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DAC Cinnamon Galle

DAC Cinnamon Galle

Jorge Gonçalves

24 abril 2024

Música com graça, elegância e muita energia


Já há alguns tempo que tinha ouvido aqui e além algumas menções sobre a marca Cinnamon mas só recentemente tive oportunidade entrar em contacto com o Ricardo Canelas, o seu projectista principal no que se refere aos equipamentos electrónicos e trazer até minha casa o Galle, um conversor D/A com algumas diferenças em relação aos conversores convencionais mas sobre isso falarei um pouco mais adiante. E falo no projecto de equipamentos electrónicos estar por conta do Ricardo porque, para além deste tipo de produtos, a Cinnamon também produz e comercializa colunas.

Foto 1 Cinnamon Galle

No domínio da electrónica dedicada ao áudio no domínio digital, a Cinnamon propõe três equipamentos todos sob a designação global Galle: um conversor D/A, um transporte digital em rede e um transporte digital para digital em rede. Os dois primeiros têm uma função facilmente discernível pela designação mas o nome transporte digital para digital faz-nos, no mínimo, coçar a cabeça. Mas, vistas bem as coisas, não é nada assim de tão complicado – trata-se no fundo, nas palavras da Cinnamon, de uma interface que fornece conectividade de entrada nativa para dispositivos de armazenamento conectados por USB, tais como NAS e discos externos, compatível como o protocolo de rede UPnP, com acesso simples a todos os serviços de streaming tais como Tidal e Qobuz e que, para além disso, é um Roon Endpoint; uma interface Web disponibiliza um vasto conjunto de estações de rádio por Internet bem como a gestão de fonoteca, sem necessidade de instalação de software ou aplicativos. Este transporte digital-digital implementa ainda nativamente funções DSP avançadas, bem como upsampling, embora, por defeito, seja feita a estas duas últimas funções um bypass para garantir um processamento interno bit-perfect.
Mas voltemos ao DAC Galle, pois é sobre ele que esta minha análise se vai debruçar e, para tal, comecemos pela…


Descrição técnica


Os olhos também comem, e muitos cozinheiros de grande renome, tal como Ferran Adrià do famoso El Bulli, com a sua cozinha molecular. E a primeira coisa que nos impressiona é a fisionomia totalmente diferente de tudo o resto que existe que o DAC Galle ostenta graças à sua construção nada convencional: o chassis é uma peça pesadíssima de alumínio fundido com uma peça circular de bronze na parte superior com um formato de pêndulo invertido, nas palavras do Ricardo, colado ao alumínio fundido através de um polímero viscoelástico que proporciona um amortecimento quase total de toda e qualquer vibração induzida externamente.  Na parte inferior e com um posicionamento exactamente oposto a esta peça, temos uma «tampa» de bronze com o formato de uma calote com a parte côncava virada para o interior do chassis, novamente por razões de controlo de vibração mas que, ao mesmo tempo, facilita o empilhamento de várias unidades. Isto embora tenha que se ter cuidado com a mesa onde os equipamentos sejam colocados pois cada um dos produtos propostos na linha Galle pesa algo como 30 kg, ou seja, há que procurar bem no mercado e garantir que a estrutura de suporte dos equipamentos resiste a, pelo menos, 100 kg! A superfície da caixa / chassis é encerada à mão com um composto policristalino, ficando esta assim protegida o contra manchas e corrosão. O maciço corpo metálico actua como uma blindagem eléctrica e electromagnética, protegendo os componentes internos de interferências externas e garantindo um funcionamento imune a vibrações externas.

Foto 2 Cinnamon Galle

A frente do DAC é o mais despojada possível, ostentando apenas no centro o logótipo estilizado da marca, com um furo para a passagem da luz do LED sinalizador da ligação da alimentação. O painel traseiro é uma peça de madeira com um acabamento que pode ser escolhido de entre 50 tipos de folheado, sendo a madeira protegida por cera de abelha e óleo de revestimento. Os conectores, todos Neutrik, incluem uma entrada coaxial S-PDIF, outra USB tipo B, saídas analógicas por RCA e XLR (balanceadas) e o indispensável conector Shucko equipado com fusível e interruptor de ligação.
No interior temos uma placa de circuito impresso de dupla face que ocupa toda a área interna do DAC e sobre a qual estão montados quer os dois transformadores de alimentação toroidais, que recebem a tensão do sector depois desta ter passado por um filtro de sector de alta qualidade, seguidos dos circuitos de rectificação e estabilização - nada menos de sete reguladores de tensão. Os transformadores são feitos por medida e têm uma blindagem magnética de mu-metal. O circuito digital principal contém o conversor D/A (uma placa independente com componentes SMD) e os circuitos de comutação do conversor «em escada» e de processamento – neste caso temos uma FPGA bem complexa que procede à conversão dos formatos de entrada para o bitstream antes de eles serem aplicados ao conversor. Trata-se de uma FPGA da Lattice com nada menos de 48 000 LUT (look-up-tables) e operações aritméticas a 54 bit, seleccionada pelo Ricardo de modo a poder executar o elevado número de operações necessárias, por exemplo, para as funções DSP e de upsampling. O firmware com o tratamento do sinal é desenhado pela Cinnamon e exige muitas operações para sinais com baixas taxas de amostragem.

Foto 3 Cinnamon Galle

O conversor desenvolvido pela Cinnamon é do tipo ladder de 27 bit, aliás são quatro conversores numa configuração diferencial dupla (dois por canal), os quais utilizam um total de 430 resistências de 0,01% de precisão, ajustadas para o valor final depois da placa do DAC ser montada porque são resistências de baixo valor e mesmo a quantidade de solda utilizada pode provocar pequenas variações no valor final. Temos aqui um conversor original, de construção extremamente apurada, pois só assim se consegue a precisão de 27 bit num conversor «em escada», já que o grau de precisão exigido para cada resistência, em especial para as que estão no final da escada, é elevadíssimo – entre a corrente máxima que percorre a malha de resistência e que define o bit mais significativo (MSB) e a corrente mínima, que dá origem ao LSB, temos uma relação de 1 para 134,217,728! Para garantir toda esta precisão para as 430 resistências, seleccionadas através de comutadores digitais integrados de alta velocidade, Ricardo confidenciou-me que, depois do circuito impresso ter sido assemblado este é enviado para um fornecedor externo para que as resistências sejam calibradas manualmente uma a uma! A tensão desenvolvida na «escada» de resistências é filtrada por um condensador e a saída faz-se directamente a partir desse condensador através de uma resistência de 600 Ω, ou seja, não há qualquer circuito integrado a funcionar como buffer entre o DAC e a entrada do prévio que se lhe segue, o que é muito pouco usual. O DAC Galle aceita na entrada USB sinais digitais PCM com resoluções até 384 kHz/24 bit e DSD até DSD256, e na RCA S-PDIF resoluções até 192 kHz/24 bit – esta entrada não permite processar sinais DSD. Os condutores utilizados nas ligações internas são de cobre estanhado com uma liga de alta qualidade, e foram seleccionados devido à sua neutralidade.


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