O par perfeito para a dança em tom de vinilo
Audições
O EMT 128 foi inserido no meu sistema habitual, formado pelo conjunto de electrónica Inspiration 1.0, da Constellation, tendo como fonte digital o Roon Nucleus Plus com o Pro-Ject Pre Box RS2 Digital como descodificador D/A e renderer de MQA (descodificação completa) e, no domínio analógico, temos que neste caso o gira-discos Basis com braço SME V Gold e cabeça Air Tight PC1 Supreme foi substituído pelo Thales TTT-Slim II com braço Simplicity II e cabeça X-quisite CA, recentemente testado. As colunas eram inicialmente as Diptyque DP 160, também alvo de teste há muito pouco tempo, e os cabos de interconexão e coluna eram predominantemente da gama Select, da Kimber, nomeadamente o Kimber KS 1026. Na alimentação de sector pontuava a régua Vibex Granada Platinum, à qual ligavam todos os equipamentos electrónicos em uso, com o EMT 128 a ser alimentado através do cabo Tiglon TPL-2000A.
Uma vez que já tinha testado o gira-discos Thales e que não são necessários ajustes para o EM 128, tudo se resumiu a ligar o gira-discos ao prévio e «dar fogo nas duas peças», garantindo antes apenas que o EMT 128 estava ajustado para o ganho máximo.
Começo por destacar aqui o LP Clark Terry & Max Roach – Friendship, da editora Eighty Eights. Foi excelente a definição do trompete de Clark e da bateria de Roach, muito em especial em Statements, e valeu bem a pena ouvir o excelente e prolongado solo de bateria de Max Roach em To Basie With Love.
E claro que, uma vez mais, teria de ouvir a incontornável Carmen, de Bizet, com a Orquestra do Teatro de Bolshoi dirigida por Germady Rozhdestvensky, edição EMI. Este arranjo livre de Rodion Sehedrin é uma maravilha de ouvir com um gracioso sincopado de instrumentos e uma frescura quase visual das castanholas, do xilofone, dos pratos, etc., a conduzirem a uma imponente entrada de orquestra cheia de fúria espanhola. Os tempos de subida do dedilhar das cordas eram quase instantâneos a causar sempre surpresa pela imediaticidade da sua presença.
E seguem-se as minhas impressões relativamente a Luiz Bonfá - Bossa Nova, outro LP com uma excelente prensagem. A percussão era perfeita, com uma nitidez assinalável e com o ritmo exacto em Ilha de Coral. Cada «macaco no seu galho», ou seja, cada intérprete e instrumento no sítio certo, em termos de posicionamento lateral e de profundidade. Seguiu-se uma magnífica interpretação de Manhã de Carnaval, também, conhecida por Manhã, Que Bonita Manhã, onde a voz de Bonfá navega com uma elegância suprema e grande serenidade sobre as ondas musicais, incluindo as geradas pela sua própria guitarra. Mais conhecido como compositor, principalmente depois do grande sucesso de Orfeu Negro, filme em que teve e responsabilidade de compor a banda sonora, da qual faz parte exactamente a faixa Manhã de Carnaval atrás citada, Luiz tem uma interpretação despretensiosa, mesmo suavizante, mantendo a toada sem cair em clichés ou sentimentalismos exagerados.
Como já por diversas vezes escrevi, tenho na minha colecção de LPs alguns ainda selados para ouvir em ocasiões especiais, tal como se faz com uma garrafa de um bom vinho e, tendo em conta que Henrik Szering é um dos, senão «o» meu violinista preferido, lá tive então que retirar da sua protecção o LP com a Sinfonia Espanhola, de Édouard Lalo, como mencionado violinista acompanhado pela Orquestra Sinfónica de Chicago dirigida por Walter Hendl, uma reedição da Classic Records de um original RCA Living Stereo. Como se diz nas notas da contracapa do disco, este é um concerto para virtuosos com coragem para expandir as suas capacidades ao máximo. E Szering não quis deixar os seus créditos por mãos alheias, exibindo ao longo da peça musical uma mestria impressionante, retirando do seu violino notas que julgaríamos não serem possíveis de emitir a partir de um instrumento tão pequeno, quer em extensão quer em duração. E foi com uma performance com um nível de perfeição à altura de Szering que o conjunto Thales/EMT reproduziu todo este esplendor de virtuosismo: a entrada do segundo andamento trouxe até mim todo o ritmo, as cores exóticas e a languidez do sentir ibérico, muito em especial do da Andaluzia. E com que facilidade o EMT 128 reproduziu as cambiantes dinâmicas que tão bem ilustram a denominada «fúria espanhola»! Luminosa, como uma aguarela mostrando o reflexo do sol na água, assim foi a performance com que o EMT 128 me brindou.
No LP Lisa Ono - Dans Mon Αlle a música francesa encontra a bossa nova com toda a graça e sensualidade que os brasileiros conseguem inserir na música e mesmo nas letras, muitas vezes utilizando apenas palavras bem simples. Já conhecia bem J’ai Vu na interpretação do seu criador, Henri Salvador a partir do CD Room With a View, que o meu amigo Carlos Holbein ofereceu quando de uma das minhas deslocações ao Brasil, mas a duas vozes, uma delas inevitavelmente a de Henri, e ouvida através do SMT 128, soa mais bela, fluida e emocional. Está claro que também há que ter em conta a diferença dos formatos – LP versus CD – mas a verdade é que cada palavra, cada frase, tem uma tonalidade perfumada mista de um Air de Paris combinado com um Air de Tokyo, um je ne sais quoi que nos inunda de emoções e nos faz ouvir a música só pela musica, como se não houvesse electrónica pelo meio. E não é essa a finalidade última de um bom sistema de áudio?
Este álbum é como que um verdadeiro boião de cultura, pois Lisa Ono nasceu em São Paulo, filha de mãe japonesa e pai brasileiro, tendo este sido gerente de uma casa de diversão nocturna e simultaneamente agente de Baden Powell. Aos 10 anos Lisa mudou-se com mãe para Tóquio e rapidamente se tornou célebre como a representante da MPB no Japão, tendo actuado em conjunto com grandes nomes da música brasileira tais como João Carlos Jobim e João Donato. O master foi produzido e trabalhado no Japão, e editora original é de Singapura mas o original que tenho, em vinilo de 180 gramas, é comercializado pela Groove Note e foi prensado nos Estados Unidos, país onde o comprei aqui há uns anos. Mais global e multicultural não poderia ser esta obra, queira ou não se queira viver com o globalismo.
Lisa, como bilingue que é desde criança, alterna com grande facilidade em diversos temas entre o francês e o brasileiro, conferindo mesmo assim a este último um carácter talvez menos cantante e mais quente que é sempre muito agradável de ouvir. La Vie en Rose é cantada integralmente em francês, claro, inevitavelmente num tom completamente diferente do imortal Piaf, mas com uma envolvência, um ritmo suave e sedutor que quase a transformam numa outra melodia, embora sem nunca perder o cunho que a sua criadora lhe imprimia. Foram uns belos momentos de audição e, tendo ou não o EST 128 “a mão ”, aconselho vivamente a compra deste disco a quem o consiga encontrar.
E vamos acabar em beleza com a música clássica, através do LP Sir Adrian Boult Concert Favorites, com o grandes maestro a dirigir a Orquestra Nova Sinfonia de Londres, mais uma prensagem em vinilo de 180 gramas produzida pela Chesky. Claro que apreciei muito a inevitável Marcha de Pompa e Circunstância, mas aquilo que me encheu as medidas e quase mesmo me fez dançar foi a Overture di Ballo, de Sir George Sullivan. Que graça, que vivacidade exalam desta pouco ouvida melodia que prende a nossa atenção desde o princípio até ao fim mas que atinge o seu clímax perto do fim com algo assim como que uma polca tocada em ritmo Andante e que foi elevada a um elevado nível de reprodução pelo EMT 128, acolitado pelo Thales e pela cabeça X-quisite CA que demonstrou aqui de maneira suprema que é quase uma heresia não lhe darem uma oportunidade de ser ouvida.
Conclusão e EMT 128 versus Nagra CLASSIC
Tendo em conta que o prévio de phono Nagra CLASSIC é agora um elemento residente do meu sistema, penso que fará todo o sentido emitir alguns comentários sobre que características se tornam mais salientes nas audições num caso e noutro, embora nunca numa intenção comparativa que não faria grande sentido, já que o Nagra custa praticamente o dobro do EMT. Mas há um aspecto importante em comum que é o facto de ambos utilizarem válvulas como componentes amplificadores. Pois aquilo que posso dizer de maneira resumida é que o Nagra CLASSIC vive de uma tessitura harmónica rica e complexa que nos transmite uma emocionalidade extrema, uma graciosidade imensa que se conjuga de modo perfeito como a música de uma grande sinfonia e ainda com uma extensão dinâmica desde os graves aos agudos que nos deixa boquiabertos, pois não esperaríamos isso de um equipamento a válvulas, erradamente, como já disse por várias vezes. O EMT 128 é igualmente um grande prévio de phono, não exagerando com marcantes arroubos dinâmicos, mas jogando com a vivacidade, o prazer de audição e a alegria de viver, embora tenha que se escolher com cuidado a cabeça a combinar com ele – pelo que pude observar, as cabeças EMT são sopa no mel, como seria de esperar.
Prévio de gira-discos EMT 128
Preço 11 985 €
RepresentanteExaudio