Plenitude tecnológica e música «ao natural»
Audições
O H400 foi inserido no meu sistema habitual, substituindo o conjunto de electrónica Inspiration 1.0, da Constellation e tendo como fonte digital o Roon Nucleus Plus, alimentado pela fonte de alimentação Ferrum Hypsos, e, no domínio analógico, o gira-discos Basis com braço SME V Gold e cabeça Air Tight PC1 Supreme, sendo o prévio de gira-discos o Nagra CLASSIC Phono. As colunas eram as Diptyque DP 140MkII, que me pareceram (e acabou por verificar-se) ser uma combinação perfeita e os cabos de interconexão e coluna eram predominantemente da gama Select, da Kimber. Na alimentação de sector pontuava a régua Vibex Granada Platinum, à qual ligavam todos os equipamentos electrónicos em uso, sendo o H400 alimentado através do cabo Tiglon TPL-2000A. O Silent Power LAN iPurifier Pro que testei recentemente e ficou por cá, acompanhado pelo cabo de Ethernet AudioQuest Cinnamon, tomou conta das ligações à Internet.
Como já atrás expliquei, optei pela ligação directa por USB do Roon Nucleus+ ao H400, não só por ser aquela em que existe uma transferência mais imediata de dados digitais como por eu utilizar o Roon há tantos anos que me é imediato perceber qual a contribuição do equipamento em teste para os resultados finais. Os ficheiros de música provinham quer do Qobuz quer do meu NAS.
Logo nas primeiras audições o H400 pareceu-me ágil, notavelmente articulado e timbricamente neutro, com o grave a fundir-se facilmente com a gama média numa teia sonora de perfeita uniformidade, até porque a passagem para o registo agudo também não apresenta descontinuidades. Tudo preparado, fui olhar para as minhas playlists no Qobuz (são algumas), a pensar em algo que funcionasse sem grandes compromissos, já que gosto de me sentir descontraído nas primeiras audições, ou seja, sem me sentir «intimado» a tirar notas logo de imediato, ouvindo só pelo prazer de ouvir.
Mas o H400 é que não estava pelos ajustes e, embora eu fizesse um esforço muito grande para não ir buscar o bloco de notas, foi-me de todo impossível esquecer essas primeiras indicações de audição. De facto, em face da expressividade vocal de Elizabeth Schwarzkopf a interpretar um lieder de Richard Strauss, quem pode ficar indiferente?
E isto com um cabo de ligação de sector perfeitamente convencional, já que quando mudei para o Tiglon TPL-2000A tudo avançou mais uns furos, muito em especial no que se refere a limpidez sonora e a amplitude e focagem em termos espaciais: o palco sonoro ficou ligeiramente mais profundo e amplo lateralmente e, ao mesmo tempo, o que não é feito fácil, a focagem melhorou sensivelmente, com cada intérprete e / ou instrumento a ver a sua posição definida de modo muito mais seguro e absoluto, quase mesmo como que recortada em relação às harmonias instrumentais que o rodeavam, quer provenientes dele próprio quer dos restantes participantes na execução. Em equipamentos deste nível, mais ainda que noutros, é de extrema importância fazer algumas experiências com o cabo de alimentação até se optimizar o som final do sistema.
Por vezes diz-se que determinados equipamentos são de tal modo bons que reflectem para o outro lado tudo o que neles entra, tornando-se pouco tolerantes com conteúdos de menos qualidade, melhor dizendo, que não estejam ao seu nível. Outros são mais «compreensivos» e perdoam alguns Os aspectos ligados com o timing da musica, situação a que sou bastante sensível, ficaram bem em evidência na magnifica gravação da 5.ª Sinfonia de Tchaikovsky, interpretada pela Cyril Ornadel Orchestra. E muito fácil a reprodução de um obra sinfónica ver os seus «defeitos» apresentados, transportando para o ouvinte uma versão mais suave e de algum modo dourada do original, ou noutras vezes seca e árida, caso a combinação das áreas do digital e do analógico não seja feita de maneira perfeita. Noutros casos, os seus aspectos temporais são alterados e, quando isso acontece, o fluir da música fica lento, sem graça, parece que os intérpretes estão a pensar noutra coisa qualquer e estão ali a fazer um grande frete. Quando tal ocorre numa reprodução ao vivo, como é evidente, por razões diferentes, então é um verdadeiro martírio, pois temos que ficar ali a assistir sem poder fazer nada.
Pois o H400 parece conseguir um equilíbrio quase perfeito: a naturalidade é omnipresente, a dinâmica sempre notada quando necessário, mas nada é feito de modo ostensivo, antes faz parte de um todo completo como é muito difícil encontrar igual. A interpretação desta obra, tal como de diversas outras que ouvi reproduzidas pelo H400, foi levada a cabo com um rigor tal que fazia com que cada som saísse no momento certo, não só em relação àquilo que nós poderíamos esperar em face do nosso conhecimento da música a ser interpretada, como em relação ao som dos restantes instrumentos ou vozes participando na actuação. Daqui resulta uma fluidez natural, um ritmo quase matemático, uma vontade, que leva muitas vezes à acção, de bater o pé que nos arrebata e faz participar na audição com um entusiasmo contagiante.
Voltando outra vez aos temas clássicos, na audição da Fantasia Coral, de Beethoven, na qual posso destacar uma interpretação primorosa de Helène Grimaud ao piano, este instrumento aparece posicionado no palco sonoro com um enquadramento quase de régua e esquadro em relação à orquestra. A sonoridade do piano possuía um misto de plenitude e de ternura, combinadas com o poder e a técnica mais que suficientes para nos fazer sentir que temos o instrumento ali na nossa sala sempre que fechamos os olhos. Ao mesmo tempo, a orquestra apresenta-se com uma sonoridade limpa e arejada, com uma excelente diferenciação entre os diversos planos sonoros e com uma energia avassaladora e imediatista sempre que temos um crescendo.
Num outro género, Happy Hour, de Ted Hawkins, demonstra de modo evidente as grandes capacidades deste músico de Nova Orleães, embora não seja fácil reproduzir as canções deste bluesman, devido à riqueza tímbrica das gravações e à excelente qualidade de gravação da etiqueta Rounder. A voz e as guitarras, sejam estas a guitarra principal ou o baixo, são realçadas com uma palpabilidade assinalável, graças à capacidade mais que evidente do H400 para ir buscar o mais pequeno detalhe de gravação e colocá-lo no sítio exacto e perfeito, não só em termos temporais como no que tem a ver com o grau de importância desse detalhe para uma perfeita reprodução do som do instrumento / intérprete, desde a fricção dos dedos nas cordas ao vibrar destas nas várias zonas do braço da guitarra e de acordo com a posição dos dedos nos diversos trastes. Vale a pena ouvir este enorme intérprete, mas vale muito mais a pena ouvi-lo com o H400 a tomar conta da situação.
Conclusão
Por vezes pode-se ter a ilusão que o H400 coloca uma ligeira suavidade nas vozes e instrumentos. Mas esse é um acto efémero porque a sensação de audição é sempre de uma enorme naturalidade, de uma beleza quase etérea, combinada com uma velocidade de «movimentação» em termos dinâmico que nos deixa quase sem fôlego. Logo, não há suavidade, há sim uma enorme naturalidade e uma ausência de qualquer tipo de compressão, muito mais do que já ouvi em qualquer dos equipamentos Hegel que já testei. No que se refere a controlo das colunas aí então não há dúvida nenhuma porque o H400 agarrou nas Diptyque, colocou-as «no sítio» e partir daí deixou que elas debitassem música como fazem com poucas electrónicas – os sons eram líquidos, o palco sonoro amplo em todos os sentidos, os graves de uma segurança quase impávida e extensos até mais não.
Este é um dos grandes amplificadores integrados que temos no mercado. Quem puder que o agarre até porque «colheitas» destas só aparecem em anos muito seleccionados, assim como acontece, por exemplo, com o Barca Velha.
Amplificador integrado Hegel H400
Preço 6995 €
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