Entre a produção e a reprodução áudio (em movimento):
Os auscultadores Audeze MM-500 com assinatura de Manny Marroquin
Audição
Ouvi os MM-500 ligados ao amplificador de auscultadores Vincent KHV-111MKII e a partir daí ao DSD DAC da Holon Cyan e ao SACD200 da Atoll ou a este último directamente. A audição também foi realizada em movimento (on-the-go) ligando os MM500 a um DAP Kann Max da Astell & Kern. Realizei audições em casa ou em passeios ao ar livre.
Os MM-500 aderem muito bem aos ouvidos, são confortáveis e a sua utilização continuada não cansa minimamente – é um prazer usá-los, mesmo durante longos períodos. De uma forma geral posso dizer que o som dos MM-500 me surpreendeu muito favoravelmente em termos do nível de detalhe, da precisão dos timbres e da dimensão do palco sonoro. Os graves são potentes, sem descer a níveis cavernosos e os agudos são cristalinos e bem definidos e os médios bastante musicais. Mas tenho de vincar a definição e o detalhe, a precisão dos timbres e na temporização. Do melhor que já encontrei em qualquer tipo de auscultadores, não muito distantes dos LCD-5 (um modelo de topo de gama da Audeze).
Playlist
Les Musiciens du Louvre (dir. M. Minkowski) – Handel Alcina – 3 CDs Pentatone
Infusion Baroque – East Is East – CD Leaf Music
Lizz Wright – Shadow – CD Blues & Greens Virgin
Bill Frisell – Orchestras – CD Blue Note
Leyla McCalla – Sun Without the Heat – CD Anti
Hurray for the Riff Raff – Life on Earth – CD Nonesuch
Passando ao pormenor e começando pela clássica:
A Alcina, de Handel foi uma das suas últimas óperas de grande sucesso, sendo uma adaptação do poema Orlando Furioso, de Ariosto. Nesta gravação estupenda, encontramos solistas de grande qualidade como a soprano Erin Morley, a mezzo Ana Bonitatibus e, sobretudo, a grande mezzo Magdalena Kozena. Os MM-500 reproduziram magnificamente a riqueza de detalhe da gravação e o timbre único de Kozena. Um prazer. Depois encontrámos o agrupamento Infusion Baroque, aqui conjugando-se com Amir Amiri, um iraniano refugiado, compositor e executante de santur (instrumento clássico persa de cordas percutidas da família do saltério). O título é irónico porque se refere a poema de Kypling que começa assim: “Oh, East is East, West is West and never the twain shall meet” (Este é Este, Oeste é Oeste, e os dois nunca se encontrarão) e esta gravação consiste precisamente num encontro de musicais ocidentais e orientais da época barroca. O agrupamento Baroque Infusion é muito grupo muito imaginativo e virtuoso e, nesta gravação aposta claramente no contraste entre os timbres dos instrumentos de cordas dos dois mundos. O que serve às mil-maravilhas aos MM-500 que souberam fazer tal conjugação com grande mestria, sobressaindo a correcção quase impossível dos timbres.
Passando agora ao jazz e à grande gravação recentemente editada de Lizz Wright. A gravação inclui uma série de standards e de composições originais de Wright combinando jazz, blues e gospel. Potentíssima, a voz de Wright acompanhada por variada instrumentação (e, numa faixa, por Angelique Kidjo). A cover de Who Knows Where the Time Goes, original de Sandy Denny e dos Fairport Convention é de fazer parar a respiração. Notável a reprodução dos MM-500, quer a nível da preservação de todo o grão da voz de Wright como da separação de canais e da dimensão do palco sonoro. E agora, uma gravação mesmo invulgar, o grande guitarrista Bill Frisell com o seu trio acompanhado por 2 orquestras, uma clássica (a Brussels Philarmonic) e outra de Jazz (a Umbria Jazz Festival) em duas gravações ao vivo, tocando reportórios sobrepostos com arranjos diferentes (por Michael Gibbs). As composições incluíram sobretudo standards e composições de Frisell. O resultado é excelente e sempre jazzístico (mesmo com a orquestra de Bruxelas). A gravação era exigente com grandes massas sonoras em, às vezes, periclitante equilíbrio com o trio de Frisell, misturando acústico e eléctrico. Nada que fosse inultrapassável pelos MM-500 que exibiram a sua capacidade de reprodução com grande pormenor e preservação da riqueza tímbrica, da complexidade e da beleza melódica vigentes.
Finalmente, a Folk e o Folk/Rock Alternativo. Primeiro, Leyla McCalla, cantora e violoncelista (ex-membro do Carolina Chocolate Drops), no álbum a seguir a The Capitalist Blues, mantém a mistura de Black Country, Raggae e Afro que já tinha feito sucesso. Excelentes temas novos de McCalla, interpretados com aquela voz doce e quase ingénua (ou será antes idealista?), mas firme e premente. A combinação entre as cordas do banjo, do violoncelo e das guitarras acústicas e eléctricas é mais um desafio ultrapassado com grande êxito pelos MM-500. Reprodução natural e correcta, mantendo o som quase artesanal e genuíno de McCalla. A seguir, Hurray for the Riff Raff, ou seja Alynda Mariposa Sigarra e seus parceiros das andanças musicais, na sua nova gravação. Herdeira do grande folk americano, Sigarra não desilude. Grandes novos temas, a mesma inquietação, com seu o mal d`être poético e militante. Voz desassombrada, verdadeira e facilmente reconhecível, Sigarra continua a dar das melhoras cartas do folk alternativo actual. Os MM-500 souberam captar a autenticidade da gravação, oferecendo o espaço, silêncio e acuidade necessários para usufruir desta bela gravação.
Conclusão
Repito, os MM-500 são dos melhores auscultadores que já testei, qualquer que seja o seu tipo de transdutor. Não são baratos, mas outros há, bem mais caros e com desempenhos perfeitamente comparáveis ou mesmo inferiores aos destes MM-500. Aqui, refiro-me sobretudo à audição a partir do meu sistema de som.
Usando os MM-500 cm o meu DAP, o Kann Maxx da Astell & Kern, os auscultadores da Audeze conseguem aproveitar a amplificação disponível com bom resultado, mas necessitam de um nível de volume considerável. Além disso, usar uns auscultadores desta qualidade em ambientes exteriores ruidosos é, em minha opinião, um exagero. Conseguem-se resultados também muito bons com auriculares de qualidade como os Campire Trifecta ou os Solaris com melhor isolamento e menos aparato (o preço não é, contudo, muito diferente).
Por isso, no confronto final entre os requisitos do produção e do movimento, apesar da promessa da Audeze de um resultado equilibrado, existe clara vantagem para o Produtor Musical versus o Audiófilo On-the-Go.
Resumindo, como auscultadores ligados a um sistema áudio merecem a melhor recomendação possível. Como auscultadores portáteis, a recomendação é algo mais discutível (embora mantenham a grande qualidade de reprodução).
São auscultadores para usarmos sentadinhos, confortáveis e prestando a melhor atenção possível. A satisfação e gozo são garantidos. Se dispuser dos recursos para comprar uns auscultadores desta gama de preços, caro leitor, confie em mim, os MM-500 são incontornáveis.
Auscultadores Audeze MM-500
Preço 2099 €
Representante Sarte Audio