Um segundo balanço com os melhores discos de jazz de 2024, depois do primeiro feito em Julho.
Out of/Into - Motion I (Blue Note)
Este novo supergrupo, que surgiu para celebrar os 85 anos da Blue Note, chama-se agora Out of/Into e acaba de lançar o seu primeiro disco, um dos melhores deste ano. O pianista Gerald Clayton (filho do famoso contrabaixista John Clayton, que tem tocado nas últimas décadas com Diana Krall) é o principal cérebro por detrás deste grupo, que conta ainda com os experientes Matt Brewer (contrabaixo) e Kendrick Scott (bateria), e os young lions Joel Ross (vibrafone) e Immanuel Wilkins (saxofone alto). Não sendo um jazz melódico ou fácil de ouvir, é muito recomendável para ouvidos mais aventureiros (e aproveito para colocar links para os discos de 2024 de Joel Ross e Immanuel Wilkins, ambos na Blue Note - recomendado também a audição dos anteriores, muito fáceis de descobrir no Qobuz).
https://open.qobuz.com/album/s86t8qbp2wlpa
Marc Copland - Dreaming (Innervoice Jazz)
O pianista Marc Copland é um daqueles músicos que merecia sem dúvida maior destaque e reconhecimento (será certamente um dos melhores compers do jazz actual, com uma sofisticação harmónica notável). Neste último Dreaming junta-se com os velhos comparsas Drew Gress e Mark Ferber, no contrabaixo e na bateria, respectivamente, aos quais se junta Robin Verheyen nos saxofones tenor e soprano (repetição do grupo e da editora do também muito recomendável Someday (2022), do qual também disponibilizo link). Bem gravado, talvez com uma estética mais tradicional do que este grupo poderia sugerir, Dreaming é fácil de ouvir, apesar de ser música sofisticada e complexa.
https://open.qobuz.com/album/mhdiz5vfcwnyc
Samara Joy - Portrait (Verve Records)
Há muito tempo que não aparecia uma cantora como Samara Joy - uma espécie de descendente directa de Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan ou Carmen McRae. O muito sucesso que tem tido é merecidíssimo e creio que ficará na história como uma das grandes cantoras deste género. Neste Portrait, surge pela primeira vez com uma formação mais alargada, com vários sopros, para além da tradicional secção rítmica de piano, contrabaixo e bateria, a interpretar principalmente standards do cancioneiro norte-americano, embora «roube» alguns temas a outras origens ou latitudes - se pensar que reconhece No More Blues, é na realidade a versão em inglês de Chega de Saudade, de António Carlos Jobim (Samara Joy teve o infelizmente raro bom gosto de evitar cantar em «português», ideia que mais cantoras «gringas» deviam copiar, evitando as tão comuns e sofríveis versões de temas de Jobim num português deplorável). Se gosta de jazz cantado e tradicional, é imperativo conhecer Samara Joy.
https://open.qobuz.com/album/xshrbu4l6gcha