O futuro do passado para as salas de hoje
Já certamente notaram que o futuro do passado (quer dizer, a ideia de futuro que tinham no passado) parece sempre tão ultrapassado como o próprio passado? Basta pensar em futuros como os que nos são apresentados em filmes como o Star Trek ou a série de TV, Space: 1999. O mesmo não acontece com visões do futuro em que o futuro encerra um regresso ao passado como no filme Dune (de David Linch) ou na série Into the Badlands. Portanto, o truque para conceber um futuro plausível e durável é fazê-lo parecido com o passado. Este ovo de Colombo parece ser do domínio público dos fabricantes de áudio, de que modo nada existe de mais moderno do que novos lançamentos de equipamentos que retomam velhos sucessos das marcas ou equipamentos que não retomam nada do passado, mas que apresentam um look vintage.
Vem isto a propósito das colunas monitoras que couberam em teste, as Vintage 5 da Fyne Audio.
A Fyne Audio foi fundada em 2017 por ex-colaboradores da Tannoy. Entre eles o ex-director de engenharia da Tannoy, Paul Mills, o actual director técnico da Fyne. Desde há muito tempo que a equipa de Mills tem estado na vanguarda do design de altifalantes. Na Fyne, a equipa de Mills optou pelo estilo retro, pretendendo torná-lo atemporal e, portanto, futurista no sentido que expliquei acima.
A Fyne tem uma óptima reputação audiófila, mas com equipamento de preço relativamente elevado. A Vintage 5 são uma tentativa de ampliar o seu apelo a um maior número de bolsas. Estava interessadíssimo em experimentá-las e a seguir comunico as minhas impressões.
Descrição
As caixas das Vintage 5 são invulgares esteticamente. São o tipo de colunas que seria de esperar num clube de cavalheiros britânicos, frequentado por lords com bigodes encerados. São realmente um paradigma de sofisticação: folheado de nogueira, incrustações em nogueira natural, acabamento de metal anodizado dourado e base como a de um plinto egípcio. E depois, na parte inferior do painel frontal, um manípulo lindíssimo que regula a “presença”.
As Vintage 5 são umas colunas monitoras de estante com as dimensões de 350 x 219x 260 mm (AxLxP) com o peso de 6,2 kg (cada). A caixa é feita de condensado de madeira de bétula e com os acabamentos acima referidos, com pormenores incríveis como as pegas das grelhas de cada coluna, a qualidade das entradas dos cabo de coluna e até com uma entrada para a ligação de terra.
As Vintage 5 são colunas de 2 vias com pórtico reflex virado para baixo e usam uma unidade de accionamento único, ou seja, um sistema de fonte pontual onde o condutor de graves/médios compartilha um centro comum com o tweeter. A intenção é a de que, ao convergir na mesma direcção, o som seja produzido como se emanasse de um único ponto no espaço, proporcionando um alinhamento de tempo superior em todo o espectro de frequência de áudio e imagens estéreo, mesmo fora do eixo de referência. Os sistemas de fonte pontual podem apresentar problemas de distorção de intermodulação ou o efeito de Doppler (em que o tom muda com a distância da onda sonora). Mas a Fyne desenvolveu tecnologias dedicadas para ultrapassar tais desvantagens.
Os graves são reproduzidos por um amplo cone difusor BassTrax Tractrix que transforma as ondas sonoras numa frente esférica de 360 graus, mantendo sempre um ângulo de 90 graus em cada intersecção da frente de onda em expansão, num esforço para evitar os tais efeitos atrás mencionados e criar uma resposta coerente de graves. Estas técnicas fazem com que as Vintage 5 sejam muito pouco exigentes em termos de posicionamento na sala. A potência de amplificação recomendada é de 30 a 100 Watt RMS, o máximo de potência acomodável é 200 Watt e a potência contínua acomodada é de 50 Watt. As Vintage 5 têm uma sensibilidade muito razoável de 87dB (2.83 Volt @ 1 m) e impedância nominal de 8 Ohm, com uma frequência de resposta de 46 Hz a 38 kHz (-6 dB numa sala normal). O driverduplo é implementado através de uma unidade activa IsoFlare point source com um cone de 125 mm para os graves e médios, e um tweeter de compressão com cúpula de magnésio de19 mm e membrana FyneFlute, sendo o sistema magnético baseado num íman de neodímio. O crossover é passivo, sem possibilidades de bicablagem, com uma topologia de 2ª ordem nos graves, sendo a dos agudos de 1ª ordem, e uma frequência de corte de 1,9 kHz e sofre um tratamento criogénico depois de estar acabado. O célebre manípulo de presença cobre a gama de frequência de 2,5 kHz a 5 kHz com uma capacidade de reforço / atenuação de ±3dB.