O charme alsaciano
Comecei então o meu teste acompanhado de um integrado da Cambridge Audio, o CXA81 V2, e de um streamer MXN10, da mesma marca. Logo nas primeiras notas notei aquela que é talvez a melhor qualidade destas Atalante 3 - a espacialidade, com um dos maiores palcos que já ouvi até hoje em colunas deste tamanho / preço (e numa sala maior que a minha, imagino que aumente ainda mais). Decidi então começar pelo disco Tourist (2000, 24 bits/96 kHz) do músico francês St Germain, um dos maiores clássicos do nu jazz/acid jazz - e as Atalante apresentaram um palco massivo, e que se adequa na perfeição a este estilo de música. Para amantes de música electrónica, não ouvi ainda melhor nesta gama de preço… Excelente destaque para o stereo panning, com as trocas constantes entre as duas colunas mas com as Atalante a nunca perderem o foco da imagem central.
No domínio do rock decidi dedicar-me ao clássico Wish You Were Here (1975, 16 bits/44,1 kHz), dos britânicos Pink Floyd, aqui na sua edição Mastersound Gold - antecipando que a primeira parte do épico Shine On You Crazy Diamond (dedicada ao ex-membro da banda, Syd Barrett) se adaptasse particularmente bem ao palco das Atalante 3. E não me enganei - a etérea introdução soa magnífica com estas «monitoras», com um palco muito grande, tanto em largura como em profundidade, e com as cordas soltas da guitarra de David Gilmour a ecoarem por toda a sala. Mesmo depois da entrada da bateria e com a passagem para um estilo mais rock e menos espacial, as Atalante aguentaram sempre muito bem a energia dos Pink Floyd, com excelentes timbres e transientes em todos os instrumentos, e com as nuances e texturas das vozes a serem reproduzidas fielmente.
Passei depois para o conceituado maestro letão Andris Nelsons, que actualmente dirige a Orquestra Sinfónica de Boston e com a qual tem gravado, de forma prolífica diga-se, para a prestigiada Deutsche Grammophon. Escolhi o disco Bruckner (Symphonies Nos. 1 & 5), Wagner (Tristan und Isolde Prelude & Liebestod) (2022, 24 bits /96 kHz), para ouvir a primeira faixa, o Prelúdio para o Acto I da ópera Tristão e Isolda, provavelmente a minha peça preferida de música clássica (tecnicamente, romântica). Magnificamente gravada (a Deutsche Grammophon tem aliás conseguido manter padrões de qualidade de gravação no digital impensáveis no analógico, basta ouvir as gravações actuais e comparar com as antigas, o que só prova que os preconceitos com o digital são neste momento pouco mais que um capricho), as Atalante revelaram até ao mais ínfimo pormenor a (genial) música do controverso Richard Wagner, mostrando aqui uma nova qualidade a adicionar às já mencionadas: uma excelente capacidade de reproduzir dinâmicas, dos pianos aos fortes, passando pelos mezzos. Mantiveram-se a alargada sensação de palco, o que numa orquestra desta dimensão se revela portentoso, e a mesma clareza, a permitir ouvir todas as vozes de forma individual.
Para concluir, ouvi o disco de jazz da pianista canadiana Kate Wyatt Artifact (2022, 16 bits/44,1 kHz), um disco muito mais intimista - um quarteto de jazz com trompete e secção rítmica de piano, contrabaixo e bateria. E as Atalante voltam a mostrar que clareza e palco são as suas duas grandes forças e, como já escrevi muitas vezes, se eu pessoalmente prefiro palcos mais contidos nestas formações, sei perfeitamente que muitos audiófilos gostam sempre de apresentações «grandes» e as Atalante 3 são únicas nesse aspecto. Também nos graves senti um comportamento diferenciado - são colunas mais no lado lean do que no lado encorpado dos graves, o que se traduz num baixo definido mas com uma presença mais subtil, o que traz sempre uma grande clareza a todo o resto do espectro sonoro - sendo que aqui o comportamento da minha sala e das fontes precedentes terá também tido a sua influência… Mas já tinha tido uma vez o prazer de fazer uma escuta prolongada das Atalante 5 e tinha ficado exactamente com a mesma impressão: são colunas de enorme claridade, com graves que nunca tomam conta da sala. Tudo o resto (timbre, transientes, detalhe), esteve irrepreensível enquanto as Atalante tocavam este disco de jazz, sendo particularmente bonito o som da trompete de Lex French (um nome a ter em atenção para quem siga o mundo do jazz).
Como já escrevi mais vezes, não creio que estes testes sirvam para eu dizer se gosto ou não de um produto - todos os audiófilos, a partir de um certo ponto, sabem do que gostam e não gostam, e isso retira objectividade a um texto como este. Para mim, o objectivo destas escritas é explicar aos leitores quais as características que cada produto tem e para que tipo de ouvinte esse mesmo produto melhor se adequa - e no caso das Atalante isso vai para os ouvintes que valorizam clareza e espacialidade acima de tudo o resto. Se está nesse campo, as Atalante reproduzem escala de uma forma que só tinha ouvido ate hoje em sistemas bem mais High-End - com o custo inevitável de perderem alguma intimidade que por vezes um trio de piano ou um cantautor em formato solo requerem. Também a inexcedível claridade que apresentaram em todos os discos vem com o custo de não terem tanto corpo nos graves como, por exemplo, as KEF LS50 que as precederam - mas para ter graves encorpados e clareza no resto do espectro é geralmente necessário olhar para colunas de cinco dígitos…
Finalizando, estas Atalante são colunas de personalidade muito vincada e com uma ideia muito concreta por detrás de todo o seu conceito. As suas qualidades são raras nesta gama de preço e distinguem-se muito das da concorrência - justificando uma audição atenta e, se possível, uma comparação com outras monitoras para que se perceba melhor o que as diferencia e torna especiais.
Colunas Revival Audio Atalante 3
Preço 2390 €
Representante Ultimate Audio