Um degrau acima na evolução da espécie
Voltando aos escanções e críticos de vinhos, eles conseguem, com um muito razoável grau de aceitação entre pares, traduzir as suas apreciações nos diversos parâmetros que definem através de valores numéricos. No caso do áudio já obtivemos mesmo muitas tentativas de fazer algo de semelhante mas caíram todas por terra devido a um vasto conjunto de factores: pouca precisão na definição dos parâmetros de avaliação, inconsistências entre avaliadores, interesses comerciais e assim por diante. Temos então que continuar utilizando uma avaliação meramente subjectiva, na maior parte dos casos individual, dos equipamentos em teste, o que tem as suas vantagens e os seus méritos mas apresenta um óbice evidente que é facto das avaliações serem mais ou menos aceites em função da credibilidade de quem as faz. Pode-se argumentar, com um elevado nível de validade, que quem comete muitos erros de avaliação perderá mais tarde ou mais cedo a sua credibilidade mas como alguém que teve a sua formação no campo das ciências exactas, não deixo de sentir que poderá ser possível definirmos um dia uma escala de avaliação quantitativa, seja através de valores numéricos, escalões alfabéticos, seja por qualquer outro método ainda por descobrir.
Deito o intróito, passemos então àquilo que realmente interessa, ou seja, ao modo como as 160 MkII se comportaram em comparação com as 140 MkII e mesmo, num vislumbre retroactivo, o que é que elas poderão ter ganho em relação às primeiras DP 160. Uma das coisas que visualmente chama logo a atenção é o posicionamento dos tweeters em relação ao painel principal: nas 160 MkII o tweeter está relativamente mais abaixo do que nas 140 MkII e isso seguramente terá a ver com a diferença de 20 cm na altura das duas colunas, garantindo-se assim uma reprodução equilibrada não só em termos de resposta em frequência como de recriação do palco espacial.
E tenho que dizer desde já que, numa primeira análise as diferenças entre as duas versões MkII não são da noite para o dia: aquilo que posso dizer é que, não necessariamente apenas como resultado da impressão visual resultante das dimensões superiores, as 160 MkII têm um grave ligeiramente mais «imponente», mas que isso apenas se nota numa ou outra peça musical tal como uma Sinfonia Fantástica na Marcha para o Cadafalso, ou uma Sagração da Primavera, nos grandes crescendos musicais em que se tem uma sensação de escala um pouco mais intensa em termos de poder dinâmico. Para géneros menos exigentes dinamicamente aí as diferenças, se é que existem e não são apenas recriadas pelo nosso cérebro, serão praticamente imperceptíveis, havendo por uma ou outra vez uma ligeira sensação de um palco sonoro um nadinha mais amplo em termos de profundidade e largura e de uma presença mais intensa de um ou outro instrumento musical que liberte mais energia na zona do grave e do médio/grave. Estas são as conclusões a que cheguei na minha sala de audição que tem proporções muito correctas em termos da «regra dourada» mas cuja área é de apenas 19 m2. Não tenho dúvidas de que quando colocarmos ambas as colunas na sala principal da casa com dimensões normalmente bem mais generosas, digamos entre 30 e 40 m2, aí as 160 MkII irão seguramente fazer valer os seus argumentos de maneira mais intensa e fazer pender a balança mais para o seu lado.
Tal como as DP 160 já tinham feito sentir quando as testei há pouco mais de um ano, todas as grande qualidade de uma coluna de painel estão presentes nas 160 MkII, mas agora com uma maior solidez, uma grande uniformidade e uma absoluta segurança, resultado do reforço estrutural, a qual faz com que os transientes de maior energia sejam apresentados de maneira mais rápida e com um conjunto de componentes dinâmicas mais completo e coeso. Apenas como um exemplo, menciono aqui a audição da apaixonada interpretação de Yevgeny Kissin do Concerto para Piano, de Schumann, com a Filarmónica de Viena a ser dirigida por Carlo Maria Giulini. Um verdadeiro gozo de audição, é o mínimo de posso dizer, com as mãos de Yevgeny a voarem ágeis e ao mesmo tempo suaves sobre o teclado do piano e a orquestra, sabiamente dirigida por um maestro com o qual se está a identificar completamente, a definir variações quase infindáveis em termos micro e macro dinâmicos. O impacte emocional é imediato e leva-nos a momentos inesquecíveis principalmente quando do 3.º andamento com trocas de presença permanentes em termos de evidência musical entre piano e orquestra. È um daqueles casos em que ficamos com uma memória indelével de um equilíbrio raramente conseguido entre a grande beleza da peça musical, a magnífica interpretação do pianista e da orquestra, e a perfeita reprodução por parte das Diptyque. De tirar o chapéu, ou melhor, de nos pormos em pé e bater palmas!
Com o texto já vai bem longo, deixo aqui apenas mais uma descrição das excelentes impressões de audição das DP 160 MkII Trata-se do álbum Tony Bennet/Bill Evans que foi reeditado pela Mobile Fidelity e pela Analogue Productions. A voz de Tony Bennet apareceu-me perfeitamente focada entre as duas colunas, ligeiramente avançada em relação a elas, com as sibilantes perfeitamente reproduzidas, bem como os sons mais profundos das cordas vocais. O diálogo entre um Bill Evans e um Bennet bem jovens é de uma enorme beleza, com um Young and Foolish pleno de significado em cada nota musical e a extensão de voz de Bennet quase a causar arrepios de pele de galinha. O momento mais alto deste álbum é a canção We’ll Be Together Again, plena de romantismo e com Evans a colocar na música toda a sua mestria em breves improvisos de grande nível interpretativo. A boa música merece realmente os melhores intérpretes e as Diptyque sentiram-se como peixe na água nesta companhia.
Conclusão
E, por mais longo que esteja este texto, esta é uma parte que não pode faltar. Há realmente um muito ligeiro salto em termos de poder dinâmico, de sensação de escala, entre as 160 MkII e as 140 MkII, e ainda mais fortemente em relação às DP 160 de que tanto gostei em Abril de 2023. Em salas de dimensões razoáveis essa diferença é seguramente uma mais-valia que irá fazer pender a decisão do eventual interessado para as 160 MkII mas num espaço mais acolhedor como é a minha sala dedicada apenas em algumas circunstâncias essa mais-valia foi perceptível. Mas claro que sou um caso especial, não só por ter uma sala dedicada como por me «dedicar» a testar equipamentos, o que coloca exigências que não são tão significativas para o audiófilo mais normal. Portanto, que não fiquem dúvidas, a versão MkII da DP 160 é uma senhora grande coluna, com uma expressividade dinâmica que ultrapassa bem a das 160 normais, uma capacidade de envolvimento musical que nos prende por horas e horas de música e uma filigrana de detalhes que traz até nós mesmo as mais ínfimas variações na estrutura musical de uma obra. Mais um grande trabalho da dupla Gilles Douziech e Eric Poix.
Colunas de painel Diptyque DP 160 MkII
Preço 22 900 €
Representante Ultimate Audio