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KR Audio VA300

KR Audio VA300

8 março 2025

Um single-ended muito diferente dos outros


A KR Audio poderá não ser um dos fabricantes mais conhecidos do mundo do áudio de qualidade mas tem por detrás de si o nome de uma das pessoas que mais sabia de válvulas nos anos noventa. De facto, o Dr. Riccardo Kron, de origem checa mas que viveu desde os dois anos em Itália, embora tendo como base uma sólida formação musical, acabou por ir trabalhar durante largos anos num fabricante italiano de válvulas, rádios e televisores. Um contacto acidental, já no início dos anos noventa, como um engenheiro que estava num mercado de usados a vender válvulas, fez regressar a velha paixão e não levou muito tempo para que os dois em conjunto desenvolvessem uma nova válvula destinada especificamente a ser utilizada em áudio, baseada numa 300B mas fabricada com um cuidado extremo – basta ver que as 300B em uso na época tinham 28 peças internas, enquanto as 300B do Dr. Kron empregavam 128! O primeiro show onde a empresa então criada, a VAIC Company, foi o show de Milão de 1994. Quando as válvulas de um amplificador em demonstração, o qual usava 300B de fabricação convencional, foram trocadas pelas da VAIC toda a gente ficou de boca aberta com a qualidade musical dos temas reproduzidos, a enorme transparência, a energia imediata.

Foto 1 - KR Audio VA300

O Kronzilla está equipado com as imponentes válvulas T1610


Uma vez que as válvulas da KR eram bastante mais caras que o que havia no mercado e o nome do fabricante era totalmente desconhecido, a entrada no mercado foi bastante difícil e tomou-se então a decisão de desenvolver um amplificador que seria um, produto comercial mas tinha igualmente como objectivo promover as válvulas da KR. Para tal foi necessário investir na empresa, dotá-la de capacidades de produção e mudá-la para Praga. Esta ideia acabou por ser bastante eficaz e passado poucos anos já havia vários modelos de amplificadores KR no mercado, entre os quais o famoso Kronzilla que empregava as gigantescas válvulas T1610 e que eu tive o prazer de ouvir ser demonstrado pelo próprio Dr, Kron há mais de 25 anos. Infelizmente a saúde do mentor da KR foi gravemente afectada devido ao aparecimento de uma doença cancerosa em 1999 e ele acabou por falecer em 2002, tendo o projecto, agora sob o nome KR Audio, continuado pela sua esposa, Eunice Kron, juntamente com um engenheiro que entretanto tinha entrado na empresa, Marek Gencev. Os amplificadores da KR Audio têm recebido diversos galardões nos shows em que foram apresentadas e ainda por parte das revistas que os testaram, por isso foi com grande curiosidade que aceitei a sugestão por parte da Logical Design para testar o Antares VA300.

Descrição técnica


O Antares VA300 utiliza um chassis que é praticamente comum a todos os amplificadores da KR Audio: uma estrutura em aço, de altura relativamente reduzida, protegida na parte superior por uma chapa de aço inox sobre a qual assentam os componentes mais pesados e volumosos (ou que libertem mais calor, como as válvulas de saída). Neste caso temos ao fundo do chassis uma estrutura metálica que encerra no seu interior os transformadores de alimentação, logo em seguida duas caixas metálicas heptagonais que incorporam no seu interior os transformadores de saída, dois Lundahl de núcleo em C, encapsulados em resina para ficarem perfeitamente inertes a vibrações mecânicas e, bem à frente, as duas válvulas 300B protegidas por uma estrutura semiaberta que serve de dissipador de calor ao mesmo tempo protege de queimaduras as mãos de quem inadvertidamente toque nessa parte do amplificador. Naquilo a que poderemos chamar o painel frontal apenas temos um pequeno interruptor de pressão e um LED bicolor que sinaliza o estado de funcionamento: desligado, em aquecimento (vermelho) e em pleno funcionamento (verde). Este último estado só ocorre alguns segundos depois de termos premido o botão de ligação, para proteger as válvulas do aparecimento súbito da alta tensão antes de os filamentos terem aquecido o cátodo. Nas traseiras pouco há igualmente a destacar, apenas o estritamente essencial: ficha Schuko de entrada do sector com interruptor geral, duas fichas RCA para a entrada do sinal e quatro terminais WBT do tipo múltiplo para a ligação das colunas.

Foto 2 - KR Audio VA300

Abrir o VA300 não é tarefa fácil devido sobretudo ao seu peso e ao cuidado necessário para não danificar nada na estrutura.  Mas acabei por conseguir olhar para o interior do chassis e retira as conclusões principais, complementadas posteriormente pelas indicações do Eng.º Marek Gencev. Assim sendo, o circuito do VA300 é do tipo híbrido, combinando componentes de estado sólida nos andares de entrada e excitador com as válvulas como elemento de potência. A topologia de construção está muito próxima daquilo a que se chama duplo mono, sendo utilizados transístores JFET BF245B no andar de entrada, ao que me pareceu em configuração diferencial, seguidos de um MOSFT de potência 2 NK100Z, de canal N, o qual pode trabalhar com tensões até 1000 V. Cada um destes transístores ataca directamente, sem transformador e através de um condensador de polipropileno da Wima com 1 µF, a grelha de uma das 300B. Os filamentos das 300B são alimentados em corrente contínua para evitar a transmissão de qualquer ruído de alterna ao cátodo de aquecimento directo, estando este referenciado a uma tensão positiva em relação ao negativo (terminal comum) da alimentação de alta tensão, a qual, pelas curvas das 300B da KR Audio, me pareceu dever andar em volta dos 450 V, isto para uma corrente de repouso da ordem dos 85…90 mA para definir o ponto óptimo de funcionamento em classe A e manter a dissipação da placa razoavelmente abaixo do valor máximo de 50 W – não esquecer que a tensão real da placa é a diferença entre os citados 450 V e a tensão de polarização do cátodo, a qual deverá estar situada entre 85 e 90 V, valor este definido através de uma resistência de potência de 1 kΩ. A tensão dos filamentos está igualmente referenciada à alta tensão através de um divisor resistivo para garantir que não nos aproximamos do valor máximo da tensão ente cátodo e filamentos. Este valor não é especificado pela KR Audio mas anda normalmente muito perto dos 100 V na maioria das 300B. Não existe malha de realimentação global no VA300 e a impedância das colunas a serem ligadas pode estar entre 4 e 8 Ω. A impedância de entrada é de 47 kΩ, a resposta em frequência estende-se dos 20 Hz aos 20 kHz, -3 dB, e o peso indicado para este «menino» é de 38 kg, o que não facilita muito a sua movimentação.

Foto 3 - KR Audio VA300

Um temporizador situado numa placa de circuito impresso separada garante o arranque suave da tensão de alimentação e que a alta detenção de placa só é aplicada depois dos filamentos das válvulas terem um tempo razoável de aquecimento. Isto apesar da KR Audio assegurar um número de horas de funcionamento das suas válvulas bem superior ao habitualmente especificado pelos outros fabricantes. Ao mesmo tempo, e de uma maneira perfeitamente honesta, a KR Audio especifica uma potência de saída de 12 W por canal, quando já vi indicações de valores da ordem dos 20 W a partir de uma única válvula. Pode-se chegar a estes níveis mas aí a distorção é já bem elevada e a vida da válvula será bem curta, enquanto neste caso a distorção máxima indicada para 12 W de saída é de 3%, valor muito razoável em face da não-existência de malha global de realimentação. Este é um tema sobre o qual já se tem escrito tudo e mais alguma coisa, ou seja, qual a razão por que os fabricantes continuam a indicar a total ausência de realimentação quando isso não é pura e simplesmente possível a não ser em condições laboratoriais muito concretas? Se formos a ver bem, a presença da resistência de cátodo da 300B já provoca realimentação, uma vez que não tem qualquer condensador de desacoplamento. Eu por mim, em vez de «zero feedback» continuo a defender o termo mais correcto que é: zero global feedback. Mas o pessoal do marketing adora inventar argumentos que possam realçar as qualidades de certo produto e «feedback nulo» parece ser uma ideia bonita…


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