Denon DNP-2000NE

Miguel Marques

4 maio 2024

Uma boa companhia para qualquer sistema de áudio

Audições

Dediquemo-nos então à utilização prática do Denon, que se baseia como de costume, no sistema HEOS. A primeira boa notícia é que a App funciona muito bem e é simples de usar - não devia ser notícia em 2024, mas ainda o é, infelizmente. A segunda boa notícia é que o protocolo UPNP é gapless, tanto a receber ficheiros como a “puxar” ficheiros dentro da App Heos. As más notícias são que não temos acesso ao Qobuz dentro da aplicação e os protocolos Tidal Connect e Roon Ready não estão disponíveis* - mas temos Airplay, Spotify Connect e Bluetooth (limitado ao codec SBC), embora valha sempre a pena lembrar que estes dois últimos implicam perdas na qualidade de som. O Bluetooth funciona em modo 2-way, ou seja, tanto permite enviar música de um dispositivo (PC ou telefone ou tablet) para o Denon, como o mesmo DNP-2000NE envia ficheiros para um dispositivo externo, auscultadores, por exemplo. Como sempre, para os tecnologicamente mais evoluídos existem formas de contornar o problema da ausência de alguns protocolos - o JPLAY, para produtos Apple, ou o Audirvana, para Windows, dão acesso ao Qobuz e ao Tidal e oferecem protocolo de saída UPNP. O Roon tem também saída Airplay e protocolos UPNP não oficiais mas que funcionam muito bem, de acordo com a Internet e os seus fóruns (se está na Internet, tem de ser verdade, certo?). Para além de tudo isto, é possível usar o Denon apenas como DAC (entradas USB, óptica e coaxial), ligando uma pen drive com ficheiros na entrada frontal ou ainda como transporte digital com saídas óptica e coaxial para ligar a um DAC externo - é ainda possível usar o DNP-2000NE como pré-amplificador, através das saídas variáveis, mas apenas testei com as saídas fixas ligadas a um integrado. O controlo remoto é muito funcional mas, como tantas vezes neste mundo da alta-fidelidade, tem um ar demasiado barato e destoa do DNP-2000NE, que tem um excelente acabamento (e som, como se verá), condizentes com o preço. Em termos de acabamentos, o DNP-2000NE está disponível nas cores preta e prateada.

*Nota: a Denon/Marantz efectuou recentemente uma actualização que confere ao DNP-2000NE a capacidade de aceder ao Tidal Connect, bem como faz com que ele passe a obedecer à certificação Roon Ready. Ficam, portanto, sem efeito estes comentários.

Fiz então o meu teste recorrendo apenas a ficheiros disponíveis num NAS, usando um portátil com Foobar ou um tablet com Symphonium. No caso do Foobar houve uma pequena peculiaridade com ficheiros 24/192, que ao final de algum tempo paravam - embora o mesmo não aconteça nem na App Heos nem no Symphonium. Achei estranho, porque o protocolo do Foobar nunca me tinha falhado antes, mas aconteceu. Uma rápida conversão dos meus discos 24/192 (poucos, diga-se) para 24/96 resolveu o problema – já agora, fica aqui a indicação para quem precisa destas conversões: o EZ CD Audio Converte funciona muito bem. Outra particularidade do Denon é que, apesar de converter os sinais internamente para 32 bit, apenas aceita 24 bit por rede.

Comecei a minha audição experimentado a saída de auscultadores - área da qual não sou um grande entendido, diga-se. Munido de uns Focal Spirit One S (auscultadores de baixa impedância, 32 ohm), a saída de Denon proporcionou sempre níveis de volume sem reservas e um som cheio e espacial. Para utilizadores mais casuais, o DNP-2000NE cumpre muito bem o serviço e é muito prático para quando não se pode fazer ruído. Refira-se ainda que é possível alterar os parâmetros do amplificador de auscultadores para que ele se adapte o melhor possível à impedância especifica dos seus auscultadores - com três níveis distintos de ganho, os quais têm um relação directa com a impedância. No caso dos Focal mencionados, usar o modo low gain permitiu uma utilização muito mais precisa do botão de volume.

Passando para as colunas, liguei a saída fixa do DNP-2000NE por RCA a um Advance Paris A10, o qual alimentava umas Sonus faber Lumina II, um conjunto equilibrado, tendo em conta o custo de cada componente. Comecei então com quatro discos de jazz em trio de sopro sem suporte harmónico: Cherryco (2017) do trompetista norte-americano Kirk Knuffke, Jesus Loves Me (20213) do contrabaixista Hogyu Hwang, com o fantástico saxofonista norte-americano John Ellis, Jump (2022) da saxofonista tenor Julieta Eugenio, e Introducing Gerard Chumilla (2024) do saxofonista suíço Gerard Chumilla, com a primeira secção rítmica de Brad Mehldau (Rossy & Grenadier). Em todos os discos nota-se logo os acentuados graves do contrabaixo, com bom corpo e projecção. Os agudos do tenor e da trompete são presentes mas não em demasia - assim como os transientes da bateria, num bom equilíbrio entre clareza e presença sem ferir os nossos ouvidos. Quatro discos bem gravados e quatro discos muito bem reproduzidos.

Segui depois para o universo do rock e os discos Crime of the Century (1974) e Breakfast in America (1978) dos Supertramp, ambos numa, muito aconselhada, edição da Mobile Fidelity. O Denon conseguiu transmitir toda a energia e vida que esta música requer, sempre com uma boa sensação de palco e resolução, assim como de espacialidade, com a diversificada instrumentação dos Supertramp a encher o quarto de todos os lados.

Para concluir, ouvi um pouco de musica clássica, pelas mãos do pianista sul-coreano Seong-Jin Cho e o seu maravilhoso disco Debussy (2017, 24 bit/96 kHz) - no qual interpreta diversas peças do compositor francês em formato de piano a solo. O DNP-2000NE volta a portar-se muito bem e a dar a sensação de ser um produto que poderia muito bem estar noutra gama de preço, com uma reprodução irrepreensível de toda a emoção e sensibilidade que esta musica requer, com um destaque especial para os transientes do piano e para a delicadeza dos agudos.

Experimentei ainda, brevemente, utilizar o Denon apenas com a Heos ou apenas com o controlo remoto - «puxando» música de um servidor Plex instalado num NAS. Pela HEOS tudo funciona na perfeição, mas a experiência pelo remoto foi ainda mais interessante - relembrando as muitas horas passadas a ouvir CDs em décadas já distantes. Com um look muito 90s, e com a possibilidade de procurar musica com o remoto (ajuda ter a colecção muito bem organizada!), mudar de faixa ou andar para a frente ou para trás, há algo de retro no DNP-2000NE - numa era em que muitas marcas investem em ecrãs cheios de cor, o ecrã do Denon poderia estar num leitor de CDs de há vinte anos atrás, embora tudo se leia muito bem neste visor. Isto pode parecer uma critica, mas não - gostei muito desse lado nostálgico deste aparelho e creio que não serei o único, até porque o distingue claramente da concorrência – há algo de muito simples em pegar num controlo remoto, sem telefone ou aplicações, «passear» através de uma colecção de discos e pôr um a tocar.

Por curiosidade, fiz também uma breve comparação com o meu Cambridge MXN10 - e, claro, as diferenças existem, e grave seria se não existissem. O Denon soa melhor, inegavelmente, e mostra-se um produto de outra gama, mas continuo a ficar surpreendido com o quão bem o MXN10 se comporta e o quão acessível o bom áudio se tornou hoje. De qualquer forma, são produtos de gamas diferentes, o que torna a comparação injusta – teria curiosidade de fazer a comparação com o CXN100, mas infelizmente já regressou à precedência.

Conclusão

Para concluir, o DNP-2000NE simplesmente soa bem, provavelmente até com um nível de qualidade que o coloca acima de sua gama de preços e é uma opção excelente para os saudosistas do leitor de CDs que tenham uma colecção de musica bem organizada num servidor e queiram evitar aplicações. O perfeccionista em mim gostaria de ver saídas balanceadas, a par de um circuito de saída também ele balanceado, claro, um controlo de volume digital para melhor gerir o digital headroom e um controlo remoto mais adequado. E espero também que a Denon faça updates ao sistema HEOS para incluir Qobuz, Tidal Connect e Roon Ready - ficando assim muito mais próximo da concorrência. Mas não se pode ter tudo nesta gama de preço, e o DNP-2000NE compensa com uma boa saída de auscultadores, uma entrada HDMI ARC, um som muito natural e uma vibe anos 90 saudosista que muito me agradou. Mais um bom produto, num área muito competitiva, embora não tenha muita concorrência nesta gama de preço, diga-se. Se as características especificas do DNP-2000NE se adequam ao que procura, particularmente adicionar ao streaming uma entrada ARC para televisão, uma boa saída de auscultadores e um DAC para, por exemplo, um transporte de CDs, justifica-se muito ouvir este Denon. Oferece muito para o preço, e será uma boa companhia em sistemas até de outra gama.

Streamer/DAC Denon DNP-2000NE


Preço         1.598,99 €

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