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B&W 606 S3

B&W 606 S3

Miguel Marques

21 outubro 2024

A música soa integral, única e intimamente ligada.


Ainda no jazz, passei para o disco Little Big III (2024, Blue Note, 24 bits/96 kHz) do pianista Aaron Parks, acabado de sair e que, como o nome indica, representa o terceiro disco da sua banda Little Big, projecto muito inspirado na música electrónica e no rock - longe, portanto, do jazz a que muitos estão habituados. Novamente, a primeira característica que chama a atenção é a presença e definição dos graves, tanto no baixo eléctrico (por contraponto ao contrabaixo do disco anterior) como nos bombos da bateria - com a ausência de instrumentos de sopro, os agudos continuam a soar presentes mas não tanto como na trompete do primeiro disco. Foi também um excelente disco para analisar espacialidade e escala - e as 606 S3 transmitiram uma boa sensação de escala, mostrando ser muito camaleónicos nesse departamento. Já o palco, consegue ser expansivo, mas já ouvi palcos mais profundos, quer em largura, quer em profundidade… Como gosto de palcos mais contidos, mesmo nestes estilos mais dados à espacialidade, isso foi do meu agrado - o que se perde em palco, ganha-se em coesão em foco. Nota final: quando os instrumentos fizeram uso de efeitos estéreo, com o som a saltar entre as duas colunas, as 606 mostraram-se surpreendentemente competentes a “espelhar” este efeito de panning.

Foto 4 B&W - 606 S3

Mudando para a música clássica, resolvi ouvir desta vez o quarteto de cordas Quatuor Modigliani, com o seu disco dedicado à música do compositor austríaco Franz Schubert (2022, Mirare, 24 bits/192 kHz) - uma excelente oportunidade para ouvir a prestação das 606 S3 no departamento das dinâmicas, que se revelou muito mais do que suficiente para o que as peças de Schubert precisaram, com bons contrapontos entre as passagens mais fortes e as passagens mais calmas (nesta gama, não se pode pedir mais). Os agudos, que com os metais se podem revelar excessivos em algumas ocasiões, soam particularmente definidos e detalhados com as cordas, mostrando que a música de índole mais acústica (ou seja, tocada por instrumentos sem amplificação para além dos microfones necessários para a sua captação) é onde as 606 S3 soam melhor. Nota final para um facto curioso: as 606 S3 soam muito bem, e bastante presentes, a volumes muito baixos, o que não acontece com todas as colunas…

Se há um estilo onde nunca senti que as minhas 606 originais soassem muito inspiradas, esse estilo é o rock - o que nunca me incomodou particularmente, por ser relativamente raro ouvir. Mas estava curioso para saber se estas 606 S3 marcavam aqui alguma diferença, e decidi ouvir o disco Use Your Illusion II (1991, Mobile Fidelity, 16 bits/44,1 kHz), dos famigerados Guns N Roses, provavelmente a última grande banda de rock. Não é um disco muito bem gravado (embora esta edição da Mobile Fidelity seja superior a outras), mas achei que as 606 S3 voltaram a marcar boas diferenças face às originais - nomeadamente terem mais corpo nos graves e mais coesão entre todos os instrumentos e gamas de frequência. Voltei-me depois para o disco Dookie (1994, Reprise, 24 bits/192 kHz) dos Green Day, uma gravação que conheço muito bem e que ouvi aqui na sua (recente e remasterizada) edição de 30 anos de aniversário - com as 606 S3 a revelarem uma boa combinação de energia e clareza na sua apresentação. De qualquer forma, sinto que as B&W brilham mais no mundo do jazz, da clássica ou do unplugged que do rock, como já sentia nas 606 originais, embora se notem melhorias muito substanciais neste estilo face às originais.

Foto 5 B&W - 606 S3

As B&W têm sido colunas com um trajecto curioso - depois de alguns anos em que eram até famosas por serem mais “neutras”, nos últimos anos a direcção tem sido a de desenhar colunas com uma resposta mais em V ou U, ou seja, com graves a agudos mais presentes e com menos corpo nos médios. São também colunas que não costumam, mesmo nos seus modelos mais caros, ter medições irrepreensíveis como tantas vezes acontece, por exemplo, com as KEF - mas, no entanto, são das colunas que mais desafiam a importância dessas mesmas medições, como explicarei a seguir. Se olharmos para as especificações destas 606 S3, elas indicam uma resposta de frequência nos graves de -3 dB a 52 Hz, o que não é particularmente impressionante (e as medições de Andrew Robinson, no seu canal de YouTube, confirmam estes valores). Existem várias monitoras que, no papel, batem os graves destas 606 S3 - mas não na prática. Como diz o ditado, qualidade não é quantidade, e, se as 606 não atingem uma profundidade impressionante nos graves, os graves que têm são dos mais controlados e definidos que já ouvi neste gama de preço, não deixando no entanto de serem presentes e até bastante encorpados, um balanço muito difícil nesta região de frequências (e nesta gama de preço). E, sim, continua a haver um ligeiro dip entre os 2 kHz e os 4 kHz que retira um pouco de corpo aos médios, e continuamos também a ter agudos uns bons dB acima do neutro (embora o novo tweeter suavize, e muito, este acréscimo de agudos). Mas, como por vezes também acontece com algumas pessoas, são estas “falhas” que dão as 606 S3 uma personalidade tão cativante e sedutora - apesar de não serem colunas tecnicamente irrepreensíveis, tive quase sempre um prazer enorme quando as ouvi, voltando ao tal adjectivo, “musicais”. E há outra característica, talvez até a mais marcante destas colunas, que é a profunda coesão de todo o espectro de frequências (para a qual contribuirão certamente a maior proximidade entre os altifalantes e as melhorias na rigidez da caixa) - apesar de terem algumas acentuações e algumas quebras em certas zonas de frequências, perfeitamente audíveis para ouvidos treinados, soam incrivelmente coesas, não se sentindo nunca, como acontece com outros produtos, que diferentes frequências vêm de sítios diferentes… Os discos soam integrais, únicos e intimamente ligados.

Foto 6 B&W - 606 S3

A escritora Elizabeth Strout escreveu a maravilhosa frase “Whenever I don’t know what to do, I watch what I am doing.” no seu livro Oh, William - propondo assim que o nosso inconsciente sabe melhor o que nós queremos do que o nosso consciente. Como se aplica este princípio à alta-fidelidade? É simples, e no entanto parece-me que muitos se esquecem: a alta-fidelidade é um meio e não um fim - o fim é ouvirmos mais música e daí retirarmos mais prazer, e é para isso que compramos produtos deste “passatempo”. E, tenho dado por mim, nos últimos tempos a perceber que há produtos que me levam, inconscientemente, a ouvir (ainda) mais música e outros que, podendo ser excelentes produtos, não me motivam tanto a sentar-me e a desfrutar de música. Ora, esse é, de longe, o melhor elogio que posso fazer a estas 606 S3 - desde que aqui tive a fantástica combinação do Audiolab 9000N com o Rose RA280 e com as Monitor Audio Studio 89 (um sistema de 10000 €, no total…) que não dava por mim a ouvir tanta música! Fica então uma entusiástica recomendação, a todos os que buscam umas monitoras neste segmento e que não se importam de ter algum excesso de energia dos agudos - e que queiram também passar mais tempo a ouvir música e menos tempo a pensar em equipamentos.


Colunas B&W 606 S3
Preço 1000 €
Distribuidor B&W Group Spain