Um streamer / transporte digital / prévio de alto nível
Depois do (já aqui analisado) DMP-A6 e da Master Edition do mesmo, a EverSolo apresenta agora o seu terceiro streamer / DAC, o DMP-A8 - que representa um salto considerável de gama de preço e que inclui também um circuito de préamplificação com volume R2R e o respectivo controlo remoto. Contrariamente aos A6, que usavam chips ESS, o DMP-A8 vem equipado com os recentíssimos AK4499EXEQ (o chip que faz a função de DAC) e AK4191EQ (que se encarrega do DSP). Começando já por aqui, existem funções DSP bastante avançadas como um equalizador paramétrico ou um prévio digital mas estas funções implicam obrigatoriamente um resampling para 48 kHz (o que eu preferi evitar).
«Nota do editor: uma leitura atenta nas entrelinhas das folhas de especificações do AK4499EXEQ e do AK4191EQ permitiu concluir que esta combinação de DAC e DSP aceita sinais DSD com frequências de amostragem até 44,8 MHz, um valor algo estranho, já que no melhor dos casos as especificações do formato DSD puro indicam uma frequência de amostragem de 45.2 MHz, mais exactamente 45,1584 MHz. A única conclusão a tirar é que este circuito integrado aceita realmente sinais DSD, que utilizam uma codificação a 1 bit, e reconverte-os para um formato interno que utiliza uma codificação proprietária entre 5 a 7 bit. Aliás, uma vez que o AK4499EXEQ utiliza a tecnologia de conversão de comutação de resistências, derivada da codificação multibit, só conseguirá ter as especificações que tem se o DAC utilizar múltiplas resistências, com pesos diferentes em termos dos níveis de corrente gerados por cada uma. Note-se que uma situação idêntica acontece com um sinal PCM: qualquer que for a sua resolução original (16, 24, 32 bit ou outra qualquer) internamente existe sempre uma conversão para o formato de 5 ou 7 bit inerente ao DAC da AKM. De certo modo, de acordo com a folha de dados (datasheet), a combinação destes dois chips separa o antigo AKM 4499 em dois chips, um que aceita os sinais de áudio PCM ou DSD, reconverte-os para 7 bit e aplica-os ao um modulador Delta-Sigma (este é o AK4191EQ); o outro é o AK4499EXEQ que é um conversor puro, aceitando o sinal Delta-Sigma a 7 bit do AK4491 e convertendo-o para analógico – ver o diagrama abaixo:
Por outro lado, no fórum Audiophile Style, o criador da aplicação de reprodução de ficheiros digitais de áudio HQ Player Jussi Laako, que utiliza o pseudónimo Miska, revela mais alguns aspectos interessantes que não foram tornados públicos pela AKM e que demonstram que quer a folha de dados quer o diagrama de blocos acima apresentado não estão totalmente correctos. Assim, e embora o que indiquei relativamente ao processo de conversão e à conversão quer de ficheiros DSD quer PM para PWM a 7 bit estar totalmente correcto, há uma ligação e um conjunto de comutações não documentadas que possibilitam que o sinal DSD siga um percurso directo para o DAC AK4499EXEQ, o qual pode funcionar com fluxos DSD128 ou DSD256, com modulações de 33, 65 ou 129 níveis, com um de dois filtros a poder ser aplicado, o que dá origem a 6 possibilidades de escolha (7 com a aplicação directa de DSD 512 ao AK4499EXEQ). É confuso, a AKM não diz nada sobre isso, mas Miska confirmou todas estas possibilidades através de medições (ver o link AK4191 + AK4499EX). Aliás, segundo John Westlake, um dos designers mais conceituados da ESS, me confidenciou em tempos, todos os fabricantes de chips têm segredos que não querem tornar públicos e por isso mesmo publicam folhas de dados dos mesmos em que omitem propositadamente blocos de ligações. A vida dos que desenvolvem circuitos complexos não é fácil e talvez seja por isso que John se aposentou com pouco mais de 40 anos de idade!»
De resto, o A8 faz (praticamente) tudo. Tem uma entrada analógica por RCA ou XLR e uma plenitude de entradas digitais: duas ópticas, duas coaxiais, uma HDMI ARC (para uma televisão) e uma USB. Em termos de saída, temos claro a saída analógica por XLR (balanceada) e RCA, mas também muitas saídas digitais: uma óptica, uma coaxial, uma USB e uma I2S, a “conexão” da moda nestes dias, digamos assim. A popularização deste protocolo deveu-se muito à PS Audio, que o retirou de dentro dos DACs e leitores de CDs, e o colocou num conector HDMI. É muitas vezes comparado à ligação USB, porque permite também enviar ficheiros de grande dimensão, em formatos tais como DXD ou DSD, mas é uma ligação do tipo síncrono, o que significa que o sinal de clock está dependente da fonte, ao contrário do USB, que entrega apenas “informação”, ficando o sinal de clock a cargo do DAC. Não tenho nenhum DAC comigo que tenha uma entrada I2S para fazer o teste e comparar os resultados com a ligação USB, já ouvi muitas histórias de grandes melhorias conseguidas com um DDC (digital to digital converter) que converte precisamente de USB para I2S (ou outros), mas nunca testei. Se o leitor tiver um DAC com ambas as entradas, e usar o A8 como transporte digital, experimente ambas - será interessante, de certeza (para confundir aqui as coisas, há 6 arranjos de pinos diferentes para a ligação I2S e é preciso garantir que o arranjo de ligações da ficha HDMI disponibilizada no A8 é o mesmo da ficha existente DAC e ainda que o cabo é igualmente compatível…)
Continuando com mais algumas características (são mesmo muitas): lê ficheiros MQA, assim como PCM e DSD; permite acrescentar um disco interno SSD com capacidade até 4 TB e ser usado como servidor, sendo que agora há bastantes serviços adicionados ao firmware (para música recomendo o Jellyfin e o Symfonium para controlo em ambiente Android); temos também agora um sistema de alimentação híbrido, com um transformador a alimentar a parte analógica e uma fonte de alimentação do tipo comutado para a secção digital; vários filtros digitais à escolha (e, tal como no A6, quase não se notam as diferenças); e o mesmo lindíssimo ecrã deste último com os seus vuímetros.
Para reprodução de música temos uma entrada para uma pen USB, todos os serviços de rádio e streaming imagináveis e os protocolos TIDAL Connect, AirPlay, Bluetooth e DLNA. Não vejo qualquer referência ao protocolo Roon, o que é de estranhar (embora o Roon não tenha certificado muitos produtos recentemente, talvez devido à recente venda da empresa à Harman / Samsung). Também não consegui entender de maneira clara e inqequívoca se os ficheiros DSD são lidos de forma nativa, o que geralmente acontece com os chips AKM (mas não nos ESS, ao contrário do que muito falso marketing por aí apregoa) mas que costuma implicar uma opção de ligar / desligar. Não havendo essa opção e sendo estes chips da AKM completamente diferentes dos anteriores, fica o mistério (embora nos fóruns se diga que sim, que lê DSD nativo – vale o que vale, dependendo do fórum em causa 8também há os que dizem que não), mas nada como ler outra vez a explicação apresentada no início do artigo).