Uma suavidade de veludo a envolver um punho de aço ou, como o melhor pode ficar ainda melhor.
Embora não seja em termos absolutos um nome que anda nas bocas de todo o mundo audiófilo, a Pink Faun é uma fabricante que tem já 30 anos de presença no mercado e que tem lançado produtos dos mais variados tipos – leitores de CDs, amplificadores a válvulas, DACs e colunas de alto rendimento. Nos tempos mais recentes têm tido bastante sucesso com a linha de streamers, equipamentos construídos seguindo uma filosofia muito própria que os afasta daquilo que é usual encontrar no mercado, quer em termos de estrutura externa quer no que se refere aos conceitos de projecto, nomeadamente no que se refere às fontes de alimentação, área em que Jord Groen, o CEO e fundador da marca, é um dos grandes especialistas.
O equipamento a ser testado é o topo de gama da Pink Faun, o streamer 2.16 ultra e vinha equipado com uma placa USB opcional de saída, a Pink Faun ultra USB bridge. Vou então falar primeiro sobre a componente técnica, utilizando em grande parte a informação patente no site da Pink Faun, pedindo desde já desculpa pelo tamanho do texto, derivado principalmente do facto da marca, ao contrário da maioria dos fabricantes, fazer uma descrição completa e aprofundada dos aspectos técnicos, bem como de Jord ser de uma grande simpatia e estar totalmente disponível para clarificar qualquer dúvida. Vinte valores para a Pink Faun neste aspecto.
Descrição técnica
O Pink Faun 2.16 ultra é fabricado por encomenda e foi desenhado como se fosse um equipamento analógico, fugindo do mercado de massas, quase totalmente dominado por empresas que começaram no ramo da informática e dos computadores. Aliás a sua estrutura é modular, com algo como que uma placa-mãe de computador onde as várias placas encaixam e a cor externa pode ser preto ou alumínio escovado na cor natural. A solidez da estrutura e a presença de nada menos de três transformadores fazem com que o peso do 2.16 ultra seja superior a 30 kg, o que significa que não é de todo um equipamento que possa ser mudado de lugar facilmente num sistema de áudio.
O chassis maquinado numa fresa controlada por computador (CNC) incorpora compartimentos blindados, soluções de gestão de calor e de controlo de vibrações. A utilização de um chassis interno e externo dedicado para o 2.16 ultra permite montar todas as peças da fonte de alimentação, do sistema de arrefecimento passivo e do hardware nos locais ideais sem alterar o design exterior. Uma parte única do design do chassis é a base metálica interna com um conjunto de furos hexagonais onde assenta a placa-mãe, sobre a qual são montados todos os componentes críticos, para eliminar a transferência de toda e qualquer vibração. A espessura das diversas partes deste chassis é bastante elevada: parte superior e inferior 5 mm, painéis frontal e traseiro 10 mm. Outra novidade importante no design do 2.16 ultra é que o chassis interior possui um compartimento de blindagem dedicado para o relógio Pink Faun Ultra OCXO. O clock e o circuito de saída do mesmo são totalmente blindados e desacoplados do chassis interno do 2.16 ultra.
A fonte de alimentação foi concebida seguindo o princípio único de ligação em estrela das massas e da terra, denominado “Star-Light”. Meticulosamente refinado, o design Star-Light foi elevado a um novo nível de desempenho no 2.16 ultra. Mais de 30 anos de experiência combinada em design e desenvolvimento de fontes de alimentação acumularam-se numa fonte de alimentação ATX ULN-FT (ruído ultrabaixo, transitório rápido) totalmente linear e arrefecida passivamente (nada de ventoinhas) através de dois imponentes dissipadores colocados nas partes laterais da caixa. Utilizando níveis de corrente mais reduzidos e separados para as diversas alimentações reguladas, os loops de corrente são agora mínimos e principalmente locais, o que também reduz a propagação da EMC dentro do 2.16 ultra.
Para manter a fonte de alimentação estável, livre de ondulações e com baixo ruído, o 2.16 ultra utiliza três transformadores bobinados de acordo com as especificações da Pink Faun. Os díodos Schotcky rápidos, são combinados com um grande banco de condensadores de baixa ESR com mais de 800 000 µF e bobinas de cobre de grande pureza, resultando numa alimentação de energia semelhante a uma bateria muito estável, mas limpa, para os circuitos reguladores de baixo ruído. Além disso, também é utilizada uma fonte de supercondensadores de 5 milhões de µF que proporciona ao módulo de relógio Pink Faun Ultra OCXO excelentes níveis de desempenho. Os supercondensadores possuem uma elevada densidade de energia, permitindo uma rápida entrega e absorção de corrente, ideais para cenários que exigem uma rápida descarga e recarga de energia. O ciclo de vida prolongado dos supercondensadores garante fiabilidade para utilização a longo prazo. Além disso, a sua baixa resistência equivalente série (ESR) melhora o desempenho e a eficiência globais, minimizando as perdas de energia durante os ciclos de carga e descarga.
Uma das partes mais importantes do 2.16 ultra é o mencionado relógio proprietário Ultra OCXO. O Ultra OCXO tem uma especificação de ruído de fase extremamente baixa (perto de -135 dB a 10 Hz de offset para uma frequência de 25 MHz), resultando daí um jitter extremamente baixo. Um OCXO extremo como o Pink Faun Ultra OCXO é apenas metade da solução para eliminar o jitter. A forma como o OCXO é implementado é tão importante como a qualidade do próprio OCXO. Para tirar o máximo partido do Ultra OCXO a Pink Faun desenvolveu o módulo ultra OCXO. O módulo Ultra OCXO contém um conjunto de circuitos de regulação de tensão de ruído ultrabaixo e está completamente desacoplado do chassis e totalmente blindado.
O hardware cuidadosamente seleccionado para o 2.16 ultra garante uma reprodução perfeita de todos os formatos de áudio com baixa latência e sem recurso a buffers e tem como base uma placa MSI MAg B550 Tomahawk modificada – a MSI produz placas mãe de elevadas prestações e altamente reputadas entre os que gostam de construir os seus computadores, principalmente os amantes dos jogos. A CPU AMD Ryzen 5900 de 12 núcleos / de 24 threads (a maioria dos núcleos processam duas tarefas em simultâneo) permite que todas as tarefas sejam cuidadosamente divididas e atribuídas a diferentes partes do sistema operativo, bem como ao software de reprodução de música. O sistema completo opera a partir de 32 GB de RAM ECC, permitindo o armazenamento local de ficheiros de música e ficheiros de serviços online como Qobuz ou Tidal na RAM para estarem totalmente disponíveis no início da reprodução.
O facto de o streamer descarregar os ficheiros de áudio para a memória interna antes de começar a reprodução faz uma diferença enorme, não só na capacidade de percepção de pequenos detalhes como no facto de se evitarem os pequenos soluços que são cada vez mais frequentes na reprodução de música por streaming, mesmo quando se utilizam ligações à Internet de alto débito, por fibra óptica, com velocidades de 500 Mb/s ou 1 Gb/s. As operadoras começaram muito bem quando lançaram estes serviços que tinham indubitavelmente mais-valias mas não adaptaram os equipamentos de distribuição da rede ao enorme aumento do fluxo da dados resultante da utilização maciça das plataformas de streaming tais com Netflix, Amazon Prime, YouTube, etc. O subdimensionamento de estruturas é um problema recorrente e parece não haver solução para ele, pelo menos cá no nosso burgo!
A BIOS (Basic Input/Output System) de uma placa-mãe é um software de baixo nível que permite ao sistema operativo comunicar com o hardware do seu computador. A configuração da BIOS tem um enorme impacte na musicalidade de um servidor de música baseado num computador. No primeiro arranque de um novo sistema, a BIOS funcionará nas “definições de fábrica” padrão (leia-se: não optimizadas). Embora estas definições padrão permitam resolver sem problemas a maioria das tarefas diárias num computador, não são suficientemente boas para gerir o hardware para reprodução musical de alta-fidelidade. Daí a razão para a Pink Faun utilizar uma BIOS desenvolvida pela marca. É possível fazer upsampling internamente no 2.16 ultra mas eu prefiro sempre que, caso seja utilizada esta capacidade, ela seja implementada no DAC. Do mesmo modo, o 2.16 ultra incorpora controlos de tonalidade, para os que têm necessidade ou apreciam este tipo de igualização.