A referência em Blu-ray 4K
Começando pelo funcionamento do UDP900 em áudio puro, tenho que reconhecer que foi uma agradável surpresa: o reconhecimento do formato do disco é muito rápido, pelo menos quando comparado com um leitor de Blu-ray Marantz UDP9004 que tenho no meu sistema de cinema em casa e que leva tempos infindos a detectar o disco inserido. De um modo pouco habitual, as teclas de accionamento do sistema de leitura não incluem a universal tecla de reprodução identificada por um triângulo com o vértice virado para a direita, mas isto porque quando de prime a tecla de fecho da gaveta o leitor entra automaticamente no modo de leitura, dando também por defeito prioridade ao formato SACD no caso dos discos híbridos. E comecei por um dos meus discos favoritos dos tempos mais recente e já alvo da minha recensão crítica na Audio e Cinema em Casa, o Search for Eden / Travessia Nambam, de Yuki Rodrigues. E, como abordo no texto que escrevi em Novembro passado, tornei a descobrir coisas neste disco graças à marcante transparência e capacidade de resolução de detalhes do UDP900. O piano tinha mais reverberações nas notas, a velocidade da interpretação até pareceu ser maior e o arejamento e a reprodução do palco espacial fizeram com que a música enchesse ainda mais a minha sala. Bonito de ouvir, sem dúvida.
Passei para outro disco híbrido pelo qual tenho especial preferência, o Bailar Cantando, de Jordi Savall, de que ouvi com especial agrado a faixa 2 – Cachua a voz y bajo Al Nacimiento de Nuestro Señor, com as flautas a soarem alegres e festivas, e com a percussão nos graves a fazer um acompanhamento que complementava o som daquelas sem lhes retirar nada da sua vida e produzindo impactes fisicamente sentidos através da extensão e controlo das baixas frequências. Bonito e alegre de ouvir e ainda mais festivo e folgazão na faixa El Tupamaro, com um excelente contraste de vozes masculinas e femininas e um ritmo contagiante.
Prolongando todo o meu grado, seguiu-se Arthur Rubnistein a tocar o Concerto para Piano No. 2 em C Minor, Op. 18, de Serge Rachmaninoff. Para além de Maria João Pires, Rubinstein é um dos meus pianistas preferidos porque consegue aliar níveis de mestria, técnica e subtileza verdadeiramente incomparáveis. A peça que refiro foi remasterizada mas, ao contrário do que aconteceu em diversos outros, felizmente, toda a verve e energia de Rubinstein continuam presentes, com um diálogo pleno de nuances entre o sublime pianista e a orquestra de Filadélfia dirigida por outro mestre – Eugene Ormandy. O piano está ali a viver sob os dedos de Rubinstein, quase que com novos significados e novas qualidades, não só porque o pianista gostava de acrescentar sempre um pouco da sua inspiração do momento às peças que tocava, como porque o leitor da Magnetar como que me ajudou a olhar com pouco mais de atenção para dentro da música.
Com base neste elevado nível de qualidade de reprodução em áudio parti com marcantes expectativas para os visionamentos de imagem que se seguiram e não saí defraudado, antes pelo contrário. Um televisor OLED moderno com uma diagonal mínima de 65 polegadas é hoje em dia uma ferramenta excepcional para ver filmes, graças aos espectaculares níveis de negro que se conseguem obter e às tecnologias de fabricação de painéis mais recentes que permitem níveis de luminosidade já à altura de originais HDR.
E deixo aqui duas menções relativas a dois filmes, isto como sendo uma selecção das dezenas de horas de verdadeiro prazer que passei a ver filmes através do UDP900. Trata-se um Blu-ray 4K de 2001:Odisseia no Espaço e ainda de um Blu-ray do que foi considerado, tenha o valor que isso tenha, já que é sempre um risco fazer uma afirmação destas, «talvez o melhor filme de animação alguma vez produzido» - The Wind Rises (Vidas ao Vento, uma vez mais uma péssima tradução do título do filme para português), dos estúdios Gibli, de Hayao Miazaki, um mestre que muito admiro e de quem tenho em casa cerca de uma dezena de filmes em Blu-ray e DVD, faltando-me apenas quatro dos anos 70 e 80 que nunca encontrei editados no formato DVD ou Blu-ray.
Começando pelo imortal filme de Kubrick, agora em resolução 4K e com som dts HD- Master Audio, as imagens e o som deixam-nos verdadeiramente mesmerizados em frente ao ecrã pelos incríveis cambiantes de cor que se o leitor consegue reproduzir, pela profundidade e negritude das imagens do «espaço», simuladas em estúdio, creio eu, e pela envolvência do que se passa dentro da nave, com a luz que sinaliza a conversa com Hal a ganhar uma relevância que nunca tinha visto e a fabulosa banda sonora com Assim Falou Zaratrusta a inundar a minha sala de cinema de energia, vibração e naturalidade.
E passei depois ao filme de Miazaki que já tinha visto no leitor Blu-ray Marantz UD9004 e que tornei a ver agora depois do leitor da Magnetar fazer o upscaling para 4K. Chegado aqui vou ter que respirar um pouco pois fiquei praticamente sem respiração a ver as belas imagens deste filme. Miazaki é um verdadeiro mestre e tem uma equipa extraordinária de desenhadores no seu estúdio Gibli, onde a IA está pura e simplesmente proibida de entrar. São centenas e centenas de quadros (vinhetas) desenhados á mão que conferem uma impressionante sensação de realismo de movimento e verosimilhança de cores que chegam a colocar-nos dúvidas sobre se são reais ou foram criados por um desenhador, ou vários. A história tem a ver com a vida de Jiro Horikoshi, o desenhador de avião A6M, utilizado pelos japoneses na segunda guerra mundial e começa na sua infância, com especial destaque para a indefectível ligação com a sua noiva Nahoko Satomi, que faleceu com tuberculose. Os céus azuis e os avios completos até aos mínimos detalhes, a densa floresta cheia de verdes mais claros e mais escuros são algo que nos é apresentado de uma maneira sublime pelo UDP900, coma riqueza e uma saturação naturais das cores, com uma reprodução o mais natural possível dos movimentos, incluindo as devastadoras cenas do terramoto e o inesquecível apanhar do chapéu perdido ao vento, omnipresente no filme, são algo que nunca se esquece e que fica realçado de um modo quase perfeito pelo leitor da Magnetar, tanto que duvido que 99,9% das pessoas conseguirão perceber que não se trata de 4K puro.
Conclusão
O Magnetar UDP900 é sem dúvida a referência actual em termos de leitores de discos Blu-ray 4K: tem uma imagem irrepreensível, com cores forte, intensas mas sem nunca perder os detalhes, converte originais HD e Full-HD para 4K de tal modo que todos acreditarão que são originais UHD e em áudio pede meças a muitos leitores de CD/SACD de alta qualidade. Duvido muito que qualquer fabricante considere nos tempos actuais ou nos mais próximos criar uma equipa de desenvolvimento que consiga obter algo semelhante. Para quem gosta de imagem de alto nível e não faz concessões à qualidade sonora é uma compra recomendadíssima.
Leitor Blu-ray 4K/CD/SACD Magnetar UDP900
Preço 3 049 €
Representante Ajasom