Plenitude tecnológica e música «ao natural»
Nos tempos que correm, com as casas e os equipamentos nelas contidos a serem cada vez mais «inteligentes», lançar um amplificador integrado que se limite a incluir o conjunto normalizado de prévio e amplificador de potência já não é suficientemente apelativo para a maioria dos consumidores. Por outro lado a verdadeira pletora de botões e comutadores que noutros tempos enchiam o painel frontal, o que nos obrigava a consultar um manual que por vezes tinha centenas de páginas num único idioma, deixou igualmente de atrair alguém, nos tempos em que muitos sistemas de áudio estão agora ligados ao resto do mundo, controlados por telefones e tablets. A simplicidade é a norma, e presença de um conversor D/A, ou mesmo de um streamer, no interior de um amplificador tornou-se mesmo um dos mais importantes meios de se conquistar adeptos para o mundo da alta-fidelidade.
Sendo a Hegel uma das primeiras empresas do mundo dos especialistas a aplicar as capacidades dos seus engenheiros de pesquisa e desenvolvimento no domínio digital, mal ficaria se o seu mais recente amplificador, que eu tive o privilégio de ouvir ainda em protótipo durante o último High-End show de Munique, não fosse um das coisas mais modernas, e bem sonantes, claro, que se pode comprar. Fica assim feita de maneira sucinta a apresentação do H400, o amplificador integrado que é a razão principal para o texto que se segue. Mas, antes de entrar nos detalhes que esmiúçam o seu desempenho sonoro, convém saber um pouco mais sobre os aspectos tecnológicos.
Análise técnica
O nome de código interno do H400 é Streamlined (aerodinâmico) e do ponto de vista exterior ele faz bem jus a essa designação – tem uma caixa elegante, embora muito sólida, e o painel frontal é do mais simples que há: dois botões e um mostrador alfanumérico na posição central. À primeira vista parece faltar o interruptor de ligar / desligar mas este está situado na parte inferior do chassis, em posição central, com o seu funcionamento em termos de desligar espelhado no controlo remoto. A Hegel diz que a razão para esta pouco convencional colocação do interruptor deriva do facto de pretender um painel frontal o mais limpo possível e deste modo evita-se a presença de mais um comutador. O mostrador indica qual a fonte que está a ser reproduzida, o nível de volume (0 a 100, com os valores mais altos a equivalerem a um nível sonoro mais elevado) e, para fontes digitais e de streaming, a taxa de amostragem.
O H400 substitui o H390, tendo agora uma plataforma de streaming melhorada, um sistema de controlo baseado numa aplicação, um novo DAC, uma «cara» mais bonita com cantos arredondados e melhor ventilação, novos botões de volume e selecção de entrada «com melhor toque» e teclas para utilizar o menu de definições, também acessível pelo comando sem fios totalmente em metal.
O novo amplificador integrado da Hegel oferece uma gama abrangente de entradas analógicas e digitais, garantindo uma compatibilidade perfeita com diversas fontes de áudio. Com detecção automática de sinal activo em qualquer entrada, o H400 reconhece instantaneamente as fontes de áudio digitais ligadas e muda para a entrada correcta, eliminando a necessidade de selecção manual. P além deste único par de entradas XLR balanceadas, o H400 oferece duas entradas não balanceadas por RCA. No caso das saídas, existem duas ao nível da linha, ambas por RCA, uma sujeita ao controlo de volume do H400 (uma verdadeira «saída de préamplificador»); a outra tem um nível fixo, permitindo a combinação com processadores de cinema em casa e dispositivos multiroom.
O painel traseiro do H400 tem uma estrutura relativamente «limpa», já que não está cheio de conectores. Para além de ficheiros de áudio digitais por streaming, o DAC pode receber e converter sinais digitais de fontes locais através de três ligações ópticas TosLink e duas ligações coaxiais S/PDIF, uma por RCA e outra por BNC. Uma ficha USB Tipo B permite a ligação a um computador ou a um servidor externo de áudio através de um cabo USB padrão. Uma característica invulgar é a presença de um conector de saída digital BNC “DAC Loop”, que, segundo o manual do utilizador, “possibilita actualizar as entradas digitais do amplificador com um DAC externo de ponta”, ligando-o à saída digital, que tem redução de jitter ,e ligando a saída analógica desse DAC externo às entradas XLR no H400. Este ciclo de sinal é activado utilizando o ecrã monocromático do painel frontal e a estrutura de menu inerente, premindo a tecla Source ou utilizando o controlo remoto. Os terminais de coluna são do tipo múltiplo e aceitam ligações por fio nu, forquilha ou bananas de 4 mm. Não há saída para auscultadores e não há possibilidade de adicionar um pré-amplificador de phono internamente – pura e simplesmente não há espaço livre.
O interior do H400 ilustra imediatamente a sua estrutura duplo mono com uma simetria absoluta entre tudo o que é amplificação analógica entre os lados esquerdo e direito do chassis, e a secção digital a concentrar-se num circuito impresso situado junto da parte traseira.
Destacam-se também os 3 transformadores toroidais, um de potência bem volumoso com pelo menos 800 VA, com enrolamentos múltiplos que se destinam a alimentar de modo independente os andares de amplificação de tensão e o de saída, e dois bem mais pequenos, embora também com vários enrolamentos secundários destinados a alimentar os circuitos de tratamento digital de sinal, de selecção de entradas e de préamplificação e controlo, incluindo o mostrador alfanumérico.
Existe um circuito de inicialização suave da alimentação, com uma resistência de potência de 22 ohm, a qual fica ligada em série com o transformador principal no momento da ligação do amplificador e um relé que a curto-circuita, retirando-a do circuito, ao fim de alguns segundos. Isto para suavizar o pico de corrente que ocorre inevitavelmente quando se liga um transformador toroidal de elevada potência aos 230 V da tensão do sector.
A rectificação da tensão de alimentação faz-se localmente nas placas de circuito impresso dos amplificadores de potência, existindo um total de 4 condensadores de 10 000 uF/60 V por canal. As pontes rectificadoras são em número de quatro, duas de potência e duas para correntes mais reduzidas, isto por canal. 4 pares de transístores japoneses de potência em caixa TO3 plástica, montados directamente sobre o dissipador de calor asseguram a disponibilização de até 250 W por canal a 8 Ohm. A tecnologia SoundEngine 2 torna o H400 energeticamente eficiente, consumindo o mínimo de energia e proporcionando um desempenho de alto nível. Esta tecnologia e a funcionalidade de espera automática do amplificador (desliga ao fim de um certo período de tempo sem sinal na entrada), reduzem o desperdício de energia e o impacto ambiental sem comprometer a qualidade do som.
A área digital é gerida por um SOC Amlogic A113X,que utiliza uma CPU ARM, controlado pela aplicação Hegel Control. O DAC é baseado num chip ESS Sabre ES9038Q2M e na arquitectura Hyperstream II, proprietária da Hegel, com correcção de jitter integrada. No painel traseiro existe um conector Ethernet RJ45 padrão, sem antenas. A decisão de manter a rede sem fios fora do chassis do amplificador foi tomada por uma questão de desempenho sonoro – a existência de uma antena vai originar a transferência de muito ruído de alta frequência para os circuitos. O chip da Amlogic, combinado com um gate array da XMOS suporta o Spotify e o Tidal Connect e permite o acesso a uma colecção de música existente na rede local através do protocolo UPnP. Podem ainda ser utilizados os protocolos de comunicação Apple AirPlay e o Google Chromecast, mas não existe conectividade Wi-Fi ou Bluetooth. Recentemente o H400 recebeu a certificação Roon Ready.
O circuito responsável pela atenuação de volume “tem muito em comum com aquele que se encontra no P30A e no H600, embora não atinja o mesmo padrão que estes”, segundo Bent Holter, CEO e fundador da Hegel. O P30A utiliza um sistema de controlo com roda codificadora que encaminha o sinal para as resistências apropriadas, seleccionadas de acordo com a posição do botão de volume. A Hegel não desvenda qual é exactamente a topologia utilizada no H400, mas acrescenta que se trata de um circuito de precisão, originalmente desenvolvido para equipamentos de medições em alta frequência, funcionando numa tecnologia totalmente analógica, pelo que não há redução da qualidade do sinal.
O H400 está optimizado para a simplicidade, suportando plataformas de streaming populares como AirPlay, Spotify Connect, Roon Ready, Tidal Connect, Google Cast e UPnP. Além disso, a aplicação Hegel Control oferece controlo de volume e de entrada, bem como acesso a rádio na Internet, podcasts e reprodução de servidores de multimédia, melhorando a experiência geral do utilizador. Quer esteja a reproduzir a nossa playlist favorita ou a explorar novos podcasts, o H400 torna tudo mais fácil e agradável. Ao tempo da realização dos testes, a aplicação da Hegel não conseguia ainda controlar o Qobuz, devido ao facto do Qobuz Connect estar neste momento na fase Beta de testes (a Audio e Cinema em Casa é um dos participantes nesses testes), não se sabendo ainda qual o momento em que ficará disponível ao público em geral.
O funcionamento com o Apple AirPlay é muito prático mas a resolução do streaming fica limitada a 16 bits /44,1 kHz e acrescenta uma camada de complexidade, porque o telefone ou tablet não está apenas a controlar a reprodução; faz a interface com os servidores do Qobuz, captura o fluxo de dados digitais, converte-o para a resolução de CD e depois transmite-o por Wi-Fi para a rede local, após o que é entregue por Ethernet ao H400. Esta complexidade aumenta as probabilidades de dropouts e não é seguramente uma garantia da melhor qualidade possível.
A melhor opção em termos de streaming estará então em volta do Roon ou pode ainda assentar no recurso a uma vasta gama de aplicações que funcionam pelo protocolo UPNP, tais como a Symfonium, a Bubble, a MinimServer e várias outras, dependendo do sistema operativo do dispositivo de controlo. No meu caso optei pela ligação directa por USB ao Roon Nucleus+ e tudo funcionou às mil maravilhas.
O controlo remoto totalmente em metal incorpora os controlos de reprodução / pausa e a faixa anterior / próxima faixa para utilização em streaming. Tem ainda uma função que permite utilizar o controlo remoto da TV para controlar o amplificador, tornando a sua configuração de entretenimento doméstico mais intuitiva e fácil de utilizar.
Especificações técnicas
Potência de saída - 2 x 250 W a 8 Ω / 1kHz, 1% THD, 100/120/230 V AC, Dual Mono
Impedância de carga mínima - 2 Ω
Entradas analógicas - 1 balanceada (XLR), 2 não balanceadas (RCA)
Saídas digitais - 1 coaxial (BNC) S/PDIF 24 bits/192 kHz
Entradas digitais - 1 coaxial BNC (S/PDIF 24 bits/192 kHz, DSD64 (DoP), MQA 8x); 1 coaxial RCA (S/PDIF 24 bits/192 kHz, DSD64 (DoP), MQA 8x); 3 ópticas (S/PDIF 24 bits/96 kHz, MQA 8x); 1 USB (32 bits/384 kHz, DSD256 (DoP), 8x, 1 Ethernet RJ45 (24 bits/192 kHz, DSD64 (DoP), MQA 8x)
Saída ao nível da linha - 1 fixa, não balanceada (RCA); 1 x variável não balanceada (RCA)
Serviços de streaming/áudio digital - Spotify Connect, Tidal Connect, Google Cast, AirPlay, rádio e podcast por Internet, UPnP. É Roon Ready.
Formatos aceites: MP3, WAV, FLAC, ALAC, AIFF, DSF, DFF, AAC, PCM, MQA, Ogg
Resposta em frequência - 5 Hz a 180 kHz
Relação sinal/ruído – superior a 100 dB
Diafonia - inferior a -100 dB
Distorção - inferior a 0,005% a 50 W/8 Ω/1 kHz
Distorção de intermodulação - inferior a 0,01% (19 kHz + 20 kHz)
Factor de amortecimento – superior a 4000
Dimensões incluindo pés - 15 cm x 43 cm x 44 cm (AxLxP),
Peso unitário de 20 kg