Gauder Capello 80 DV

Jorge Gonçalves

16 julho 2024

A grande tecnologia ao serviço da música

Audições


As Capello 80 DV entraram em minha casa alguns dias depois da chegada de um par de monoblocos de potência Cary 805 Signature que já estavam comigo para aí há 20 anos e foram recentemente alvo de uma renovação completa quer na electrónica quer na pintura o que deu origem a uma combinação sopa no mel com as Gauder. De qualquer modo, logo de início as Capello 80 DV entraram no meu sistema habitual, formado pelo conjunto de electrónica Inspiration 1.0, da Constellation, tendo como fonte digital o Roon Nucleus Plus com o iFi Audio Pro DSD como descodificador D/A e renderer de MQA (descodificação completa) e, no domínio analógico, o gira-discos Basis com braço SME V Gold e cabeça Air Tight PC1 Supreme, sendo o prévio de gira-discos o Nagra CLASSIC Phono. As colunas eram as Diptyque DP 140MkII, e os cabos de interconexão e coluna eram predominantemente da gama Select, da Kimber, com o AudioQuest ThunderBird ligado entre o iFi Audio Pro DSD e o prévio da Constellation. Na alimentação de sector pontuava a régua Vibex Granada Platinum, à qual ligavam todos os equipamentos electrónicos em uso, sendo o amplificador de potência da Constellation alimentado através do cabo Tiglon TPL-2000A. Seguiram-se as audições com os monoblocos da Cary a substituírem o amplificador de potência Constellation Inspiration mas sobre isso não vou entrar em demasiados detalhes, deixando aqui apenas a pista de que estas colunas funcionam de maneira soberba com válvulas e que 50 W por canal são mais que suficientes paria as pôr a cantar maviosamente.

Das muitas audições que fiz destaco a Sonata N.º 1 para violino e piano em La menor, de Schumann, interpretada por Martha Argerich e Itzhak Perlman. Inicialmente o compositor até nem gostava muito desta peça musical, pelo que escreveu uma segunda versão com a qual ficou mais satisfeito e que é a que é normalmente tocada hoje em dia. Embora já septuagenários, os dois intérpretes consagrados estão aqui na plenitude das suas capacidades e brindam-nos com uma interpretação de primeira água, mostrando porque continuam a ser os exemplos máximos das suas capacidades passados tantos anos desde que começaram a dar nas vistas. Perlman aproveita as passagens mais românticas para alongar as suas notas de uma maneira quente e aprazível e Martha Argerich demonstra uma sensibilidade excepcional para acompanhar tudo aquilo que Perlman executa, ao mesmo tempo que as Gauder demonstraram como podem combinar quantidades assinaláveis de detalhe com um som bonito, agradável até mais não e que nos transmite de um modo muito concreto a paixão que Schumann coloca na maioria das suas obras. Uma obra que ouvi do princípio até ao fim (tem 3 andamentos) com o maior prazer.
Bill Frisell é um grande guitarrista e uma das suas obras de que mais gosto é Wildwood Flowers- Poem for Eva, a qual aparece em vários dos seus discos mas a versão que mais aprecio é a que consta do álbum 2012 Solos (The Jazz Sessions). A origem desta música perde-se na bruma dos tempos, embora a maior parte dos estudiosos a atribuam à Carter Family. É uma peça musical plena de harmonias bonitas e que pede umas colunas que possam reproduzir os sons limpos mas por vezes bem agudos que Frisell retira da sua guitarra o que as Capello 80 fizeram com grande garbo.

E agora, num registo bem diverso, destaco Rod Stewart, em conjunto com a Royal Simphony Orchestra, em Maggie May. Tive ali na minha frente uma interpretação viva, plena de alegria, com uma excelente destrinça entre os vários instrumentos da orquestra e entre estes e a voz de Stewart. Muito ritmo mas também uma marcante clareza de reprodução.
As Gauder também «valsaram» muito bem com Bill Evans interpretando a Waltz for Debbie. Excelentes em termos temporais e tonais, o piano e o seu interprete tinham um grande grau de realismo em termos de presença dinâmica e de beleza das notas, alongando os temas quando tal era o caso ou indo directo ao assunto sem momentos de paragem nos transientes.
E, por fim mas nunca por ultimo, menciono aqui Tears in Heaven, a tão famosa composição de Eric Clapton, retirada do disco To Save a Child - An Intimate Live Concert. Confesso que é uma interpretação que não conhecia, bem diferente de todas as outras, com um arranjo musical no mínimo estranho e a voz de Eric Clapton a não parecer a do costume. O disco foi gravado durante uma pequena sessão organizada em Dezembro de 2023 em Londres e foi lançado em Abril passado. As receitas das vendas serão doadas para ajudar as crianças da faixa de Gaza. As Gauder foram perfeitamente fiéis ao espaço de gravação relativamente pequeno e colocaram-me em frente a um Clapton com uma voz já bem madura mas sempre eloquente, com belos acordes de guitarra quer acústica quer de baixo.
Só uma pequena nota para Jasmine Myra a tocar Glimmers, do seu disco Rising. Trata-se de uma grande saxofonista e compositora que nesta faixa extrai melodias com oscilam entre o subtil e a enorme intensidade rítmica, com uma enorme quantidade de improvisações que fazem o saxofone alto alternar entre várias escalas e exigem que as colunas consigam manter a destrinça entre elas, o que não constituiu qualquer problema para as Capello 80 DV, demonstrando que os conceitos de alinhamento temporal estão aqui muito bem aplicados.

Conclusão


Nem sempre a utilização de elevados conceitos tecnológicos se traduz em resultados palpáveis do ponto de vista da performance de um produto. Pois com as Gauder Capello 80 DV temos a prova provada de que isso é possível: o alinhamento temporal das unidades quer entre si quer em relação à caixa pagou dividendos e temos aqui umas colunas capazes de reproduzirem transientes de causa calafrios e, ao mesmo tempo, de emitirem um som bonito, de grande espacialidade. Uma aposta ganha e uma audição recomendada!


Colunas Gauder Capello 80 DV
Preços:
Versão normal       11 998 €
Versão DV             14 398 €
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