Um Streamer/DAC/Prévio revolucionário
Por fim, se não tem ficheiros e apenas usa streaming, temos o Tidal Connect - do ponto de vista técnico, uma grande solução e que espanta não ser mais generalizada (para além do Spotify, nenhum outra marca de streaming adoptou este protocolo, embora o Qobuz indique que até ao fim do ano concretizará também um modelo similar). A grande vantagem desta solução é que não necessita de nenhum protocolo sem fios para transmitir música: o dispositivo usado (computador, smartphone, tablet) serve apenas como controlo remoto e todo o processamento de áudio é feito dentro do streamer, neste caso o DMP-A6 (que permite ainda, descodificar os ficheiros MQA que o Tidal proporciona, embora esta suposta vantagem já não deva durar muito, com o Tidal (finalmente) a migrar para ficheiros de alta resolução, em detrimento do MQA). Portanto, é muito mais improvável haver alguma quebra de sinal - para além de que nos permite usar o software original do Tidal (embora aqui a diferença para a App da Eversolo seja muito pequena, noutros casos a vantagem é mais sensível) e o gasto de bateria é muito menor, caso o seu dispositivo seja um smartphone ou tablet. É aliás, cada vez maior o número de streamers que nem têm App, apenas estes protocolos de comunicação. Fiz ainda um pequeno teste com o iTunes e o protocolo AirPlay e tudo funcionou na perfeição e gapless - embora, em ambiente Windows, a Apple não se digne a proporcionar uma experiência lossless, nem no iTunes nem na Apple Music. Foi também testada a entrada USB-C (mini) para ligar directamente o portátil e também aí tudo funcionou como devia, após a instalação dos devidos drivers.
Audições
E, portanto, depois de pôr tudo a funcionar, como soa o DMP-A6? Muito…muito bem e muito acima do que seria expectável nesta gama de preço. Não é um som particularmente quente ou orgânico mas muito detalhado, preciso, cheio de resolução e com um palco enorme, com muita sensação de espaço (fiquei curioso até de o ouvir num espaço maior). Há alguns anos, os DACs e streamers com chips Sabre podiam soar um pouco frios ou digitais, mas esse tempo já lá vai - neste momento poderão ser cada vez mais classificados como neutros, no melhor sentido da palavra; não há sensação de nenhuma “cor” adicionada. Graves muito presentes, médios delicados e agudos claros mas não demasiadamente acentuados, é o som digital no seu melhor ao invés do digital a tentar soar a analógico. Como escrevi acima, a sensação de palco é talvez o mais impressionante, tanto em largura como em profundidade, característica que só tinha ouvido até hoje em produtos muito mais caros.
O primeiro disco ouvido foi Rosa, da cantora e guitarrista brasileira, Rosa Passos. Num disco a solo, de violão e voz, em que canta vários clássicos da Bossa Nova, os dois instrumentos soam vivos e próximos, como se à nossa frente (a qualidade da gravação ajuda). Como disse acima, o som é neutro, no sentido em que não há quase introdução de coloração ou artefactos.
Em seguida, a cantora cabo-verdiana Mayra Andrade e o seu disco de estreia, Navega. Com muitos instrumentos diferentes - o primeiro impacto vem dos graves do baixo, com uma presença e uma força inabitual no meu sistema (mas não exagerados, atenção). A separação de instrumentos nestes casos é quase sempre difícil - pouca separação e os instrumentos não se distinguem uns dos outros; demasiada separação, os instrumentos distinguem-se mas o som perde coesão. O DMP-A6 consegue em excelente equilíbrio entre estes dois lados da balança
Numa mudança algo radical, ponho a tocar o Emereon String Quartet com o seu disco dedicado aos quartetos de cordas de Debussy e Ravel (um disco maravilhoso, por sinal). Quando oiço um disco destes só duas variáveis me interessam - timbre e transientes dos instrumentos (ambos irrepreensíveis) e ligação emocional. Esta última variável é, por vezes, difícil de alcançar. Alguns sistemas soam perfeitos em todas as áreas, excepto nesta. Outros, têm imperfeições evidentes, mas rapidamente nos “ligam” à música. O DMP-A6 não teve nenhum problema em transpor-nos para o rico universo musical dos dois compositores impressionistas, e passou com distinção o difícil teste - consegui ouvir música e só ouvir música, mais nada.
Para fechar, um disco de jazz, o clássico Soul Station do saxofonista tenor Hank Mobley - gravado com o tradicional som de Rudy Van Gelder, em que alguns instrumentos estão de um lado e outros do outro, sobrando pouca imagem central. Mais uma vez é o baixo de Paul Chambers que mais impressiona - em muitas destas gravações da Blue Note o baixo está um pouco desaparecido, mas o Eversolo dá muito bem conta do recado. Os transientes do tenor de Hank Mobley (apelidado acertadamente de middleweight champion) são também muito bem reproduzidos, com o equilíbrio perfeito entre ataque e suavidade que tanto caracteriza este saxofonista. As constantes dinâmicas de crescendo e diminuendo de Art Blakey ouvem-se aqui com a máxima fidelidade, assim como o percussivo ataque do pianista Wynnton Kelly. Sendo um disco que conheço muito bem, parece que ouvi alguns pormenores pela primeira vez.
A audição incluiu mais uma boa dezena de discos, e fica apenas um comentário dessa mesma audição - o Eversolo não é muito generoso com gravações de qualidade inferior. A ultra-neutralidade acima referida, que se revela excelente em discos bem gravados, acaba por trazer as imperfeições dos discos mal gravados ao de cima. Não será propriamente um defeito, mas há produtos que conseguem “arredondar” muito melhor más gravações.