Um palco versátil mas sempre preciso e adequado à circunstância, magníficos timbres, muita resolução, e ainda uma presença e pujança muito marcadas.
Fundada em 2016, a B.audio é uma marca francesa, da zona da Alsácia (de onde também é originária a Revival Audio), operada pelos irmãos Cédric e Sébastien Bermann, com o apoio do pai Gérard (infiro portanto que o B venha de Bermann). Com uma forte componente de inovação tecnológica (link: B.audio_tecnologia), como o patenteado processo SJR para remoção de jitter, o processo ASP, que implica o uso de circuitos completamente balanceados na préamplificação, ou o processo IOD, que reduz significativamente a distorção nos crossovers e melhora a linearidade do amplificador de potência, de acordo com a B.audio, a marca francesa, parafraseando Quentin Tarantino, tinha não só a minha curiosidade mas também a minha atenção.
A empresa conta com bastantes produtos, desde DACs (com e sem streamer), a préamplificadores (também com e sem streamer) e ainda a amplificadores de potência. E, aqui para teste, temos o “tudo em um” Alpha One - amplificador integrado, DAC e streamer, tudo numa só caixa. Vamos lá então por partes, a ver se eu consigo esclarecer o muito que faz este produto:
1) Como streamer o Alpha One conta com os protocolos UPnP, Open Home, LMS (actualmente apelidado Lyrion Media server, mas anteriormente conhecido como Logitech Media Server), NAA (do HQ Player), Roon, Airplay e, mais recentemente, Qobuz Connect (sendo necessária uma simples actualização com uma pen USB), sendo provável que mais serviços de streaming sejam adicionados. É ainda possível, usando uma pen com ficheiros de música, transformar o Alpha One num servidor UPnP/Open Home, controlado, por exemplo, com as aplicações Bubble UPnP/DS.
2) Como DAC, o Alpha One conta com uma entrada coaxial, duas ópticas, uma AES/EBU e uma entrada USB para computadores ou servidores - para além, claro, da entrada de rede RJ45 e da já referida entrada para pens USB. O chip usado não é especificado de propósito, embora seja um DAC do tipo Delta-Sigma - segundo os contactos que mantive com a marca, a escolha por este modelo deve-se ao facto de partilhar qualidades dos modelos R2R/NOS e dos modelos DSD/1bit e, na minha experiência, concordo a cem por cento: as actuais configurações Delta-Sigma são superiores aos modelos R2R e DSD (ambos demasiado aveludados para o meu gosto), não apenas sonicamente, mas também pelo que permitem fazer de DSP. A marca francesa garantiu-me que existe headroom digital suficiente no seu filtro de oversampling, não havendo espaço para intersample overs, um dos maiores «contras» dos DACs Delta-Sigma e que infelizmente, apesar de ser um problema de simplicíssima resolução, muitas marcas ignoram - outra excelente característica deste DAC é o isolamento galvânico de todos as entradas digitais, incluindo USB e Ethernet, o que também deveria ser «obrigatório» nesta gama de preço, mas muitas vezes não faz parte dos circuitos de DAC implementados, infelizmente. Portanto, temos uma secção de DAC irrepreensível do ponto de vista técnico.
3) Temos ainda disponível DSP na melhor qualidade possível, 64-bit (em modelo fixed-point, em vez de floating-point, para evitar erros de arredondamento, segundo a marca), com o uso de filtros paramétricos com controlo automático de ganho, o que liberta o utilizador de quaisquer preocupações com distorção no domínio digital. Para os que queiram usar tratamento acústico, é possível fazer medições com o programa Room EQ Wizard (REW para os amigos) e introduzir manualmente as alterações no igualizador do Alpha One (o que pode ser trabalhoso, se não se limitar as bandas no REW) - e, já agora, o DSP não está disponível nas entradas analógicas, dado que o Alpha One não contém ADCs no seu circuito.
4) O circuito de préamplificação conta com um controle de volume do tipo R2R, de longe o meu tipo preferido, que vai de -80 dB a +0 dB, com 64 «passos», e é completamente balanceado - se ligar uma fonte a este Alpha One e essa fonte também tiver saídas balanceadas, aconselha-se e muito o uso de cabos XLR, como fiz com o meu Eversolo A6 Master Edition Gen 2. O preço a pagar por esta tecnologia (R2R) é que o Alpha One é um amplificador algo «ruidoso» do ponto de vista mecânico, tanto nas alterações de volume como de entrada, o que sinceramente não me incomodou, mas poderá haver utilizadores mais sensíveis… A marca garantiu-me também que será possível, futuramente, ver a escala de volume em valores negativos de dB.
5) Para completar o pacote, temos um circuito de amplificação de potência, duplo mono e em Classe A/B, debitando120W a 8 ohm e 200 W a 4 ohm, o que deverá ser mais do que suficientes para a maioria dos altifalantes no mercado.
O Alpha One como streamer
Comecei esta parte do teste usando tanto o protocolo UPnP como o protocolo Open Home e ambos funcionaram sem problemas (e gapless) usando as aplicações Bubble UPnP e Bubble DS e o servidor MinimServer instalado num NAS. Aliás, depois do Audiolab 9000N, cujo software é fornecido pela Lumin, o Alpha One é o primeiro produto que testo que, de origem, funciona perfeito com ambos os protocolos (embora seja muito fácil adicionar Open Home a produtos que não o tenham, usando o Bubble UPnP Server). Também os protocolos Qobuz Connect e Roon, funcionaram, como de costume, sem falhas - não tive possibilidade de testar o HQ Player e o seu NAA desta vez, mas, tendo em conta que o Alpha One lê DSD em formato nativo (não tendo disponível o modelo do chip usado no Alpha One, acredito piamente na palavra da marca francesa), o HQ Player pode ser uma excelente ferramenta para todos os que prefiram DSD a PCM (não é o meu caso), sendo preciso notar que, com DSD, o uso de DSP implica a conversão do mesmo para PCM. No caso do Roon importa ainda indicar que é possível usar o Sample Rate Conversion até DSD256 em DSD e 352,8 kHz/384 kHz em PCM (32 bits), o que não é possível em todos os streamers - e gostei bastante dos resultados obtidos (já agora, no Roon o Alpha One não aparece como Roon Ready mas apenas como Roon porque Roon Ready implica que o DSP do Alpha One fosse controlado pelo próprio Roon, o que seria muito difícil de implementar; no entanto o protocolo usado é o mesmo do Roon Ready, RAAT, e funciona na perfeição).
O Alpha One como servidor
Não tendo espaço para um disco interno nem (por enquanto) aplicação própria, a B.audio arranjou uma forma, bastante bem esgalhada, diga-se, de contornar esse problema, ao criar um servidor UPnP/Open Home interno e uma entrada USB. Assim, basta colocar uma pen com alguns ficheiros na entrada USB, e, através de um aplicação como o Bubble UPnP ou o Bubble DS, é possível aceder a esses ficheiros no servidor disponível e pôr a tocar para o streamer interno do Alpha One, ou seja, o servidor e o reprodutor são o mesmo. O manuseamento da biblioteca é muito rudimentar, mas temos um excelente menu Now Playing para compensar e é um workaround muito simples enquanto a B.audio não tem aplicação e, para os que ouvem pouca música de cada vez, como eu, uma solução muito simples e elegante.