Advance Classic A10

Miguel Marques

10 junho 2024

Música limpa, rápida e sem aditivos

Passei depois para o clássico Dookie (1994), o disco mais conhecido dos Green Day e do seu punk/pop, aqui em edição de alta resolução (24 bit/196 kHz). Com uma energia contagiante, o A10 portou-se uma vez mais à altura - revelando outra vez o mesmo som directo e preciso de que Delfin Yañez, da Delaudio, tanto gosta e que, no caso do A10, atribui à utilização de poucos componentes no circuito. Raras vezes ouvi um amplificador tão directo e rápido como este, nos antípodas, por exemplo, do A1 da Musical Fidelity - o que se prestou particularmente bem ao rock energético dos Green Day.

Mudando radicalmente de estilo, ouvi o Prelúdio para o Acto I de Tristão e Isolda de Richard Wagner, quiçá os melhores 12 minutos de música jamais escritos (para quem tenha curiosidade, basta escrever Tristan Chord no Googl (https://en.wikipedia.org/wiki/Tristan_chord)  e terá “aborrecimento” para muito tempo). A versão que ouvi, pelo famoso maestro austríaco Herbert von Karajan, a dirigir a Sinfónica de Berlim, é sublime e o A10 voltou a surpreender, com uma prestação brilhante para a gama de preço. Dos saltos dinâmicos ao contraste e emoção que esta música tanto precisa, o A10 esteve completamente à altura de tudo o que esta obra requer.

Curioso com a «excessiva neutralidade» do meu sistema (o Denon DNP-2000NE e o A10 «anulam-se» neste departamento), resolvi experimentar com outro streamer, o Audiolab 9000N, o qual tem características sonoras muito mais perto do som quente, relaxado e encorpado das válvulas e dos circuitos Classe A (e está também noutra gama de preço, comparativamente ao Denon). E o A10 transmitiu todas estas características do Audiolab, revelando-se um verdadeiro camaleão e alterando significativamente o som geral do sistema - o que significa que se o A10 não introduz cor num sistema, por outro lado absorve com muita facilidade essa mesma cor das fontes que o precedam. Devo também referir que preferi o som do A10 com o 9000N, porque achei que o contraste entre ambos se complementava bem e se traduzia num som mais cativante - embora tenha a certeza que outros iriam preferir o som mais directo do Denon, por isso é tão importante experimentar antes de comprar…

Para concluir, fiz apenas mais alguns pequenos testes rápidos:


1) Usando a saída digital óptica do Denon DNP-2000NE, liguei a mesma à entrada óptica do A10 para comparar (usando assim o Denon como transporte e o A10 como DAC, embora no caso desta ligação o clock do Denon continue a ser o que conta). Notou-se alguma diferença, principalmente na definição dos graves, mas o DNP-2000NE é um streamer dedicado que custa quase tanto como o A10 num todo, portanto a comparação seria sempre injusta… Mas a DAC do A10 surpreendeu-me e quem acrescentar um transporte digital a este amplificador e usar o seu DAC interno, fica muito bem servido - ficando a saber, claro, que componentes digitais isolados a partir dos 1 000 € irão provavelmente introduzir ganhos sonoros audíveis.

2) Achei a igualização demasiado agressiva; ao contrário de muitos audiófilos, uso igualização com alguma regularidade, mas os engenheiros da Advance foram um pouco heavy handed aqui - basta um pequeno acréscimo ou redução de graves ou agudos para se ouvir uma mudança demasiado drástica… Se o visor estiver correcto os «saltos» são de dois decibéis de cada vez que premimos um botão, o que me parece excessivo - saltos de meio dB teriam sido o ideal, na minha opinião. Como vantagem, o controlo remoto tem uma secção para graves e outra para agudos, cada qual com os seus mais e menos, o que torna o processo muito rápido – muito gostava eu que o meu Rotel, que também tem equalização, tivesse esta funcionalidade.

3) Gostei muito da saída de auscultadores, embora deva reconhecer que é uma área na qual tenho pouca experiência - apesar disso, munido de uns Focal Spirit One S de baixa impedância (32 ohm), o A10 proporcionou-me um som cheio e com boa sensação espacial; para adicionar variedade, experimentei depois uns auscultadores de alta impedância e de outra gama de preço, os Sennheiser HD 700 (150 ohm) e tive exactamente a mesma (boa) experiência, com o salto sonoro que estes auscultadores trazem relativamente aos Focal a fazer-se notar de forma evidente; muitas vezes em amplificadores integrados destes preços, a saída de auscultadores é aquilo a que os anglo-saxónicos designam por “after thought”, mas isso não parece de todo ser o caso aqui - fiquei por isso com a sensação que será preciso gastar algum dinheiro num amplificador isolado de auscultadores para se notarem diferenças de som significativas.

4) Para quem precise também de streaming integrado, a Advance Paris tem a gama MyConnect, que me pareceu também muito interessante do ponto de vista de especificações.

Conclusão


Como conclusão, o A10 foi uma boa surpresa e é uma máquina quase imbatível do ponto de vista de relação preço / qualidade. Por menos de 2000 € conseguimos um bom conversor digital cheio de funcionalidades (como HDMI ARC) e um excelente integrado, com muita potência e um som do mais neutro, directo e rápido que ouvi até hoje (sendo que tudo isto será muito influenciado pela “alimentação” prévia deste integrado, como referi acima). Claro que é importante para o leitor considerar que tipo de som prefere - para quem goste mais do som quente e lento que tradicionalmente associamos a válvulas ou aos circuitos Classe A, há melhores alternativas no mercado. Mas para quem queira este som mais directo e imediato, de transientes muito presentes (mas ainda assim delicados), duvido que haja melhor nesta gama de preço. Se estiver nesta categoria, recomenda-se um salto à Delaudio para ouvir este A10 (certamente bem acompanhado de umas Monitor Audio).

Amplificador integrado Advance Classic A10
Preço               1790 €
RepresentanteDelaudio