Um prévio / streamer de grande «Mestria»
Audições
Tendo em conta que vinha da Esotérico já com uma rodagem razoável, o M66 entrou em acção quase de imediato a ter entrado no meu sistema como fonte digital, substituindo o Roon Nucleus+ e o conversor D/A iFi Audio Pro iDSD. O resto do sistema consistia no conjunto de electrónica Inspiration 1.0, da Constellation, tendo como fonte analógica o gira-discos Basis com braço SME V Gold e cabeça Air Tight PC1 Supreme, sendo o prévio de gira-discos o Nagra CLASSIC Phono. As colunas eram as QUAD ESL 63 que vão alternando com as Diptyque DP 140MkII, e os cabos de interconexão e coluna eram predominantemente da gama Select, da Kimber, com o AudioQuest Thunderbird ligado entre o iFi Audio Pro DSD e o prévio da Constellation. Na alimentação de sector pontuava a régua Vibex Granada Platinum, à qual ligavam todos os equipamentos electrónicos em uso, sendo o amplificador de potência da Constellation alimentado através do cabo Tiglon TPL-2000A. O Silent Power LAn iPurifier Pro que testei muito recentemente fazia igualmente parte da «equipa».
E é minha obrigação destacar desde já que a nova versão da aplicação BluOS Controller App tem uma facilidade de utilização e uma versatilidade que a colocam a milhas das últimas utilizações que dela fiz. Os procedimentos são muito intuitivos de seguir e o acesso aos vários serviços e às listas de reprodução fazem-se de modo quase imediato. Só não gostei da mania dela ir sempre para o TuneIn quando se seleccionam os «Favoritos» - é capaz de se poder alterar essa situação que está definida por defeito mas não vi como. Falta também o «Play from here» e, quando se está numa lista de reprodução, poder-se avançar ou recuar uma faixa - há que sair e ir para o ecrã onde se tem a capa do disco em maiores dimensões para poder ter acesso a esta função. Mas estes são aspectos de somenos importância perante tudo aquilo que a BluOS Controller nos oferece e que a coloca muito perto do Roon. E, Aleluia, ainda por cima é UPNP!
O agrado de audição do M66 foi quase imediato, com um envolvimento musical profundo, e uma profundidade de graves verdadeiramente extraordinária - algumas daquelas faixas que eu pensava conhecer bem passaram a conter informações de graves que eu nunca tinha dado por existirem, isto quando usei as Diptyque DO 140 MkII como colunas, já que elas têm uma capacidade nos baixos bem superior à das QUAD. Convém clarificar igualmente desde já que, para me familiarizar de uma maneira mais completa com o M66, comecei por utilizá-lo durante uns dias como se fosse uma fonte digital, regulando o volume para o máximo e ligando-o ao prévio Constellation Inspiration. Só mais tarde, depois de «feitas as apresentações», é que o liguei directamente ao amplificador de potência Inspiration e retirei o prévio do circuito. Foi uma metodologia que deu muitos bons resultados e que tento seguir na maioria dos meus testes – iniciar as audições efectuando o mínimo possível de mudanças no sistema. E, a esse propósito, fica igualmente aqui exarado que mantive no sistema os cabos de interligação balanceada que saíam do iDSD Pro, os AudioQuest Thunderbird, os quais passaram a estar ligados entre as saídas balanceadas do M66 e a entrada do amplificador de potência Constellation.
O esplendor das frequências médias e agudas aproxima-se de tudo o que eu já ouvi de mais subtil, sendo de um cinzelado como que de uma escultura grega, ou de uma filigrana saída das mães de um dos mestres de Póvoa de Lanhoso. Apenas a título de exemplo, foi maravilhoso ouvir o modo como este prodígio tecnológico consegue restituir as mais delicadas harmonias do charleston na faixa When I Fall in Love, interpretada pelo trio acústico Keith Jarrett/Gary Peacock /DeJonhette no álbum Inside Out, da ECM. E, já que falei antes tão bem dos graves, tive então que ouvir uma vez mais o álbum Winds of War and Peace, de que mantenho o CD original mas transferi o seu conteúdo para o meu NAS, com marchas de origem americana, coisa que não fazia há já algum tempo, a um nível quase realista (há que ter respeito pelos vizinhos), e este foi um momento que levantou bastante frisson na sala de audição e zona envolvente. Metais, cordas e percussão ressoavam pela sala com todas as suas tonalidades características, sem qualquer indício de compressão e com uma dinâmica quase estupidificante. A imagem espacial reproduzida era quase holográfica, tendo com resultado que era quase como se tivesse perante mim a banda, o que, como é natural, como que nos subjuga e espanta perante tanto realismo. Os registos na zona dos graves e dos médios/graves tinham como resultado uma mensagem sonora extremamente rica em detalhes, quase como que um contra-senso em relação a outras combinações, em que a maior energia contida nestas zonas de frequência mascara muitas vezes o que se passa mais acima.
Continuando nos aspectos energéticos, a prova mais complicada a que submeti o M66 foi a audição do Acto II, Cena 2, Schlimm, furcht’ ich, schloss der Streit, com Régine Crespin como Brunnhilde, da ópera As Valquírias, de Richard Wagne, com von Karajan a dirigir a Filarmónica de Berlim, uma peça recentemente remasterizada para 24 bit/96 kHz e disponível no Qobuz. O M66 foi mestre a revelar a transparência e a beleza das texturas contrabalançada por uma grande riqueza de detalhes, bem como pela fenomenal relação entre coro e orquestra, realçada pelo soberbo conjunto de cantores que está reunido nesta obra de que realço na faixa em causa o espantoso diálogo entre Céline e Thomas Stewart. Como foi gratificante ouvir uma peça que tem que ser ouvida em momentos especiais, devido à sua enorme complexidade emocional e a uma riqueza harmónica que se estende por oitavas e oitavas, bem como pelas cambiantes dinâmicas que vão desde momentos em que quase não se ouve nada até a crescendos orquestrais capazes de «deitar a casa abaixo». Foi mesmo uma audição memorável!
E mal ficaria que não aparecesse aqui um dos meus géneros favoritos, o jazz. Embora pouco conhecido, Hank Mobley será talvez uma das maiores legendas do jazz, e brinda-nos no álbum Soul Station com interpretações plenas de virtuosismo, acompanhado por nomes tais como Art Blakey, Winton Kelly e Paul Chamber. Todos os que gostam de música sabem que o saxofone não é dos instrumentos mais fáceis de reproduzir num sistema, porque os sons de maior intensidade podem quase ferir os ouvidos se não forem gravados e reproduzidos da melhor forma. Tendo assistido a vários concertos com diversos grupos em actuação ao vivo, posso dizer que a gravação da Blue Note está irrepreensível mas, mais ainda que isso, que o M66 me presenteou com uma reprodução verdadeiramente extasiante das diversas faixas, principalmente da primeira – Remember Me. O posicionamento absoluto do intérprete, perceptível mesmo através das pequenas variações verticais do posicionamento do saxofone, o timbre quase absolutamente perfeito do instrumento, que se mantém mesmo nos crescendos musicais, tudo isto me fez ouvir todo o álbum por mais que uma vez, com cada vez maior deleite.
Experimentei rapidamente o andar de phono com a minha fonte analógica anteriormente descrita e utilizando a função Analog Direct para colocar de lado todo e qualquer processamento digital. A entrada MC tem uma resistência fixa de 100 ohm pelo que não pude ajustar a carga para o meu valor favorito para a Air Tight PC1 Supreme que é de cerca de 300 ohm. De qualquer modo, o ganho do andar de phono é bastante elevado (a sensibilidade é de 132 µV), pelo que daí não veio grande mal ao mundo. As características de espacialidade e clareza de timbres foram tornadas bem evidentes na audição do LP de Henryk Szeryng com o Concerto n.º 3 de Paganini para violino e orquestra. A orquestra era a Sinfónica de Londres, dirigida por Alexander Gibson. Bastou ouvir os primeiros acordes da faixa 1, ao ritmo Andantino, para ver que a NAD não deixou o desenho deste andar de phono para o fim! O ruído é praticamente nulo, a separação de canais excelente e a espacialidade de tal modo que a orquestra se espaireceu bem para fora da colunas. Mas o mais difícil é reproduzir com a precisão suficiente, em termos de velocidade, a primorosa execução de Szeryng que consegue quase seguramente aquilo que Paganini conseguiria, o que é um grande feito. Mais um belo resultado para o M66.
Deixo para os mais «afoitos» a utilização do Dirac Live para efectuar as correcções acústicas necessárias para optimizar o desempenho do sistema dentro de uma determinada sala. Isto porque achei que depois de aplicar algum tipo de igualização à qual, quando o M66 se fosse embora deixaria de ter acesso, tal iria causar uma não muito ligeira alteração no desempenho do meu sistema e, seguramente, levaria algum tempo a reajustar-me depois à inexistência dessa correcção. Eu sei que já utilizei o Dirac por mais que uma vez mas, ao contrário de muita gente, acho que mudar de opinião é muito saudável. Por outro lado, a minha sala de audição não tem grandes defeitos, excepto uma ligeira acentuação do grave por volta dos 100 Hz, o que nunca me incomodou e a que já me habituei.
Conclusão
Este é, sem dúvida o melhor produto NAD da linha Masters que me passou pelas mãos, quer em termos sónicos quer no que se refere a ergonomia, quer ainda em termos de performance sónica. A aplicação BluOS Controller faz finalmente tudo aquilo que estava a prometer desde o dia em que foi lançada, a construção promete uma durabilidade a toda a prova, com a estrutura MDC2 a facilitar todo e qualquer upgrade futuro e os amantes do vinilo a serem brindados com uma entrada phono de alto gabarito. Fazer a este preço tudo aquilo que o M66 faz tão bem é um verdadeiro milagre pois o seu desempenho coloca-o no escalão dos produtos high-end de alto nível que custam bem mais que ele. A NAD ficou com um problema: colocou o M66 num patamar tão alto dentro da série Masters que vai ser difícil encontrar parelha para ele. Mas tenho a certeza que este é um «bom problema».
Préamplificador / streamer NAD Masters M66
Preço 5999 €
Distribuidor Esotérico