Áudio e cinema em casa numa excelente e versátil combinação
Feitas as apresentações, passemos então às audições - e aqui a primeira boa surpresa é que o MA710 é muito simples de usar, bastou ligar à rede, fazer as habituais actualizações e tudo começou a rolar, através do protocolo UPnP (que, como mencionei acima, é gapless, fundamental para música clássica ou discos ao vivo). A segunda boa surpresa, embora não inesperada num amplificador do tipo receiver, é a presença de igualização, que se revelou mais uma vez muito útil, como iremos ver mais à frente - apenas a ausência de uma saída de auscultadores me pareceu incomum para este tipo de produtos.
Comecei então as minhas escutas com dois discos do colectivo de jazz MTB (Mehldau Turner Bernstein), que, como o nome indica, é composto pelo pianista Brad Mehldau, pelo saxofonista tenor Mark Turner e pelo guitarrista Peter Bernstein. O primeiro disco, Consenting Adults (16 bits/44,1 kHz, 1994, Criss Cross), conta com Larry Grenadier no contrabaixo e com Leon Parker na bateria, e, no segundo disco, Solid Jackson (24 bits/96 kHz, 2024, Criss Cross), Bill Sterwart substitui Leon Parker. E, se as primeiras impressões foram positivas, notei algum excesso de leveza nos graves - nada que um acréscimo de 3 dB na equalização do MA710 não resolvesse facilmente (algumas medições parecem indicar que essa leveza está de facto lá, embora seja de realçar que o comportamento in room vai ter sempre grandes variações). E, a partir daqui, tudo soou bem: transientes suaves, agudos presentes mas sem agressividade, e um grave mais presente e equilibrado com as restantes frequências - com particular destaque para o percussivo som de piano de Brad Mehldau em Solid Jackson.
Passei em seguida para o clássico de punk dos NOFX, Heavy Petting Zoo (1996, 16 bits/44,1 kHz, Epitaph Records) - aqui refiro-me ao punk californiano dos anos 90, mais melódico e comercial, com bandas como os NOFX, os Green Day, os Offspring ou os Bad Religion, e não ao movimento punk dos anos 70, mais áspero e anti-sistema, com bandas como os Sex Pistols ou os Ramones. Música muito rítmica e energética, o conjunto JBL consegue tocar esta música com bastante força e sem embrulhar os diversos instrumentos uns com os outros, o que por vezes acontece nestes discos. Nota-se aqui (mais do que notei com o jazz) um som um pouco mais “escuro”, que creio poder ser do agrado de bastantes leitores - não são colunas muito reveladoras nos agudos como, por exemplo, as B&W 606 S3, tendo um som menos presente nesse espectro, sem que tal signifique ausência de clareza ou definição.
Para concluir, escolhi o disco Plays J.S. Bach, do guitarrista canadiano Maxim Cormier (da bonita ilha de Cape Betron) - que, como o nome indica, incide sobre a obra do compositor alemão. Cormier tem a peculiaridade de tocar peças de música clássica (aqui, tecnicamente, barroca) não com uma guitarra de cordas de nylon e o uso dos dedos, como é quase obrigatório, mas com guitarras de cordas de aço e o uso de palheta para atacar as cordas, o que é uma raridade (e uma blasfémia, para muitos), ou até mesmo uma estreia no (fechado) mundo da guitarra clássica - é algo que certamente fará muita gente corar de indignação. Para os menos puristas, a abordagem de Cormier retira um pouco do peso e do som antiquado que algumas interpretações da música de Bach podem ter, e trazem uma lufada de ar fresco a um mundo que há muito precisava de uma. Bem gravado (gaba-se a ausência de desnecessárias reverberações adicionais, que tantas vezes comprometem estes discos), foram um bom teste ao sistema JBL - para ver se este sistema conseguia reproduzir música mais sofisticada e delicada. E conseguiu, sendo que algum do som mais “escuro” que senti no disco passado, aqui não se revelou - com toda a clareza da guitarra de Maxim a surgir sem quaisquer obstáculos, inclusive os fortes transientes que a palheta provoca (em comparação com os dedos) - achei particularmente impressionante o realismo do timbre da guitarra. Também as dinâmicas são bem reproduzidas, com os picos de ambos os espectros da gama dinâmica a soarem fiéis - tudo isto tendo em conta, claro, a gama de preço que estamos a analisar.
Como nota final, usei um Volumio Motivo ao longo destes testes, um produto algo acima, em termos de preço, deste sistema JBL - e fui alternando entre o protocolo UPnP do MA710 e o do Motivo. Naturalmente, o Motivo apresentou melhorias audíveis em relação ao MA710, com mais definição e presença em todas as frequências, e maior sensação de resolução - mas a secção digital do MA710 aguentou-se muito bem e creio que será preciso chegar perto da gama do Motivo para se notarem diferenças significativas na secção digital.
E, por falar em gama de preços, nesta em que estamos a tratar, todos os sistemas têm prós e contras e há escolhas que os engenheiros que desenham estes produtos têm inevitavelmente que fazer. Tendo analisado os dois produtos em conjunto, fica mais difícil perceber essas escolhas - mas a JBL apresenta aqui um conjunto muito interessante para áudio, que tem a versatilidade de se poder converter com muita facilidade num sistema de cinema em casa. Talvez já tenha ouvido amplificadores ligeiramente mais musicais apenas para áudio, e as colunas precisaram sem dúvida de uma ligeira equalização nos graves, mas poucos sistemas oferecerão o muito que este sistema oferece por este preço - com o MA710, particularmente, a oferecer streaming de boa qualidade sonora e excelente implementação a nível de software. Mais um sistema muito interessante e que deve ser considerado por todos os que buscam uma solução compatível com áudio e cinema em casa a um preço acessível.
JBL MA710 e Stage 250B
Preços
MA710 1099 €
Stage 250B 499 €
Representante Sarte Audio