Umas monitoras com um som de luxo
Por fim, no mundo do rock, decidi ouvir o último disco do guitarrista anglo-americano Slash, mais conhecido pelas suas (muitas) aventuras com os Guns ‘N Roses. Em Orgy of the Damned (2024, 24 bit/96 kHz), Saul Hudson construiu um disco dedicado aos blues, com uma panóplia de ilustres convidados. Talvez o seu melhor disco pós Guns dos anos 90 (a par de Ain’t Life Grand, de 2000, com os Slash’s Snakepit), notou-se outra vez a frontalidade das Studio 89, ao revelarem sem perdão as (relativas) insuficiências da gravação (em 2024, já não seria suposto isto acontecer, muito menos com estrelas deste calibre, mas acontece…). No entanto, as Studio 89 mostram versatilidade, e apesar dessas mesmas insuficiências, mostram um som alegre e entusiasmante - mas os agudos bem polidos podem retirar agressividade ou ataque a uma apresentação que muitos poderiam querer mais directa, dada a natureza deste estilo de música… Pormenores a ter em conta.
Nestes testes, mais do que atribuir notas ou dizer se um produto é bom ou mau (seria difícil imaginar que uma empresa com a experiência e a competência da Monitor Audio lançasse um mau produto), creio ser importante descrever a minha experiência com o produto e tentar ao máximo perceber a quem se adequa um produto e onde faz mais sentido aplicá-lo (tento sempre que o meu «gosto» interfira o mínimo possível, não é afinal esse o objectivo de um texto desses).
Dito isto, as Studio 89 são excelentes colunas, ponto. Mas são também colunas muito exigentes e sensíveis não só aos componentes que as precedem mas também ao espaço onde se inserem (e, já agora, em relação à música que ouvimos e à respectiva qualidade de gravação). Numa breve experiência, troquei o Audiolab 9000n por um Cambridge Audio MXN10, um excelente produto mas substancialmente mais barato, e a diferença foi logo notória e óbvia… E as suas características (como a subtileza dos agudos ou as limitações inerentes ao tamanho dos seus altifalantes de médio/grave) podem desadequá-las de certos estilos de música, de certos gostos ou de certas sinergias (não consigo imaginar uma boa combinação com um amplificador excessivamente quente, por exemplo, seria, em meu entender, too much of a good thing).
Há ainda outro factor a considerar - em toda a minha experiência de ouvir sistemas, devo dizer que, em minha opinião, o maior erro que os audiófilos cometem é, de muito longe, desadequarem o equipamento ao espaço - basta andar pelos grupos de Facebook para vermos colunas gigantescas encostadas a uma parede, num quarto minúsculo e demasiado perto uma da outra, o que não faz sentido absolutamente nenhum (já agora, a total ausência de tratamento acústico será talvez o segundo maior erro que por aí se vê, novamente em minha opinião). Devo, aliás, recordar que John Atkinson, uma das pessoas do mundo que mais percebe da poda, ex-editor da Stereophile e que já mediu todos os produtos e mais alguns, no seu exíguo apartamento em Nova Iorque, colocou umas monitoras KEF LS50 e, segundo o próprio, em entrevista em link abaixo (25:15), admite que, em volumes normais, umas boas monitoras resolvem o assunto (e, se necessário, pode sempre adicionar-se um subwoofer para acrescentar as primeiras duas oitavas).
https://www.youtube.com/watch?v=QWU2sUnW-eM
Para além disso, numa época em que o imobiliário, em todo o mundo, atinge valores absurdos e em que cada vez mais pessoas vivem em casas pequenas, um produto como as Studio 89, em detrimento de umas colunas de chão, pode fazer perfeito sentido - embora seja necessário dizer que, apesar do seu tamanho diminuto, senti que as Studio 89 precisam de algum espaço, tanto em distância à parede (o baixo que elas produzem é deveras surpreendente) como em largura para que se consiga maximizar a (enorme) sensação de palco que produzem. Numa sala ou quarto com algum espaço, estas monitoras fazem perfeito sentido e adequar-se-ão muito melhor que muitas colunas de chão - na eventualidade de precisar de mais graves, pode sempre acrescentar um sub - e o dinheiro que poupa em relação a colunas maiores pode ser usado em tratamento acústico, por exemplo. Em sentido contrário, creio não fazer muito sentido colocar colunas destas em salas grandes, em que a distância de audição em relação às mesmas seja demasiado grande - embora esteja aqui apenas a teorizar de acordo com as leis da física, não tive a possibilidade de fazer este teste e não há como experimentar, até pode ser que corra bem.
Fica assim evidente que recomendo, e muito, uma deslocação à Delaudio para ouvir estas novas Studio 89 - na gama dos 3 000 € (incluindo os suportes), foram as monitoras que mais me impressionaram até hoje. Com um palco gigantesco e uns agudos muito requintados, creio que também irão impressionar o leitor/ouvinte - tendo em conta, claro, que o espaço em que as vai ouvir seja adaptado e que tenha os equipamentos certos para as preceder. Já agora, a talhe de foice, cá pela Audio e Cinema em Casa apreciámos de sobremaneira o número «89» porque nos faz lembrar do ano de fundação da «nossa» revista.
Colunas Monitor Audio Studio 89
Preços
Colunas 2350 €
Suportes dedicados 600 €
Representante Delaudio