Um degrau acima na evolução da espécie
Audições
As DP 160 MkII foram inseridas no meu sistema habitual, formado pelo conjunto de electrónica Inspiration 1.0, da Constellation, tendo como fonte digital o Roon Nucleus Plus com o iFi Audio Pro DSD como descodificador D/A e renderer de MQA (descodificação completa) e, no domínio analógico, o gira-discos Basis com braço SME V Gold e cabeça Air Tight PC1 Supreme, sendo o prévio de gira-discos o Nagra CLASSIC Phono. As colunas eram as Diptyque DP 140MkII, e os cabos de interconexão e coluna eram predominantemente da gama Select, da Kimber, com o AudioQuest ThunderBird ligado entre o iFi Audio Pro DSD e o prévio da Constellation. Na alimentação de sector pontuava a régua Vibex Granada Platinum, à qual ligavam todos os equipamentos electrónicos em uso, sendo o amplificador de potência da Constellation alimentado através do cabo Tiglon TPL-2000A.
As DP-160 originais foram testadas há cerca de um ano.
Desta vez tive como principal acrescento ao meu sistema os dois amplificadores de potência Cary 805 Signature que já estavam comigo para aí há 20 anos mas precisavam de uma renovação completa quer na electrónica quer na pintura. A Ajasom tratou do assunto e o resultado foi pura e simplesmente espectacular pois para além de ficarem como novos em termos estéticos, os 805 têm uma sonoridade soberba, muito ligeiramente para o quente mas com um som claro e bem vivo como não é fácil encontrar num amplificador a válvulas. Os seus 50 W foram suficientes para as DP 140 MkII que tocaram de maneira soberba com detalhes, espacialidade e timbres de morrer, mas, como eu já esperava, não puseram as DP 160 MkII a tocar como eu sabia que elas podiam fazer. Portanto, depois desta gratificante experiência, tive que voltar para o Constellation Inspiration para poder obter resultados possíveis de comparar entre as duas colunas. E digo isto desde já porque penso que a muitos dos interessados pelas colunas da Diptyque irá colocar-se a mesma questão que eu coloquei no início deste teste: como é que escolho entre as 160 e as 140? O tamanho não é assim tão diferente, a amplificação de potência que dá para uma dá para a outra e assim por diante.
De um modo resumido, vou aqui deixar uma vez mais as impressões de audição que me ficaram quando do teste das DP 140 MkII e que foram mais que confirmadas ao logo dos quase 6 meses que elas residiram na minha sala: uma coerência notável ao longo de toda a gama audível, níveis de SPL bem intensos, com graves daqueles que nunca mais se esquecem depois de ouvir uma vez, mas tudo isto combinado com uma ampla espacialidade e uma apresentação diáfana, suave e bela da música.
Antes de avançar com as minhas notas de audição das DP 160 MkII, gostaria de fazer aqui um pequeno intróito que, mesmo ao fim de tantos anos de exercício das funções de «revisor crítico de áudio», como os meus amigos brasileiros costumam designar o meu métier, me parece de grande importância.
Considero eu que seira interessante haver, tal como há para os vinhos, um conjunto de adjectivos que permitissem descrever com bastante rigor as propriedades e o nível de performance de um equipamento de som.
De facto, os escanções e críticos de vinhos têm à sua disposição termos tais como: adstringente, taninoso, bom constituído, carnudo, acidulado, vivo, gordo, untuoso, que se mastiga, ácido, fresco, frutado, balsâmico e assim por diante. E estes são apenas alguns dos termos que retirei de um precioso livro que recentemente me foi oferecido – O Gosto do Vinho, de Émile Reynaud e Jacques Blouin, pois há pelo menos outros tantos lá perfeitamente definidos e definidos em grupos ligados aos nossos sentidos: visão, audição e olfacto.
Pelo lado do áudio, claro que há termos que vêm a ser utilizados e aceites por quase todos os que gostam de áudio mas o seu enquadramento e a percepção com que se fica depois de os ler é sempre algo impreciso. Pensemos, por exemplo, na transparência, logo de propósito escolhida por ser aquela característica que tem sido alvo de mais debate e mesmo de alguma incompreensão. Pode ser aplicada quer a um equipamento quer ao som que ouvimos a partir de um sistema mas daí a conseguirmos todos entender-nos em volta daquilo que quem utilizou o termo queria dizer vai uma grande distância.
Uma das definições para este termo é a de que transparente aplicado a um equipamento significa que ele reproduz o som com bastante precisão e não acrescenta muito mais. Quando é bom é limpo e preciso, quando é mau é um pouco estéril ou tem um som pequeno. Para outros, transparência significa ouvir a música tal como ela teria soado no estúdio no momento da gravação, sem que qualquer dos elementos de um sistema lhe introduza qualquer coloração. Para outros ainda, um som transparente é aquele que se destaca das colunas e tem montes de detalhe. E assim por diante…
Fácil será concluir que não existem definições cem por cento precisas para termos que contêm em si uma importante dose de subjectividade. Tomemos apenas como mais um exemplo o termo coloração. Para muitos significa que o equipamento ou o sistema alteram de qualquer forma o som original, muitas vezes através de níveis subtis de distorção. Outros ainda vão mais para a definição que implica que os elementos atrás indicados tornam o som mais cheio, com alguma dose de compressão, ou com falta de detalhe. Já um som aberto será aquele em que se ouvem com grande clareza as frequências médias e agudas, embora esta seja uma definição muito redutora porque deveria incluir igualmente que os graves deverão ser limpos e arejados, pois uma má reprodução dos graves pode fazer com que estes de algum modo se vão imiscuir nos sons graves e agudos e «sujar» o som em geral.