Um single-ended muito diferente dos outros
Audições
O VA300 foi inserido no meu sistema habitual, substituindo o amplificador de potência Inspiration 1.0, da Constellation, e tendo como fonte digital o Roon Nucleus Plus, alimentado pela fonte de alimentação Ferrum Hypsos, com o iFi Audio Pro iDSD como descodificador D/A e renderer de MQA (descodificação completa, isto para as poucas gravações MQA que ainda por aí existem) e, no domínio analógico, o gira-discos Basis com braço SME V Gold e cabeça Air Tight PC1 Supreme, sendo o prévio de gira-discos o Nagra CLASSIC Phono. As colunas teriam que ser as QUAD ESL63 Pro, que me pareceram (e acabou por verificar-se) ser uma combinação perfeita e os cabos de interconexão e coluna eram predominantemente da gama Select, da Kimber, com o AudioQuest Thunderbird ligado entre o iFi Audio Pro DSD e o prévio da Constellation. Na alimentação de sector pontuava a régua Vibex Granada Platinum, à qual ligavam todos os equipamentos electrónicos em uso, sendo o VA300 alimentado através do cabo Tiglon TPL-2000A. O Silent Power LAN iPurifier Pro, acompanhado pelo cabo de Ethernet AudioQuest Cinnamon, tomou conta das ligações à Internet.
Apesar de já contar com o facto de quase a 100% as QUAD 63 serem a combinação ideal para o VA300, não quis deixar de experimentar este amplificador com outras colunas, por mais que essas combinações possam parecer despropositadas a alguns. A ideia era pura e simplesmente de experimentar, sem conclusões preconcebidas, ouvir uma pouco de música sem me sentir preso a convenções. Assim, liguei ao V300 dois pares de colunas que à parida ninguém pensaria combinar com ele, nomeadamente as B&W 606 S3 e as Kef LS50, pela razão principal de que são colunas que conheço muito bem por tê-las ouvido vezes e vezes no sistema do Miguel Marques e mesmo, pontualmente, no meu. Claro que os primeiros comentários serão que as B&W são umas colunas muito «baratas» para o VA300 ou ainda de que as Kef LS50 são bem exigentes em termos de potência. Não coloco de lado nenhuma dessas apreciações, até porque, no caso das Kef LS50 ela é bem verdadeira – física é física e o crossover das LS50 pede níveis de energia que o VA300 não consegue fornecer, principalmente porque a impedância pode descer mesmo bastante. Primeira afirmação provada, e quanto á segunda? Pois nunca aceitei que o preço de um produto fosse um óbice absoluto para o seu desempenho e a combinação com as 606 S3 acabou por se revelar mesmo muito agradável, com timbres bonitos, uma bela imagem espacial e até mais graves do que eu poderia esperar à primeira vista. Tão agradável foi esta experiência que mantive as colunas da B&W por algumas horas, apenas pelo prazer de ouvir música.
Mas não quis fazer esperar mais as primas donas ESL63 e lá tive que proceder à dança das cadeiras que agora faz parte da minha logística de audição – retirar as Dyptique da posição de destaque, usando um carrinho de transporte feito de propósito para as mover e colocar no seu lugar as QUAD, nos suportes Arcici modificados, colocados sobre bases de granito.
Antes de mais, convém deixar aqui realçado que eu não sou totalmente isento no que se refere a testar um amplificador de baixa potência com saída single-ended, neste caso a válvulas. Não porque tenha alguma coisa contra as válvulas, antes pelo contrário, como muitos dos que me seguem sabem há muitos anos pois até construí vários equipamentos a válvulas, mas porque em termos profissionais torna-se difícil ter no meu sistema um amplificador que não seja o máximo possível universal pois por minha casa passam produtos de todo o tipo, incluindo colunas que podem ser bem difíceis de comandar. Mas o facto de ter do meu lado este óbice não impede que para gozo pessoal ou para combinar com as minhas QUAD ESL 63 Pro, um amplificador desde tipo não possa ser plenamente satisfatório, como acontece, aliás, com os Cary 805 Signature que tocam que é uma beleza com muitos tipos de colunas e até fazem uma parelha de elevado gabarito com as Diptyque 140 Mk2. Dito isto, e depois de ter ouvido o V300 tocar tão bem com as B&W 601 S3, muitas das objecções que poderiam restar do meu lado foram completamente postas de lado e pude assim dedicar-me de modo completamente descontraído e o mais isento possível a ouvir o amplificador da KR Audio.
E aquilo que posso dizer desde já é que oV300 é um daqueles amplificadores que em vez de fazer com que a música venha até nós, quase que faz com que a música nasça dentro de nós! Não é fácil de descrever mas tem a ver com o modo como a emoção que sentimos a ouvir músicas que bem conhecemos e das quais gostamos muito e essa emoção crescer dentro de nós quase que acompanhando o ritmos da música, salteando de lado para lado conforme os intérpretes ou os naipes destes e indo até um crescendo final que nos enche de maneira plena e muito agradável. Quase como se a música não tocasse nas colunas mas nascesse dentro de nós, o que nos reconforta de uma maneira plena. Mesmo ponto de vista rítmico, uma área em que os single-ended não costumam ser mestres, o V300 surpreende pois, sem darmos por isso, ficamos de um momento para o outro a bater o pé e a abanar a cabeça ao ritmo da música. Isto incluindo os casos em que ocorrem interacções ritmicamente complexas entre os vários naipes de uma orquestra, como nos diálogos das bruxas em Sonho de Sabath de uma Bruxa, da Sinfonia Fantástica, com David Zinman a conduzir a Sinfónica de Baltimore, e onde cada um dos intervenientes é reproduzido com uma precisão que nos causa espanto e que, mais uma vez, nos prende à música.
Nalguns casos as válvulas de saída podem ser as 842VHD, em vez das 300B.
Aliás, um dos aspectos mais importantes para se ter um bom sentido de ritmos de um sistema é a qualidade do grave, embora pareça estranho eu mencionar isto quando as QUAD ESL63 Pro são bem conhecidas por não conseguirem reproduzir graves com alguma intensidade. Mas talvez seja melhor explicar que, se bem que seja verdade que a maioria das músicas que se ouvem hoje em dia soa de maneira satisfatória sem ter uma boa fundação no grave, já no que refere a extensão tudo depende: um solo de contrabaixo, por exemplo soa muito bem nas QUAD porque o grave que sai é controlado, tonalmente correcto, intenso q.b., e cheio de ritmo, chegando a presença do grave mesmo a surpreender pelo «inesperado» como me aconteceu quando escutava A Dança dos Cavaleiros, de Romeu e Julieta, Opus 64, de Prokofiev, interpretada pela Orquestra de Câmara da Europa. E que imagem espacial eu pude quase ver no ar!
E é evidente que não podia faltar aqui uma menção a um dos meus géneros favoritos, o jazz. E nesse campo destaco a audição da faixa You Are Too Beautiful, de John Coltrane e Johnny Hartman, uma gravação da GRP que teve lugar nos estúdios Van Gelder. Basta dizer que quase fiquei «cismado» com o calor e a presença da voz da Hartman, sem qualquer de exagero na gama média-alta, e a perfeitíssima colocação das vozes e dos instrumentos no palco sonoro, como se eu estivesse sentado em frente do piano da McCoy Tyner ou do baixo de Jimmy Garrisson, ambos com uma ampla sensação de presença, sem absolutamente nada na frente deles. Uma bela interpretação, quer dos músicos, quer do VA300.
Conclusão
Afinal parece que existem amplificadores single-ended que fazem coisas capazes de deitar abaixo mesmo os preconceitos mais empedernidos. O KR Audio VA 300 é um desses pois, combinado com umas colunas relativamente sensíveis e que façam justiça quer ao seu palco sonoro luxuoso quer à beleza deslumbrante da gama média, sem esquecer que tem graves que nos surpreendem pela sua expressividade e poder, nos brinda com um cardápio de interpretações cheias de vida e emoção. E é assim que deve ser a música!
Amplificador de potência KR Audio Antares VA300
Preço 10 000 €
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