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Marantz CD 60

Marantz CD 60

João Carlos Anselmo

24 março 2023

O Homem da Maratona


Audições


O CD 60 chegou-me em embalagem ainda fechada. Apreciei a música que ele fez desde o primeiro momento, mas a grande melhoria deu-se ao fim de umas 60 ou 70 horas. É impressionante como até num leitor de CDs têm tanta importância os “simples” componentes eléctricos… Transformadores, transístores, resistências, condensadores, enfim. Sim, porque são esses que “queimam”, e não os componentes mais… digitais.
No que respeita às duas configurações de filtro do CD 60, concluí que as diferenças não são grandes. Ainda assim, passei a fazer todas as audições com a segunda opção, de pendente mais marcada, que me pareceu ligeiramente mais natural e, ao mesmo tempo, mais dinâmica.
Bom, então e o som do CD 60? Sim, claro que existem algumas reservas, objecções… Mas isso também depende da visão de cada um.
Para as pessoas que seguem o formato CD desde há décadas, iniciado há cerca de 40 anos (e eu fui um adoptante tardio, por considerar o som pior do que o dos LP), é muito interessante ouvir uma máquina ultramoderna como o CD 60. O qual, por um lado, é muito bom para o dinheiro que custa; mas por outro, promete demais e entrega de menos.

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A primeira coisa que me impressionou ao ouvir o CD 60 é que não é mais um leitor de som insípido, pelo contrário, tem um som bastante distinto. Ouvindo Private Investigations, dos Dire Straits, fiquei impressionado com a clareza… desapaixonada… do som, mas também com a sua grande dinâmica. Este CD 60 é menos eufónico do que muitos Marantz de outrora, não adoçando a pílula musical, como costumava acontecer.
Isto deve-se ao facto de o som ser ligeiramente avançado, com agudos e médios altos muito bem resolvidos e definidos, muito bem mesmo, mas sem serem estridentes ou agressivos, pelo contrário, como ficou bem patente, por exemplo, em I know what I like,dos Genesis, com uma excelente apresentação de uma percussão metálica logo no início da canção.
Por outro lado, embora também bem resolvidos, os médios não são tão quentes como era apanágio da Marantz do tempo de Ken Ishiwata. Dever-se-á isso a uma nova filosofia do seu actual designer? A Marantz refere que o CD 60 foi afinado pelo seu “Sound Master”, Yoshinori Ogata, baseado no Japão, a fim de obter o melhor resultado musical. Pois este aparenta ter um ouvido – e um gosto - diferente do de Ken Ishiwata.

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O CD 60 tem um som muito rápido e limpo com uma dinâmica mesmo muito boa, e mostrando muito detalhe. Ao mesmo tempo, é um pouco brilhante em termos absolutos, tem um grave seco e não muito pronunciado, embora sem distorções, e o corpo da música não é do melhor – nem podia ser. Nenhum leitor de CD, nenhum componente com este preço é perfeito. Aliás, muitos que custam 10 ou 20 vezes mais também não o são. A limpeza geral do equilíbrio tonal do CD 60, aliada aos seus transientes rápidos e boa articulação dinâmica, confere-lhe um som enxuto e vigoroso, muito eficaz na transmissão da energia da música. Falta-lhe apenas algum corpo, e alguma escala. Pois, o preço… Não se pode dizer que o Marantz seja duro, nada disso, mas não há aquele som sumptuoso dos últimos leitores high-end da Marantz, também presente nalguns dos seus leitores mais acessíveis. Através do meu revelador sistema doméstico, observei apenas um muito ligeiro toque de dureza nos vocais femininos, como em By Your Side, de Sade.
O amplo palco sonoro desenhado pelo CD 60 também contribui para esta sonoridade, com uma imagem convincente, com instrumentos bem à esquerda e à direita, embora menos em altura. Isto acontece não apenas com rock, mas também com synth pop como em Deep Weather, do CD Comparsa, dos Deep Forest, com efeitos dramáticos de sintetizador e a forte batida que impulsiona a música.
O CD 60 também gostou que eu tivesse mudado a plataforma de apoio. Sucede que se deu o caso de, durante o período das audições, ter instalado a minha nova mesa de áudio. Com isso, todo o sistema melhorou: mais foco, maior transparência, melhor controlo, melhor… “PRAT”, que é aquilo a que os britânicos chamam Pace, Rythm and Timing. Trata-se de um conceito que é mais conhecido pelos músicos, e que não é fácil de explicar e de entender pelos outros mortais, mas vou atrever-me a tentar fazê-lo. Pace refere-se ao andamento, à cadência, à velocidade a que uma obra é tocada. Rythm, ou ritmo, é o que move a música, é a relação com o tempo, que define a música como sendo fundamentalmente diferente de outras formas de arte, como a pintura e a escultura. O Ritmo não é a velocidade musical, não é a medida a que a música progride, mas sim a relação entre as sucessivas notas, e onde é que nelas é enfatizada a batida. Finalmente, o Timing, o tempo, não é a mesma coisa que o ritmo ou o andamento, mas está relacionado. O tempo é a precisão da reprodução de uma onda musical que compreende muitas frequências. Bom, então, juntando todos estes conceitos, temos que, com a inserção da mesa de áudio, ou rack, o meu sistema ficou a «tocar melhor». É a primeira vez que tenho uma mesa dedicada, e dizer que estou satisfeito é dizer pouco. Encorajo, portanto, todos os melómanos / audiófilos (não gosto nada desta palavra… mas enfim) a darem um passo semelhante. Claro, o Marantz CD 60 gostou da mudança. E, mais ainda, gostaram os meus ouvidos. Existe controvérsia sobre o PRAT, se existe ou não. Não sei dizer; mas, se não existe, com a nova mesa de suporte, o meu sistema ficou PRAT…icamente melhor.

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Regra geral, os leitores de CD menos onerosos costumam soar melhor quando são ligados através da sua saída digital a um conversor externo (DAC). Também quis verificar essa asserção, por isso liguei o CD 60 ao DAC do streamer Wattson Madison que tinha à mão. Uma ligação improvável de alguém vir a fazer, pois o Wattson custa mais de 4 vezes mais do que o Marantz. E sim, havia diferenças… mas, surpreendentemente, foram quase subtis: em média, pode-se dizer que o som foi melhor resolvido por meio do DAC do Wattson. O som ficou menos projectado, sobretudo no agudo e no grave, e a gama “média-média” avançou um pouco. Regra geral, a reprodução directa do CD 60 foi mais fechada; mas não é que algumas vezes foi mais homogénea e musical? Muitas vezes repeti a alternância, ora som directo do CD 60, ora som através do conversor interno do Wattson. E sim, algumas vezes – uma minoria, é certo, mas ainda assim assinalável – gostei mais do som directo do CD 60. Porquê? Talvez porque o Marantz tem um bom DAC interno; e / ou, como já suspeitava, talvez porque a componente do transporte de um CD tem mais importância do que costuma ser-lhe atribuída.
E, no entanto… Um dia, tive a ideia de experimentar com o CD 60 outros CDs de que eu gosto, em vez de me limitar aos que são a minha referência para testes. Que surpresa! Bem, saíram-me algumas más gravações na rifa, e, com o CD 60, as más são mesmo más, como é o caso de Speak no Evil, do malogrado Wayne Shorter, um CD da Blue Note dos primeiros tempos, de 1987, quando as editoras foram a correr editar em CD os seus bons discos de fundo de catálogo. Mal se conseguiu ouvir, mesmo com o DAC da Wattson a coadjuvar. Fininho, agreste, digitalite pura. Quanto aos outros CDs, foi um prazer ouvir a música de que eu gosto, solto das preocupações audiófilas. A música apenas fluiu, e o prazer foi grande. E assim vieram Dark Side of the Moon, dos Pink Floyd, obra-prima que agora celebra os seus 50 anos (a que se seguem os meus irreprodutíveis pensamentos sobre a idade); You Better Know It, de Lionel Hampton; Black Market, dos Weather Report (a banda em que W. Shorter tocou durante tantos anos); About Jobim, de Markos Resende. A todos eles o Marantz CD 60 respondeu com prazer. 
O CD 60 faz tanto tão bem e ainda assim, as coisas soaram um pouco inorgânicas. Na verdade, não acho que seja pior do que os seus rivais, mas o tamanho e a qualidade do acabamento do CD 60 levam a que esperemos algo melhor; pois, de todas as vezes que se olha para ele, o cérebro diz-nos constantemente que estamos perante um produto high-end.
Durante o tempo em que o usei, foram muitas as vezes em que o CD 60 me recordou um maratonista. Sempre a querer seguir em frente, disponível, seco de carnes, não lhe peçam grandes acelerações; mas, se lhe pedirem longas horas de consistente desempenho, ele sorrirá e estará sempre do lado do ouvinte, a proporcionar prazer na audição da música.
Testei também a saída para auscultadores do CD 60. Não sou adepto de ouvir música com auscultadores (e não “fones”, por amor de Deus! que por um lado estamos em Portugal, e por outro o mais parecido com “fones” são… os microfones, e não os auscultadores). Mesmo os melhores auscultadores que já ouvi (incluídos os meus Sennheiser HD 650, mas também peças electrostáticas da Stax) fazem-me sempre…sempre sentir que o som vem de dentro da cabeça, o que não está bem. Admito que venha a experimentar uns auscultadores que me façam sentir diferente, mas esse dia ainda não chegou. Ora, ligados os meus HD 650 ao meu prévio dedicado de auscultadores Musical Fidelity X-CAN V3, e comparada a sonoridade com a que se obtém directamente via CD 60, cedo ficou claro que a saída para auscultadores deste é decente, mas não mais. É uma espécie de bónus para quem só ocasionalmente assim ouve música, ou para quem não procura grande sofisticação. Quem gosta desta forma de ouvir música e tem uns bons auscultadores terá melhores resultados se se munir de um amplificador apropriado.


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