Um single-ended do outro mundo
Audições
Tive a sorte de ter o WE91B em minha casa por mais de um mês, o que deu para poder apreciar, e sempre cada vez mais, as suas excelente qualidades sónicas quando combinado com as QUAD ESL63, tendo ele substituído o conjunto de electrónica Inspiration 1.0, da Constellation. A fonte digital foi inicialmente o Roon Nucleus Plus com o Pro-Ject Pre Box RS2 Digital como descodificador D/A e renderer de MQA (descodificação completa), conjunto este completado mais tarde com o TAD TAD-D1000TX-K. No domínio analógico, estava o gira-discos Basis com braço SME V Gold e cabeça Air Tight PC1 Supreme. Os cabos de interconexão e coluna eram predominantemente da gama Select, da Kimber em especial o KS3035 na ligação do amplificador às colunas. Na alimentação de sector pontuava a régua Vibex Granada Platinum, à qual ligavam todos os equipamentos electrónicos em uso, com o W91E a ser alimentado através do cabo de sector Tiglon TPL-2000A.
A rodagem do amplificador já vinha feita da Imacustica, pelo que foi apenas uma questão tirá-lo da imponente caixa de madeira, o que não é fácil em face do seu peso e da profundidade da caixa, colocá-lo na mesa Solid Steel que tenho sempre livre para estes fins, fazer as ligações e começar a ouvir música.
Como já disse muitas vezes, as ESL63 gostam de válvulas e ainda mais se a impedância do transformador de saída for de 8 ohm, o que era o caso. Juntou-se assim a fome à vontade de comer e foi com bastante prazer que comecei por ouvir Bob Dylan em Lay, Lady Lay, um dos grandes clássicos deste grande músico. Voz e guitarra mostraram ser dos petiscos favoritos do WE91 e Dylan foi-me «servido» com o inesquecível timbre de voz de que me recordava nos anos sessenta e setenta, embora com um algo mais que é difícil de definir, como que um perfume que deixava uma fragrância inesquecível e quase inebriante no ar. Seguiu-se Tracy Chapman em Fast Car, num estilo assim não tão diferente mas mais pop e com um grave que quase desmentia a apreciação por alguns feita de que os single-ended não têm grave. Mas também, tenho que concordar que este é um single-ended diferente dos outros, pois os MOSFTs podem fornecer, quando necessário, níveis de corrente bem superiores aos de uma 300B. Além disso, convém não ficar com a ideia de que o WE91E é um daqueles amplificadores com um som romântico, redondinho, aquele sonoridade que muitos associam às 300B e aos amplificadores single-ended que as usam. Não, este amplificador é a neutralidade em pessoa,
Tudo seguia às mil-maravilhas, por isso seria altura de mudar um pouco o estilo e claro que lá teria de vir o jazz, na forma da faixa I’m an Old Cowhand, um dos clássicos de Sony Rollins. Neste disco, como em quase todos os de jazz em que este instrumento entra, o contrabaixo tem a função fundamental de marcar o ritmo da música e se ele não é reproduzido com a clareza necessária, perde-se a sequência da batida e a música fica sensaborona. Pois, embora eu não possa dizer que as ESL63 reproduziram graves estrondosos, até porque nem são capazes disso já que a sua resposta em frequência não vai muito abaixo dos 40 Hz, todo o ritmo desta faixa tão inspirada estava ali presente na minha frente e pôs-me a bater o pé naturalmente, sem que eu tivesse pensado no assunto.
E que tal um cheirinho de música clássica com Leonard Bernstein a conduzir a Orquestra nacional de França na Sinfonia Fantástica, segundo andamento – Un Bal? E foi mesmo com vontade de bailar que fiquei quando toda a orquestra, com destaque especial para o naipe de cordas, se pôs a executar a bela valsa que dá toda a alma a esta belo trecho musical e o timbale a fazer-se notar lá ao fundo já perto da fase final da valsa. Bem bonito, sim senhor.
Achei então que valeria a pena ensaiar a entrada de gira-discos. Para tal fui ver qual a impedância definida no andar de entrada de gira-discos MC mas não fiquei elucidado, pois a WE indica o valor base como sendo 100 kohm, o que me parece algo alto. De qualquer modo, preparei duas fichas RCA macho WBT que por aqui tinha com resistências de 430 ohm ligadas entre os dois terminais e inseri essas duas fichas nas entradas para tal previstas. Tudo ficou quase perfeito em termos da resistência perfeita para a Air Tight PC1 Supreme, que já sei desde há algum tempo dever estar em volta de 400 ohm. E lá pus no Basis um dos meus discos favoritos, a Scherazade, de Rimsky-Korsakov, para ficar logo impressionado com a excelente sensação de ambiência e uma imagem espacial natural e coerente: os instrumentos tinham o tamanho certo e estavam no sítio certo, interagindo de um modo natural e imediato, o equilíbrio entre som ambiente e som reflectido estava na proporção certa, nem de mais nem de menos e por aí adiante.
Os dois primeiros andamentos desta obra são bons exemplos do que a cabo de dizer: a orquestra constrói monumentos musicais para a seguir apresentar-me os detalhes mais ínfimos e quase inaudíveis, diversas secções e zonas da orquestra entram e saem, desde um violino em destaque até a um delicado oboé lá no fundo do palco sonoro, tudo isto envolvido por uma almofada de ar que transportava até mim as mais subtis harmonias da música trazidas dos pontos mais remotos do palco.
E para os que possam uma vez mais ter o «desplante» de pensar que o W91E é um amplificador perfeito em termos de reprodução espacial e de continuidade do processo musical, nada como pô-lo a reproduzir algo como as Danças Sinfónicas, de Rachmaninoff, no famoso disco da Athena, com a orquestra sinfónica de Dallas conduzida por Donald Johanos. Aquela entrada faz-me quase sempre saltar da cadeira, por mais vezes que a tenha ouvido (e tenho dois LPs desta obra que já foram bem ouvidos) e desta vez não foi excepção. A apresentação musical foi precisa e real, com os ataques quase instantâneos e as frentes de onda de cada instrumento a tornarem-se bem distintos de um modo tal que, por mais paradoxal que possa parecer a alguns, os momentos finais de cada nota tinham uma evidência que não me lembro de ouvir muitas vezes.
Conclusão
O Western Electric W91E é um daqueles amplificadores com que nos deparamos poucas vezes na vida: alia de uma maneira perfeita e inovadora, graças à topologia patenteada do seu andar de saída, modernidade e tradição, tem uma qualidade de construção soberba e sistemas de controlo que garantem uma vida bem alargada em termos de tempo de funcionamento e nem sequer é daqueles amplificadores de classe A que não se podem ouvir no Verão: mesmo tendo em conta as temperaturas da ordem dos 35…36 graus que afligiram Lisboa na minha última semana de audições, não notei que a temperatura da sala se alterasse por aí além como resultado do W91 estar em funcionamento. Que mais se pode querer? Pois talvez umas colunas de bom rendimento para lhe ligar seja um aspecto a ter em conta.
Amplificador integrado Western Electric W91E
Preço 21 000 euros
Distribuidor Imacustica