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Diptyque DP 160

Diptyque DP 160

Jorge Gonçalves

9 abril 2023

Uma janela transparente para a música


Audições (apenas algumas)


As Dyptique DP 160 foram incorporadas no meu sistema habitual, formado pelo conjunto de electrónica Inspiration 1.0, da Constellation, tendo como fonte digital o Roon Nucleus Plus com o Pro-Ject Pre Box RS2 Digital como descodificador D/A e renderer de MQA (descodificação completa) e, no domínio analógico, o gira-discos Thales TTT-Slim II com braço Simplicity II e cabeça X-quisite CA, e o prévio de phono o EMT 128, em teste na altura. As DP 160 substituíram as minhas prezadas QUAD ESL63 Pro, e os cabos de interconexão e coluna eram predominantemente da gama Select, da Kimber. Na alimentação de sector pontuava a régua Vibex Granada Platinum, à qual ligavam todos os equipamentos electrónicos em uso, com o amplificador de potência a ser alimentado através do cabo Tiglon TPL-2000A.
A colocação na sala foi das coisas mais simples de fazer: encaixaram exactamente na posição das Quad 63 para começar, como os módulos dos tweeters para dentro, e a partir desta posição base bastou rodar cada uma um nadinha para elas ficarem perfeitas em termos de reprodução da imagem espacial.

Foto 6

Uma das DP-160 no meu sistema


Vou descrever em seguida algumas das experiências auditivas, que foram muitas, mas deixo já aqui uma deixa sobre o que são estas colunas de painel. Para quem se lembra dos sons das colunas de painel dos anos noventa, pensem numa combinação do poder e impetuosidade das Apogee com a transparência e beleza tímbrica das electrostáticas, neste caso as Quad ESL 63. Chegou mesmo a ser impressionante ouvir o modo como umas colunas de dimensões tão imponentes conseguem lidar com requintes de interpretação e detalhes quase imperceptíveis, por exemplo no disco Your Mother Should Know, Brad Mehldau Plays The Beatles. A performance pura e simplesmente encantou, em face do registo sonoro, envolvente e melódico destas espectaculares colunas de painel.
E o contraste teve lugar logo de seguida com a audição da faixa Private Dancer, interpretada por Tina Turner. As DP 160 reproduziram um verdadeiro prodígio de energia que me trouxe Tina para a minha sala, ficando ela ali à minha frete ostentando aquele mais belo par de pernas do mundo, como eram designadas nos anos noventa. E passei a The Only Thing Worht Fighting For – Rosanne Cash e Colin Meloy um country cheio de ritmo e romantismo, Uma réstia de ar que passou por entre os painéis das Diptyque e trouxe até mim um cheirinho dos filmes de cowboys que vi na minha juventude numa esplanada ao ar livre, talvez a sala de cinema que mais marcas deixou em mim.
A peça Concert Fantasy for Violin & Orchestra, Opus 33, de Rimsky Korsakov, tem uma entrada com uma inefável suavidade do violino com subidas limpíssimas até aos agudos mais altos. E, no mesmo LP, seguiu-se um remoinho de música na primeira parte da Suite Sinfónica da obra Scherezade com uma quase paragem que pontua de uma maneira bem evidente o carácter movimentado mas sempre profundo e mesmo melancólico deste compositor russo, aliás bem evidente no início da segunda parte desta mesma suíte com os instrumentos de sopro e violinos a ornamentar, de maneira bem emotiva a melodia, a qual tem um misto de alegria e de arrebatamento. Todas estas emoções as Diptyque conseguiram captar e trazer até mim com uma naturalidade desarmante.
E continuou a hora do vinilo com Thales of Mistery and Imagination, do grupo Alan Parsons Project, um LP da Original Master Recording. As Diptyque brindaram-me com um som envolvente, agradável, com uma excelente separação instrumental, quer do ponto de vista tímbrico quer no que se refere à localização espacial, com uma correcção tonal de primeira ordem e vozes claras e significativas. Há algum tempo que não voltava a este disco e desta vez soou-me como sendo seguramente uma das melhores reproduções dele.
Continuei nos LP com Henry Mancini, A Pantera Cor-de-Rosa, uma edição RCA Victor Dynagroove. Peter Sellers era um comediante extraordinário e inclui alguns comentários da contracapa do disco tais como: “I have never written record notes before and I’m sure I will never be asked again. The poor fools, they don’t know what they are missing”
A pantera soou como de costume, bem viva e cor-de-rosa, com a hoje em dia politicamente incorrecta boquilha na boca, mas a faixa 2 It Had Been Better Tonight, versão instrumental, tem uma entrada verdadeiramente deliciosa em ritmo de chachachá que pôs as Diptyque a dançar com toda a graça e alegria.

Foto 4

Como dizia Sellers nas suas notas “ A grande vantagem de ter música em disco é que podemos sentar-nos e ouvir as músicas de Mancini, mesmo sem estar a ver o filme. Até agora (início dos anos setenta do século passado) não existe nenhum aparelho que nos permita ver o filme sem nos sentarmos para ouvir a música. Mas chegou aos meus ouvidos que há para aí uns cientistas que estão a aperfeiçoar um dispositivo que tornará isso possível”.
Claro que tudo isto não é mais que um divertido e inspirado jogo de palavras, à moda de Sellers, mas as Diptyque devem ter qualquer coisa desse tal dispositivo imaginário, pois puseram-me a ouvir música e a «ver» a seráfica pantera a passear-se elegantemente na minha frente. Pura e simplesmente espectacular, ter umas colunas que até projectam imagens visuais.
E termino em beleza com Leonard Cohen em The Night of Santiago, What Happens to The Heart,  e Thanks for the dance, três das canções de um dos seus últimos discos. Uma vez mais com todas as marcas dos anos, mais uma grande parte das que sempre teve, a voz de Cohen tinha uma personalidade incrível, uma dicção única, um conteúdo emocional quase impossível de igualar agora e por muitos anos mais. Termino mas não acabo de ouvir as Diptyque pois tenho uma pequena esperança de que elas fiquem esquecidas por aqui por mais uns bons tempos. Em What Happens to The Heart a dicção de Cohen era perfeita, com pausas muito bem concretizadas entre cada palavra, especial mente quando ele diz a palavra Heart do título da faixa, com uma estrutura fonética que, ao mesmo tempo que nos liga de maneira indissociável à melodia, faz-nos igualmente sentir a força da letra. Uma das melhores provas que a semiótica pode, afinal, combinar muito bem com as melodias.


Conclusão ou “Quem tem medo das colunas de painel ?”


Durante todo o tempo que ouvi a Diptyque não tive saudades das ESL 63 ao ponto de ficar a pensar que “as DP 160 soam realmente muito bem mas a gama média das Quad, a sua imagem espacial…, etc., etc.” Antes pelo contrário: as Diptyque fizeram muito bem praticamente tudo aquilo que tinham de fazer a adicionaram a um som não muito longe dos das Quad uma capacidade dinâmica muito mais intensa e, principalmente um grave de alto nível: limpo, sem qualquer nota de gordura, extenso e impactante como o grave deve ser. Na minha sala dedicada não preciso de mais e foi muito interessante sentir como as Diptyque encaixaram nela como uma luva. Além disso tiveram quase de imediato um elevado WAF pois a minha cara-metade gabou sinceramente o seu aspecto elegante e esteticamente muito agradável. Não sobram então razões quase nenhumas para que quem gosta de um som transparente e solto, sem colorações de caixa, possa levar estas meninas para casa.


Colunas Diptyque DP 160
Preço                 12 900 €
Custo de crossover
externo para a
Versão Signature     6 900 €
Distribuidor           Ultimate Audio Elite

Foto 5
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