Thales TTT-Slim II com braço Simplicity II e cabeça X-quisite CA – Q.E.D. (e o teorema ficou mais que demonstrado)
Audições
O conjunto analógico da Thales – gira-discos, braço e cabeça – vinha já montado e afinado, e até já com alguma rodagem, da Exaudio, pelo que foi só colocá-lo sobre uma mesa Solid Steel que tenho cá sempre disponível para estas situações e integrá-lo no meu sistema, substituindo a fonte analógica residente – Basis Gold Debut com braço SME V Gold e cabeça Air Tight PC1 Supreme. Os restantes componentes não sofreram qualquer alteração: prévio da phono Nagra CLASSIC, ligado pelo cabo AudioQuest ThunderBird ao prévio Constellation Inspiration 1.0, amplificador de potência Inspiration Stereo, colunas QUAD ELS 63 Pro. Como fonte digital, para além do Accuphase DP85, reinava o Roon Nucleus Plus, alimentado pela fonte Ferrum Hypsos, com o Pro-Ject Pre Box RS2 Digital como descodificador D/A e renderer de MQA (descodificação completa). Na alimentação de sector pontuava a régua Vibex Granada Platinum, à qual ligavam todos os equipamentos electrónicos em uso, e os cabos de interconexão e coluna eram predominantemente da gama Select, da Kimber, com a excepção atrás indicada. O cabo de ligação do Thales à unidade phono da Nagra era um Kimber KS1026 e o de alimentação do amplificador de potência um Tiglon TPL-2000A. Em face dos valões de resistência disponíveis para a entrada do Nagra PHONO acabei por optar pelo que tenho estado a utilizar com a Air Tight PC1 Supreme – 470 Ω.
O TTT-Slim II vinha com a carga da bateria quase completa da Exaudio pelo que me foi possível ouvir por muitas e muitas horas – não as contei porque o prazer de audição me fez esquecer dessas coisas comezinhas – sem necessidade de carga, o que prova que as 20 horas especificadas pela HiFiction são perfeitamente válidas. E pronto, já comecei por desvendar os resultados das audições! Pois foi, este pequeno gira-discos, como um ar perfeitamente inocente, debita música como um grande senhor. Tem uma solidez, uma articulação, uma fluidez de uma naturalidade extrema, que nos deixa logo presos à música desde o primeiro momento.
Uma vez mais, ouvi Camille, de que destaco no lado A a faixa 2 – Promenade. Os intérpretes são: Alessia Martegiani - voz; Massimiliano Coclie – Pianoforte e Francesco Mariozzi – Violoncelo. A edição é da AudioRecords / HD Music Lab e não é fácil encontrar este disco – o meu exemplar foi-me oferecido pelo meu velho amigo Rocco Patriarca, um dos membros da EISA. Ouvir como que uma mistura de mistura de fado com tarantela no início, se é que dá para explicar, é algo surpreendente, principalmente porque já ouvi este disco, de que falei já numa das edições em papel da Audio, para aí uma dúzia de vezes. A voz de Alessia presta-se bem ao fado e o jogo entre piano e violoncelo resulta tão intrigante, tão chamativo que dei por mim a reouvir esta faixa mais duas ou três vezes. Voltando mentalmente a esse momento, a minha conclusão é que o gozo da re-audição se deveu não só ao belo timbre da fonte analógica da Thales mas talvez mais ainda ao ritmo perfeito com que a música é reproduzida. Um belo momento musical, sem dúvida, e vou agora então falar da audição de outro dos discos da minha colecção de que gosto em especial – Clair de Lune, da Living Stereo, com a London Proms Symphony Orchestra dirigida por Raymond Agoult, a interpretar várias peças musicais que têm em comum um certo ar de luar claro e perfumado, se é que se pode dizer isso do luar. Destaco aqui a primeira faixa do lado 2 com uma Cantata de J.S. Bach-G. Bantok a ser interpretada de uma maneira sublime e quase voluptuosa de romanticidade e com uma palco sonoro amplo, limpo e que estendia bem até ao jardim que se vã da minha sala de audição.
Para fazer um pouco de contraste, embora sempre num dos meus tipos de música preferidos, coloquei The Other Side, de Tord Gustavsen, etiqueta ECM, no gira-discos Thales. Este álbum soou sublime, com fundos impressionantemente silenciosos e frases fabulosas tanto do piano quanto do contrabaixo; o braço original da HiFiction confere a este gira-discos uma apresentação calma e segura que soa ainda melhor quando se sobe ligeiramente o volume, isto porque a reprodução de graves do Slim II é mesmo muito boa e realça as entradas do contrabaixo de um modo tal que o pé começa a bater sozinho, sem que demos por isso. Um outro aspecto interessante deste gira-discos é a coerência global que torna a audição ainda mais cativante, realçando toda a beleza do trio de Tord Gustavsen.
Regressei então á clássica, com as Variações Enigma, de Elgar, interpretadas pela London Synphony, dirigida por Pierre Monteux, na altura um «jovem» com 85 anos! O nome Enigma está perfeitamente adequado a esta peça musical, talvez também porque Elgar nunca tenha desvendado porque o tinha escolhido. E isto porque temos ao longo da obra um conjunto de variações em relação a uma estrutura base que se afasta um pouco dos cânones musicais e nunca se consegue discernir em absoluto, embora se sinta que está sempre lá. As frases finais das Enigma estão contidas no início do lado B do disco da Living Stereo e foi-me possível discernir aí silêncios marcantes, a que se sucediam momentos de grande alegria musical – diz-se ainda que Elgar dedicou a parte final das suas variações à sua filha Carolina Alice e talvez este final da peça a recorde nos seus tempos de meninice correndo alegremente por uma casa, seguramente com jardim.
Para terminar em beleza, espero eu, esta análise vou falar agora sobre o LP duplo da DALI, comemorativo dos 35 anos da marca, de que destaco Desert Island, interpretada por Oh Land. Land tem uma bela voz e o contraponto estabelecido em quase toda a faixa com a percussão assume momentos de rara beleza, contando como que uma estória, e indo aos dois extremos do espectro audível. A energia contida nesta faixa pode ser excessiva para algumas fontes analógicas mas o conjunto da Thales não se intimidou de modo nenhum, antes pelo contrário: quando era para reproduzir a voz de Oh Land com a beleza tímbrica que tem, pois não lhe acrescentava nem tirava nada e, quando chegava o momento dos grandes impactes energéticos, claro que não se coibia a apresentá-los perante mim sem lhes tirar uma pitada da intensidade por vezes excessiva contida nos sulcos do disco.
Conclusão
QED é uma sigla que se utiliza na matemática para assinalar que um teorema que foi formulado está demonstrado como tendo validade e vem das iniciais das palavras latinas Quod Erat Demonstrandum que significam «o que era necessário demonstrar» ou «como se queria demonstrar». Nos velhos tempos das Matemáticas Gerais do IST lembro-me bem de ter utilizado esta expressão vezes e vezes sem fim porque era sempre necessário não só saber os teoremas matemáticos como igualmente a argumentação teórica que os comprovava como verdadeiros.
Mas neste caso do Thales TTT-Slim II a demonstração não se faz com caneta e papel mas ouvindo e aquilo que escutei durante horas e horas de audição foi prova mais que suficiente de que o teorema de Thales colocado em prática por Michael Huber funciona na perfeição. A aproximação original ao conceito da tangencia perfeita funciona extremamente bem, sendo mesmo quase hipnotizante observar a ligeira rotação da cabeça de leitura enquanto lê um disco do principio até ao fim.
Já espero os habituais comentários sobre os preços mas novamente deixo aqui bem claro que não é da minha responsabilidade fixar os valores pelos quais os equipamentos são vendidos ao público mas tão só avaliá-los e esta proposta de fonte analógica da Thales recebe seguramente pelo menos um 18 numa escala de 0 a 20, voltando um pouco aos tempos em leccionei Electrónica. Quem ficar com dúvidas que a vá ouvir à Exaudio.
Preços
Gira-discos Thales TTT-Slim II: 5921 €
Braço Simplicity: 8 289 €
Cabeça X-quisite CA: 8156 €
Distribuidor: Exaudio