O fiel mensageiro
Audições
O Luxman D-07X foi ligado ao servidor / streamer Aurender ACS10, tendo a amplificação ficado a cargo do conjunto habitual Accuphase C-2150/P-7300. A dar voz ao sistema estiveram as colunas Perlisten Audio S7t. A cablagem incluiu o cabo digital Audioquest Carbon USB, enquanto na interligação analógica balanceada estiveram os Kimber Select KS-1121 e Kubala-Sosna Fascination e nas colunas os habituais Kimber Select KS-3033.
Lista de obras escutadas durante as audições
• R. Wagner, The Ring, An Orchestral Adventure, Orq. Nacional Real da Escócia, Neeme Järvi, SACD (Chandos)
• Carl Orff, Carmina Burana, Coro e Orq. Sinfónica de Atlanta, Robert Shaw, SACD, Telarc
• L.v. Beethoven, Concerto p/piano nº 2, Op.19, Maria João Pires, Orq. Sinf. Londres, Bernard Haitink, SACD, LSO
• R. Vaugham Williams, A Sea Symphony, Susan Gritton, Gerald Finley, Coro e orq. Sinf. Londres, Richard Hickox, SACD, Chandos
• Patricia Barber, Café Blue, CD, Premonition Records
• Joe Morello – Take Five, Tidal
• Jazz at the Pawnshop, CD, Prophone
• Mike Oldfield, Crisis, CD, Virgin Records
• Diana Krall, The girl in the other room, Tidal
• James Newton Howard & Friends, Slippin Away II, Tidal
As audições do Luxman revelaram um leitor digital capaz de oferecer uma rendição do evento musical com uma notável claridade, abertura e transparência, características que se evidenciaram desde as primeiras audições. O L-07X possui realmente a capacidade de penetrar no âmago das gravações e expor com total facilidade a intricada complexidade de um contraponto, das nuances tímbricas dos instrumentos e das relações dinâmicas entre si.
Uma das primeiras obras que escutei foi A Sea Symphony , de Vaugham Williams, uma obra para coro e grande orquestra. A obra inicia-se com um tema entoado pelas trompetes e trompas, com uma entrada em fortíssimo do coro logo no segundo compasso entoando a frase “Behold the sea itself”. O que é curioso é que sobre a palavra “sea” desenvolve-se uma explosão orquestral que tem habitualmente o efeito de apagar do coro a percepção de “itself”, até porque o coro canta inicialmente num registo muito agudo (vozes de soprano em Fa#) mudando subitamente para um La na palavra “Itself”, um registo muito mais grave que é facilmente abafado pela prestação da orquestra e que tem como consequência que raramente se percebe o texto cantado. Esta audição com o Luxman surpreendeu-me por a palavra “itself” ter surgido perfeitamente perceptível, apesar do fortíssimo na orquestra, o que ficará a dever-se, estou certo, à transparência da electrónica do D-07X mas também, certamente, à característica claridade que empresta à reprodução musical que faculta uma fácil destrinça dos diversos elementos que constituem o evento musical.
O palco sonoro do Luxman é adequado, amplo e tridimensional, mas sem exageros, sendo particularmente impressionante a focagem e nitidez que empresta individualmente aos elementos em palco mais do que a transmitir uma falsa sensação de um espaço enorme, como por vezes se assiste.
Globalmente a sonoridade do Luxman é de uma notável liquidez, com uma apresentação sedosa que propicia audições relaxantes e isentas de quaisquer vestígios de cansaço, tanto como leitor de discos CD/SACD como a funcionar como DAC ligado ao streamer Aurender ACS10 que me permitiu longas horas de audições via Tidal. Sempre coerente ao longo de todo o espectro de frequências, sem variações de cor, dinâmica ou temperamento, embora a assinalável transparência possa denunciar facilmente gravações de menor qualidade. Mas não se pode culpar o mensageiro pela fraca qualidade da mensagem. E nisso o Luxman provou ser um fiel mensageiro, entrega, incólume, a mensagem que o mandam entregar.
O registo grave possui a extensão e o poder necessários a um completo suporte do edifício musical, denotando uma excelente articulação e uma óptima definição tímbrica. A passagem para os registos médios faz-se sem quaisquer descontinuidades aparentes, o que concorre para a coesão e coerência do todo. O Concerto nº 2 para piano e orquestra de Beethoven, uma gravação SACD com a Maria João Pires e Bernard Haitink na direcção da Orquestra Sinfónica de Londres, soou particularmente expressivo com uma fabulosa reprodução do piano, sem descurar o importantíssimo acompanhamento orquestral que nunca se viu relegado para segundo plano, antes revelando com o necessário pormenor a escrita orquestral de Beethoven de um modo tão convincente que simplesmente nos convida ao usufruto pleno da música.
O registo agudo comunga da mesma clareza de tom e suavidade de apresentação, harmoniosamente integrado com a gama média, explícito, mas também sempre muito sedoso, sem distorção ou arestas que provoquem algum tipo de desconforto auditivo. Como tal, é um verdadeiro prazer ouvir com este D-07X como um naipe de violinos soa vivo mas não áspero, intenso mas detalhado e com uma precisão tímbrica que permite uma correcta e imediata distinção entre os primeiros e segundos violinos ou entre estes e as violas, fazendo-nos esquecer o processo de reprodução musical e convidando-nos à fruição pura e simples da música. Surpreendentemente, o D-07X que tão bem se destacou com música sinfónica, não se intimidou com as batidas mais modernas e electrónicas, soando poderoso e dinâmico com a bateria de Joe Morello e impondo uma presença surpreendente da Diana Krall em The girl in the other room.
Conclusão
Enquanto existirem fabricantes a lançar produtos como este Luxman D-07X não me parece que a profecia a que aludi no início deste artigo se possa concretizar. Um leitor digital que exibe uma qualidade de construção exímia aliada a uma electrónica sofisticada, resultam num modelo capaz de garantir ao seu feliz proprietário muitos anos de música reproduzida ao mais alto nível. Junte-se a isto a capacidade de funcionar com um excelente conversor D/A para tirar partido da música via streaming e temos um equipamento que se assume como de audição obrigatória por todos os amantes de música.