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Musical Fidelity A1

Musical Fidelity A1

Miguel Marques

11 dezembro 2023

Música em primeira classe


Tem havidos nos últimos duas tendências opostas nos amplificadores de alta-fidelidade - parte da indústria tem-se dedicado a amplificadores all in one, já não apenas com DAC mas muitas vezes com streaming incluído, enquanto outra parte se tem dedicado ao regresso nostálgico dos amplificadores exclusivamente analógicos.

É nesta última categoria que se insere o amplificador aqui em análise, o integrado A1 da Musical Fidelity, uma reedição do mesmo modelo lançado originalmente em 1985 e que gozou de muito sucesso na época e de várias versões ao longo dos anos 80 e 90 (tendo inclusive já havido uma reedição do mesmo em 2008, embora muito diferente do original). No entanto, esta nova edição, de 2023, é muito fiel ao original, embora o circuito tenha sido revisto para incluir algumas melhorias que o conhecimento de várias décadas produz (e com componentes mais tolerantes às altas temperaturas que este amplificador gera).

MF-A1-1

Trata-se então de um amplificador completamente analógico (e discreto), que nos proporciona 25 W de “Classe A pura ” (expressão da marca) com uma impedância de 8 ohm e 36 W com impedâncias de 4 ohm (parece haver alguma controvérsia em relação ao modelo original, havendo quem alegue que a partir dos 8 W funciona em Classe AB, havendo quem argumente que funciona sempre em Classe A - e os meus rudimentares conhecimentos de engenharia electrónica não me permitem saber quem está certo). Posso confirmar, aprofundando mais à frente, que tem o som quente e aveludado que tradicionalmente associamos a amplificadores Classe A ou a válvulas.

Como uma pequena nota inicial, percebo que alguns potenciais clientes se interroguem se em 2023 é boa ideia comprar um amplificador sem qualquer circuito digital. Na minha opinião, sim - na realidade nem nunca pensaria construir um sistema de outra forma, a não ser que haja restrições de espaço ou orçamentais que sugiram um amplificador tudo-em-um. Basta seguir com alguma atenção o mercado de alta-fidelidade para perceber que a velocidade a que se move o mercado digital (DAC, streamers, etc.) é infinitamente superior à velocidade a que se move o mercado analógico (amplificadores, colunas, etc.). Um sistema que tenha, por um exemplo, um streamer com DAC com um amplificador integrado totalmente analógico e um par de colunas é ainda um sistema bastante pequeno mas muito mais preparado para durar muito tempo - havendo uma boa probabilidade de ter de se actualizar o streamer com DAC ao fim de alguns anos; um bom amplificador e umas boas colunas hoje, ainda o serão daqui a muitos anos.

Passemos então para as características deste A1 - que viu alguns melhoramentos em relação ao original. Para além de um novo transformador, as duas principais queixas do A1 original, o potenciómetro de volume e a ausência de controlo remoto, foram resolvidas - temos agora um novo potenciómetro de qualidade (daqueles que faz ruído mecânico quando roda) e um controlo remoto pequeno e minimalista mas que funciona bem, tendo apenas controlos de mais ou menos volume e mute - aqui gostaria apenas que os saltos de volume do controlo remoto fossem um pouco mais suaves, para melhor permitir regular o volume.

MF-A1-2

A outra queixa comum em relação a este produto (a temperatura) não foi no entanto resolvida, e provavelmente isso seria impossível dado o tipo de circuito e o tamanho do amplificador. Fica então a nota - o A1 é QUENTE, em funcionamento. Muito quente. Não se recomenda, de todo, que se coloque seja o que for em cima dele - e caso haja crianças ou animais em casa, deve haver bastante cuidado. É também uma boa ideia desligá-lo sempre que não está em uso, por questões de fiabilidade e da conta da electricidade. Fica o aviso e fica também por saber se esta temperatura de funcionamento pode (ou não) trazer problemas de fiabilidade no longo prazo.

Mesmo na categoria “amplificador exclusivamente analógico” há produtos com mais oferta que outros, e o A1 é um minimalista dentro de uma categoria já minimalista por si. Temos algumas entradas de linha, toda RCA, uma entrada de phono (aqui não testada, mas de muito boa fama), e pronto. Se o controlo remoto foi uma excelente adição, poderíamos ter visto algumas mais: entradas XLR, igualizador, controlo de balanço, saída para auscultadores ou comutação A/B para as colunas (como em tantos outros amplificadores desta época). Mas o A1 é feito para ser o mais simples possível, e depois de o ouvirmos, não sentimos falta de nenhuma destas características.

Uma nota final ainda para a função normal/dfirect - que quando activada retira o acréscimo de 10dB de ganho presente no préamplificador. Esta função pode ser particularmente útil se usarmos uma fonte com saída elevada (não é incomum alguns DACs ou streamers nos dias de hoje enviarem 4 ou 5 V através da saída de linha, ao contrário dos normalizados 2 V) ou colunas com alto rendimento (100 dB ou mais). Nestes casos pode ser difícil regular bem o volume e retirar 10 dB de ganho pode ajudar, e muito - no meu caso específico isso não foi necessário, porque o meu streamer envia “apenas” 2V (e eu ainda retiro mais uns dB em atenuação digital) e as minhas colunas não são particularmente sensíveis.

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