Irresistível requinte musical com um surpreendente poder sonoro
Audições
O conjunto Accuphase A-80 / C-2300 substituiu a minha amplificação residente, ligado ao servidor / streamer Aurender ACS10, com o DAC Soulnote D2. Como fonte analógica esteve o gira-discos Project Xtension 10 Evolution com cabeça Hana ML e prévio de phono Elac PPA-2. A dar voz ao sistema estiveram as colunas Perlisten Audio S7t. A cablagem incluiu o cabo digital Audioquest Carbon USB, o Kimber Select KS-1121 e Kubala-Sosna Fascination nas interligações analógicas, e nas colunas os habituais Kimber Select KS-3033.
Uma das várias surpresas que este conjunto me proporcionou, o amplificador A-80 em particular, foi a facilidade com que conduziram as colunas Perlisten S7t, dissipando quaisquer dúvidas que pudessem subsistir por força da potência especificada de 2x65 Watt a 8 Ohm. Por comparação com o residente P-7300, um modelo de funcionamento em Classe AB com potência especificada de 2x125/250/500/800 a 8/4/2/1 Ohm, não notei nunca que o A-80 saísse de alguma forma diminuído da comparação, muito pelo contrário, em termos de amplitude do palco sonoro e da resposta a variações dinâmicas abruptas, o A-80 sempre se mostrou superior.
Os últimos modelos que tenho ouvido da Accuphase, com destaque para o integrado E-5000 em particular, parecem indiciar uma certa concessão a uma sonoridade mais vívida, mais rápidos a responder às solicitações e dinamicamente mais extrovertidos. Aquando do teste que efectuei ao E-5000 afirmei precisamente que me parecia que a Accuphase estaria a apostar numa sonoridade mais ritmada e dinâmica, ainda que sem renegar a sua herança musical na gama de produtos em Classe AB e, por outro lado, manter a habitual sonoridade de supremo requinte e suavidade, timbre verdadeiro e imagem estéreo exemplar nos produtos da linha em Classe A, deixando a escolha à sensibilidade do cliente. Após as audições ao A-80 não ficam quaisquer dúvidas que a mudança subtil na sonoridade global da marca também inclui os modelos em Classe A, numa conjugação singular de requinte sonoro e timbre realista com uma apresentação mais moderna, mais rápida a responder às solicitações e com uma desenvoltura dinâmica que antes, por comparação, era apenas sugerida.
As primeiras audições, do álbum Companion da Patricia Barber, apontaram logo nesse sentido. No tema Use me as cordas dedilhadas do contrabaixo surgiram com uma tensão extraordinária, denotando um recorte e uma definição perfeitos da nota dedilhada, com um excelente controlo e uma resposta no grave intensa, rápida e recortada. Já no registo agudo, destaque para um controlo exemplar das sibilantes na voz da cantora e dos sons metálicos das percussões em Touch of Tras que surgiram incisivos e penetrantes mas não agrestes.
Passando a sonoridades de cariz clássico e sinfónico, rapidamente se percebe que o som dos Accuphase, particularmente o A-80, se pauta por uma naturalidade e envolvência que facilmente nos levam a esquecer a análise sonora para nos determos na fruição pura e simples da música. Capaz de apresentar um palco sonoro pleno de equilíbrio, expansivo, volumétrico e tridimensional, envolve-nos no acontecimento musical, ao apresentar os elementos que constituem esse acontecimento de uma forma natural, controlada e com total ausência de esforço.
A naturalidade da apresentação musical dos Accuphase sempre me pareceu estar intimamente relacionada com o facto de terem um patamar de silêncio muito profundo, um nível de ruído baixíssimo, o que faculta que os matizes dinâmicos sejam expostos com uma nitidez impressionante, já que o sinal não sofre interferência do ruído gerado pelos componentes electrónicos. Assim, em vez de sermos confrontados com uma exposição imposta da mensagem musical, apercebemo-nos dessa mensagem por nada haver que a turve, num processo de reprodução musical de elevada transparência e definição sonora. É absolutamente espantosa a forma como o amplificador concilia uma gama média plena de leveza e autoridade, um agudo sedoso e simultaneamente explícito e informativo, um grave imponente, mas controlado e definido.
Abro aqui um parêntesis para dar conta que, em determinado momento, substitui o prévio C-2300 pelo meu residente C-2150, apenas para perceber a influência do prévio na performance do conjunto. No caso em apreço o novo C-2300 revelou-se claramente superior quer em termos de transparência global, como de resolução, justificando facilmente o aumento do custo face ao C-2150.
Recordo aqui a grandiosidade da 8ª Sinfonia de Bruckner, com o seu carácter opulento, sustentado e orgânico, típico da música de Bruckner, características que foram reveladas de forma exemplar pela amplificação Accuphase. Nalgumas ocasiões, principalmente com música de conteúdo dinâmico mais marcado, como é o caso da música do já mencionado Bruckner e também com a 3ª sinfonia de Mahler, o discurso musical foi sempre apresentado com eloquência, qual orador dotado e experimentado, que tudo faz para passar a mensagem de modo inteligível sem nunca perder a noção do conteúdo.
A audição do Concerto Imperador, de Beethoven, com Murray Perahia ao piano, revelou uma riqueza harmónica e tímbrica excepcionais, conseguindo uma das melhores reproduções de piano que ouvi nos últimos tempos, denotando um excelente discernimento da magistral técnica interpretativa de Perahia, um palco sonoro perfeitamente delineado, com o piano a ocupar a posição mais frontal que lhe compete e a orquestra num plano imediatamente atrás, mas com cada naipe a ocupar o seu espaço próprio, em largura e profundidade, sem quaisquer atropelamentos entre si.
Conclusão
Não há dúvida que os 50 anos da Accuphase foram o pretexto para uma profunda evolução na sua gama de produtos. Tal como já havia constatado antes, também nos prévios e, principalmente no amplificador A-80 da série em Classe A, é notória uma nova sonoridade que não renega as características de beleza tímbrica, amplo palco sonoro e a insuperável liquidez típica do funcionamento em Classe A, tão apreciadas pelos fãs da marca, mas que procura imprimir um cunho mais moderno à reprodução musical, com uma maior rapidez de resposta a transitórios, superior resolução e dinâmica mais desenvolta que estabelecem firmemente à Accuphase um lugar meritório no século XXI entre os grandes fabricantes de áudio.
Lista de obras escutadas durante as audições:
• I. Stravinsky – O Pássaro de Fogo, Orq. Fil. Israel, Leonard Bernstein, DG
• G. Mahler – Sinfonia nº 3, Orquestra Sinf. Rádio Frankfurt, Eliahu Inbal, Denon
• L.V. Beethoven, Concerto p/piano e Orq. nº 5, Murray Perahia, Orq. Concertgebouw Amesterdão, Bernard Haitink, CBS
• A. Bruckner – Sinfonia nº 8, Orquestra Filarmónica de Viena, Carlo Maria Giulini, DG
• Diana Krall, The girl in the other room, Tidal
• Patricia Kaas, Scène de Vie, Columbia
• Patricia Barber, Companion, Tidal
• Gerry Mulligan, The Concert Jazz Band, LP Verve Records
• Michel Camilo, Portrait, LP CBS
• Pink Floyd, The Wall, LP EMI
Especificações técnicas C-2300:
Resposta em frequência (Bal./Linha) 3 Hz – 200 kHz +0, -3 dB
20 Hz – 20 kHz +0 -0,2 dB
Distorção harmónica total (THD) 0.005%
Sensibilidade de entrada (saída nominal/0,5V) 252 mV/63 mV
Impedância de entrada (Bal/Linha) 40 kOhm /20 kOhm
Tensão / Impedância de saída 2V @50 Ohm
Relação sinal/ruído 111/108 dB (Ponderação A / EIA)
Controlo de tonalidade (4 bandas) 40 a125 Hz, 500 Hz, 2 kHz, 8 a 20 kHz +- 10 dB
Compensação Loudness +6 dB (100 Hz)
Atenuador (mute) -20 dB
Saída para auscultadores Impedância igual ou superior a 8 Ohm - 2V (40 Ohm)
Consumo 41 Watt
Dimensões 465/150/405 mm (L/A/C)
Peso 19,3 kg.
Especificações técnicas A-80:
Potência de saída nominal (estéreo) 520 Watt /canal a 1 Ohm(*)
260 Watt /canal a 2 Ohm(*)
180 Watt /canal a 4 Ohm(*)
65 Watt /canal a 8 ohms
Operação monofónica (em ponte) 1040 Watt a 2 Ohm(*)
520 Watt a 4 Ohm(*)
260 Watt 8 Ohm(*)
(*) – apenas sinais musicais
Distorção harmónica total (operação estéreo) 0,07% com carga de 2 Ohm
0,03% com carga de 4 a 16 Ohm
Operação em mono 0,05% com carga de 4 a 16 Ohm
Distorção por intermodulação 0,01%
Resposta em frequência 20 Hz a 20 000 Hz +0; -0,2 dB
0, 5 Hz a 160 kHz +0,-3.0 dB (1 Watt)
Ganho 28.0 dB (selector ganho no máximo)
Selector de ganho MAX, -3dB, -6dB, -12dB
Factor de amortecimento >1000
Sensibilidade de entrada 0,91V (0,11V para 1 Watt)
Impedância de entrada 20/40 kOhm (Linha/Bal)
Relação sinal/ruído 123 dB (ganho máximo)
129 dB (ganho -12 dB)
Consumo 210/260 Watt (em espera/IEC60065)
Dimensões 465x240x515 mm (LxAxC)
Peso 44,6 kg
Preços: Prévio C-2300: 11 450€
Amplificador A-80: 19 900€
Representante Ultimate Audio