa as capacidades micro dinâmicas, tímbricas e espaciais, e as PMC passam com distinção.
A canção The Battle of Epping Forest, dos Genesis, começa com o rufar de um tambor de Phil Collins e o canto da flauta de Peter Gabriel, que de início se ouvem baixinho, bem lá ao longe, procurando (e conseguindo) emular sonoridades guerreiras. Aos poucos, tambor e flauta vão-se ouvindo cada vez mais alto, à medida que se aproximam de nós, juntando-se-lhes então o baixo de Mike Rutherford. O som começa por vir da esquerda baixa, depois, fruto da escolha do engenheiro de som, à medida que vai aumentando, acaba por se vir fixar lentamente no centro do palco. As PMC estiveram muito bem e garantiram de forma muito credível e holográfica quer a movimentação do som no palco, quer o crescendo sonoro associado, que acaba por rebentar com o início da batalha e com todos os músicos a tocar em simultâneo.
Comparação com as minhas Sonus Faber e com as Dynaudio
Como compararam as twenty5.24i com as outras colunas que tinha cá em casa, as minhas colunas de referência, as Sonus Faber Electa Amator II, e também as Dynaudio Contour 3.0 que por cá apareceram no final das audições? Pois muito bem. No cômputo global, diria que estive na presença de três grandes colunas. As Sonus Faber são conhecidas pela sua gloriosa gama média, pela sua imagem e palco, microdinâmica, e aqui saíram na frente. As PMC quase…quase se equivaleram, vindo depois as Dynaudio, a curta distância. Onde as PMC estiveram melhor que as Electa foi, sem dúvida no grave. Em contrapartida, nesta área as Dynaudio foram ainda melhores, apesar de nominalmente não chegarem tão baixo como as 24i: 30 Hz nas Dynaudio, contra 27 Hz das PMC (ambas a -3 dB, julgo). P ex., na faixa Burger’s Blues, de Puccini’s Café, de Jan Akkerman, as Dynaudio Contour 3.0 mostraram-se melhores que as PMC no grave. No início da canção, o baixo é pouco audível, mas as Dynaudio conseguem mostrá-lo, e fazem-no melhor que as 24i. O controlo do grave das Contour 3.0, possivelmente devido a se tratarem de umas colunas de 3 vias, e com caixa fechada, revelou-se um pouco superior aos das 24i. Em contrapartida, a gama média destas revelou-se-me mais fluida e natural que a da Dynaudio.
Na minha sala, de uma dimensão considerável (40 m2), as PMC mostraram uma óptima dinâmica e uma óptima escala, enchendo completamente o espaço, tal como as Dynaudio, com as Sonus Faber a ficarem logo atrás. As PMC acharam-na mesmo um espaço perfeito, sugerindo até que teriam capacidade de ir mais longe, se porventura a sala também o fosse.
O design complexo e elaborado das twenty5.24.i é a pedra angular para a obtenção de um grave profundo e poderoso, se bem que não seja o que há de melhor em definição; gaste o dobro, e tem boas probabilidades de encontrar melhor. Mas, não há que confundir: o grave que têm é bastante bom, e é a base para uma sonoridade global muitíssimo atraente. Além disso, os graves também permanecem equilibrados tanto a volumes mais altos como mais baixos. Isto garante um som homogéneo em todos os momentos, sem ênfase nem quebra nos graves, o que não é raro acontecer quando se baixa o som. Com esta sustentação, a bela gama média das PMC tem uma plataforma sólida para nos encantar, o que faz sem reservas.
Conclusão
Chegados aqui, já ficou claro que eu gostei muito do meu tempo com as PMC twenty5.24i. Que não gostaram nada de sair da minha sala. E eu… solidário com elas. Porque terei eu gostado tanto das 24i? Será da tecnologia da linha de transmissão? Será das aberturas laminares aerodinâmicas? Das unidades especiais criadas pela PMC? Será da construção soberba, ou da estabilidade aprimorada, ou ainda de qualquer outra coisa? Não consigo explicar. Mas sei que são colunas com as quais eu poderia viver feliz para sempre (bom… quase).
Comecei esta análise por dizer que, à partida, a grande proposta de valor das PMC twenty5.24i poderia aparentar residir no grave. Ora, se à partida era assim, devo dizer que, à chegada, estou certo de que a proposta de valor das PMC é muito mais do que isso. Então, mas… e o grave? Está lá ou não está? Está pois, e de que maneira. Só que, a acrescentar ao grave, tudo o resto está lá também, o agudo, o médio, o timbre, a dinâmica, a imagem, o palco, a transparência, enfim. É o todo que elas representam que vence. Acima de tudo, as 24i são muito musicais, puxando-nos para a música e ajudando-nos a perdermo-nos nela, mais ainda tendo em conta a sua dimensão e o seu preço intermédios.
Contudo, como é óbvio, não são as melhores colunas do mundo; e isto pode dizer-se da esmagadora maioria das suas rivais. Existem no mercado outras colunas muito capazes, de outras marcas, e até dentro de casa, da própria PMC, com soluções mais caras, e maiores, que oferecem mais contraste dinâmico, um grave mais controlado e mais autoridade. É (quase) tudo uma questão de física, com drivers e caixas maiores a serem capazes de fazer melhor nesses aspectos. E, no entanto, 24i são um verdadeiro desafio para colunas mais caras.
Pois, há essa questão da relação qualidade / preço. É um assunto delicado. Umas colunas relativamente modestas (em termos de dimensões e especificações) por 6894 euros podem ter uma boa relação qualidade / preço? Claro, haverá casos em que a resposta será não, mas, aqui sim, sem dúvida que as 5.24i têm um bom valor para o desempenho que oferecem. Também vêm com uma garantia de 20 anos, à qual, claro, se espera nunca precisar de se recorrer, mas que dá tranquilidade e mostra bem a confiança de que a PMC tem nos seus produtos.
Não sei se as PMC twenty5.24i são as melhores colunas na sua gama de preços; mas sei que a não-inclusão destas meninas na sua shortlist pode ser um erro de que poderá vir a arrepender-se mais tarde. Naturalmente, estas PMC merecem uma inquestionável recomendação.
Componentes utilizados
Fontes: Leitores de CDs: Meridian 506.24, NuPrime CDP-9 e Denon DCD A-110; Amplificação: Pré-amplificadores: Conrad Johnson PV-12 e CAT SL-1 Reference Mk2; Amplificador de potência: Conrad Johnson Premier 11; Colunas: Sonus Faber Electa Amator II, Dynaudio Contour 3.0, ProAc Response D-18; Cabos Interconnects: Analysis Plus Oval 9, Tara Labs Prism 55, Straight Wire LSI Encore, Analysis Plus Solo Crystal Oval, Kimber PBJ, Cardas Iridium. O meu gira discos Basis 1400 encontra-se parqueado, enquanto não se resolve o problema da célula Benz Micro Glider.
Colunas PMC twenty5.24i
Preço: 6 894 €
Representante: Ajasom
Telef. 214748709