O streaming de alta resolução a preço acessível
Se há uma marca que tem sabido adaptar-se ao hi-fi moderno, essa marca é a Cambridge Audio. Seja na capacidade de oferecer qualidade a um preço competitivo (equivalente a muitas marcas asiáticas), seja na forte aposta no áudio digital - com uma equipa de tamanho significativo ao nível de software e com vários produtos em diversas gamas de preço no mundo dos streamers, quase todos com excelente reputação e uma longa lista de prémios dados pela imprensa especializada.
A mais recente aposta da marca são os streamers AXN10 (aqui em resenha) e MXN10 - idênticos no seu interior – o MXN10 é mais pequeno e um pouco mais barato, enquanto o AXN10 é maior e um pouco mais caro, para que o cliente possa melhor adaptar ao tamanho dos restantes equipamentos do seu sistema –, sendo também possível que o AXN10 soe melhor, não porque tenha um circuito melhor (como disse, é o mesmo) mas porque uma caixa maior pode permitir uma maior separação entre componentes. Apostando cada vez mais nos chip ESS (herança do DAC Magic 200M) e com a plataforma Stream Magic por trás, a minha curiosidade era muita - apesar de tudo, a Cambridge não tinha até hoje explorado este segmento de mercado. Será que consegue manter as qualidades que se lhe reconhecem, a este nível de preço?
O setup, como em outros produtos, foi muito simples - cabo Ethernet, instalar a App, fazer o tradicional update de firmware e pôr música a tocar. Como de costume fiz alguns testes simples para testar as muitas funcionalidades destes produtos, só para confirmar que tudo estava a funcionar. Roon Ready, Tidal Connect, AirPlay e Chromecast Audio, todos funcionam na perfeição - é até possível conseguir Chromecast Audio gapless com a aplicação Hi-Fi Cast para Android ou com o Roon. Outra notícia ainda melhor - o protocolo UPNP/DLNA é também gapless e funciona na perfeição. É ainda possível ligar uma pen ao AXN10 ou, através da App, aceder a muitas rádios ou a qualquer NAS/servidor presente na rede. A App está acima da média, funciona sem falhas, mas tem uma apresentação visual ainda inferior ao que se faz de melhor hoje em dia, seja Roon seja Symfonium. Continuo, portanto, a recomendar o uso de programas externos e o aproveitamento do excelente pacote de protocolos que o AXN10 apresenta - para este teste específico foi usado um portátil com ficheiros FLAC e o Foobar ou um tablet Android com o Symfonium e um servidor externo Jellyfin. Ambos providenciam um excelente menu now playing e um protocolo UPNP/DLNA sem quaisquer falhas.
Antes de começar, algumas pequenas notas iniciais:
1) Este produto não tem quaisquer entradas digitais, portanto não funciona como DAC
2) Tem, no entanto, duas saídas digitais, uma óptica e outra coaxial, o que permite ligar a DACs externos, aumentando a durabilidade potencial do mesmo
3) As saídas analógicas são apenas RCA, não há saídas XLR; pessoalmente, gostaria de ter saída analógica XLR e saída digital USB, mas compreende-se que nesta gama de preço isso não seja possível (ou, já agora, uma ou duas entradas digitais)
4) O MQA não está disponível, o que para mim é uma boa notícia, mas para quem goste do formato poderá não ser.
5) Com o novo firmware foi adicionado um controlo de volume digital mas, infelizmente, aparece em formato 0-100, e a marca explicou-me que não há forma de alterar para decibéis.
7) Todos os produtos da Cambridge têm uma curiosa característica - na parte de trás, os nomes de cada entrada estão escritos em ambas as direcções, sendo portanto possível de ler o nome das entradas quando abordamos o produto “pela frente”. É uma daquelas ideias que, sendo tão simples de implementar e tão prática para quem utiliza, é um pouco revelador sobre a indústria da alta-fidelidade que absolutamente nenhuma outra marca (que eu saiba, afinal de contas há muitas…) tenha até hoje copiado este ideia da Cambridge (sendo brilhante, a ideia não é nem patenteável nem cara de implementar). Seria desejável que assim acontecesse, não custa reconhecer as boas ideias dos outros e adoptá-las, e todos ganhávamos - muitas vezes, já que (desnecessariamente) arrastar uma mesa ou desligar cabos só para ler o nome de uma entrada não é necessariamente a coisa mais conveniente.
7) Não há saída de auscultadores e o protocolo Bluetooth não é bidireccional, pelo que não se torna fácil o uso com auscultadores mas claro que se pode sempre usar a saída RCA para ligar a um amplificador preparado para o efeito.
8) Contrariando a nova tendência de apresentar um grande e colorido touch screen, o painel frontal do AXN10 é do mais minimalista que se pode imaginar - cinzento, linhas simples, e apenas um botão de ligação e um indicador de Internet do lado esquerdo e quatro botões de controlo do lado direito. Não há sequer um simples menu e tudo tem de ser feito pela App (o que significa também que, à excepção da caixa, todo o restante investimento foi aplicado no circuito áudio)
9) É o primeiro streamer que testo que não soou necessariamente melhor quando fiz upsampling prévio à música: por várias vezes consegui retirar resultados positivos deste processo e outras vezes consegui resultados marcadamente diferentes do som original, mas não necessariamente melhores ou piores. O AXN10 gosta de receber os ficheiros na sua resolução original, embora aceite bem um bit depth de 32 bits.
10) Para quem goste de combinar as cores dos produtos, o AXN10 só existe em cinzento mas o MXN10 existe também em preto.