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Teste – Cambridge Audio AXN10

Teste – Cambridge Audio AXN10

Miguel Marques

22 outubro 2023

O streaming de alta resolução a preço acessível


Audições



Comecei então a minha audição com o disco de 2023 Trio, do pianista de jazz Julian Shore (qualidade de CD) - e a primeira impressão foi logo positiva. Enquanto alguns dos testes que fiz recentemente incidiram sobre marcas que ainda não conhecia, e portanto quase não havia expectativas predefinidas, o AXN10 pertence a um fabricante que conheço bem e do qual creio nunca ter ouvido um produto de que não gostasse. Este preconceito à partida pode sempre ser interpretado de duas maneiras - posso já estar condicionado a gostar do produto mas posso também ouvir com uma expectativa alta que depois não se cumpre. Seja de que forma for, gostei logo do AXN10 - tal como outros produtos digitais recentes, creio que as marcas de alta-fidelidade abandonaram um pouco a ideia de tornar o som dos streamers artificialmente quente, tentando simular um som pseudo-analógico, e dedicaram-se a assumir as muitas vantagens de um produto digital bem concebido - definição, clareza, detalhe, separação instrumental, um palco substancial, transientes muito presentes e in your face. Mais do que no piano, é na bateria de Allan Mednard e no contrabaixo de Martin Nevin que reconhecemos essas qualidades (diga-se também que a própria qualidade média das gravações de jazz, felizmente e tardiamente, subiu consideravelmente nos últimos anos). O timbre do contrabaixo é particularmente impressionante.

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O próximo disco na minha audição foi o clássico Unplugged, de Eric Clapton (1992), aqui na cuidada edição (ripada) em CD da Mobile Fidelity (apesar dos mais recentes escândalos em volta desta marca, continua a ser uma das minhas preferidas em remasterizações, mais até do que a Analogue Productions). Um dos melhores discos, em qualidade musical, destas séries tão em voga nos anos 90, não é um disco de máxima qualidade de gravação e é uma boa forma de escutarmos o AXN10 no contexto “discos sem uma qualidade de gravação fenomenal”. Este é aliás um dos “problemas” do salto de qualidade dos produtos de alta-fidelidade de gamas mais baixas - torna-se cada vez mais difícil de ouvir gravações menos conseguidas. Não é o caso aqui, a voz e a guitarra acústica de Eric Clapton soam muito bem e o AXN10 eleva até a prestação habitual deste disco no meu sistema, agora com mais corpo e presença que o habitual.

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Da música acústica passamos para o rock n’roll e a edição (remasterizada e em alta resolução) comemorativa dos 30 anos do clássico Appetite for Destruction, dos Guns N’Roses (1987). Provavelmente é a edição melhor conseguida musicalmente e em qualidade de som da banda americana (os Use You Illusion são uma prova do mal que faz às bandas de rock terem dinheiro a mais, embora as edições remasterizadas de 2022 de ambos os discos tenha corrigido muitos dos problemas sonoros que as edições originais tinham) e soa nesta edição como sempre devia ter soado, muito crua e agressiva, tal como a própria banda (que conseguiu, no final dos anos 80 e princípio dos anos 90, um improvável regresso ao hard-rock puro e duro dos Led Zepplin e dos Aerosmith, regresso esse que o grunge se encarregaria, infelizmente, de logo a seguir ferir mortalmente, sem vestígios de ressurreição até hoje). O AXN10 apresenta música agressiva com naturalidade e, como diria o poeta, não aumenta nem exclui - transmite apenas, sem obstáculos, a voz ora cadavérica ora estridente de Axl Rose assim como a Les Paul inimitável de Slash, infelizmente o último dos guitar hero (excepção feita talvez a John Mayer, num registo muito diferente). Os discos dos Guns têm sido aliás uma dificuldade crónica no meu sistema, mesmo nestas novas versões remasterizadas - o streamer da Cambridge deu-me os melhores resultados até agora. Isso mostra uma característica que já encontrei em outros produtos da marca: lida muito bem com todos os géneros, como lida muito bem com gravações menos conseguidas - não tem nenhuma especialidade, mas também nenhuma insuficiência. Noutros produtos, experimentei sons divinais e sons sofríveis - com os Cambridge, tudo soa bem e natural. Pode não parecer, mas é um grande elogio - especialmente para quem não está disposto a sacrificar a qualidade musical da sua biblioteca para privilegiar qualidade de som (e que pena é não andarem mais vezes de mãos dadas).

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Por fim, um pouco de música clássica, com dois discos da Filarmónica de Praga, um dedicado à música dos filmes Harry Potter (maioritariamente composta pelo inevitável John Williams, mas também por outros) e o outro à música de Howard Shore para as sagas Hobbit e Senhor dos Anéis. A música de ambos é maravilhosa e é reproduzida de forma perfeita pela orquestra checa, em duas gravações de boa qualidade. Mais uma vez o AXN10 adapta-se sem dificuldade, e a música é tocada sem esforço ou artificialidade, sem frequências acentuadas ou diminuídas. Nota-se também uma excelente organização da informação musical - os instrumentos não se embrulham mas também não soam desligados uns dos outros, e parecem sempre espacialmente colocados no sítio certo.

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Por curiosidade final passei rapidamente pelo disco Red Garland’s Piano (1957), do pianista homónimo, um dos melhores discos de jazz “tradicional” que já ouvi. Escolhi este disco porque está no espectro exactamente contrário aos discos anteriores, com um palco muito pequeno e contido, a tentar simular a intimidade de um clube de jazz. E o AXN10, uma vez mais, adapta-se sem dificuldade e soa desta vez intimista em vez de expansivo - é esta outra dificuldade que vou encontrando regularmente, encontrar componentes que representem bem a escala de um grupo e que consigam acomodar tanto o acolhedor como o avassalador. Notável.

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Conclusão


O AXN10 é um excelente produto a um excelente preço (e o irmão mais novo, o MXN10, é ainda mais barato). É, num certo sentido, um produto que vai no sentido contrário do mercado - não serve como DAC, não tem saída de auscultadores, touch screen ou sequer menus. É, apenas e só, um excelente streamer (ou transporte digital, se bem que creio que poderá beneficiar de um DAC de topo para chegar a um grande salto qualitativo) com um design simples e minimalista. Adapta-se com facilidade a qualquer género de música e a gravações de inferior qualidade, característica típica dos streamers desta marca - pode não ser o produto que mais brilha em discos específicos mas soa muito bem de forma surpreendentemente consistente, seja qual for a fonte. Creio que haverá um cuidado particular da marca em associar objectividade (produtos bem desenhados de um ponto de vista de engenharia) com subjectividade (submetendo os produtos finais a testes rigorosos, com vários sistemas e estilos de música, garantido que não só funcionam bem mas também que soam bem). Tem todos os protocolos imagináveis em formato gapless e uma App que, não sendo perfeita, está claramente acima da média.

Vou-me apercebendo que, apesar de muitos audiófilos se terem convertido ao áudio digital nos últimos anos, muitos outros ainda não o fizeram ou fizeram-no com soluções de má qualidade, usando o Spotify ou o Bluetooth. O produto aqui testado é uma excelente introdução ao áudio digital lossless, permitindo ao leitor descobrir que solução prefere (streaming, ficheiros, Roon, computador, tablet, etc…) por um preço moderado, sendo possível mais tarde avançar para peças de outra qualidade (e outro preço) com muito melhor conhecimento sobre este mundo. Testei o AXN10 num sistema relativamente modesto, mas não vejo qualquer razão para que não soe igualmente bem em sistemas de maior qualidade. Recomendado.


Streamer Cambridge Audio AXN10



Preço       599 €

Contacto* Imacustica

*Nota: o equipamento testado foi-nos fornecido pela Imacustica mas é possível encontrá-lo à venda em diversas outras lojas tais como: José Lopes Marques, my Hi-Fi House, BimotorDJ, Maquimsom, Mestres da Música e outros mais.