O Caminho do Norte para os Leitores de Rede /DAC: Electrocompaniet ECM1 MKII
Audição
Liguei o ECM1 MKII a um amplificador Rotel 1592 e às colunas B&W 705 S2, usando como fontes o meu servidor doméstico WDMyCloudEX4000, o Qobuz ou o leitor da Atoll SACD200, ligando-o, neste último caso, ao ECM1 MKII através da entrada S/PDIF coaxial.
A primeira constatação que quero transmitir é a de fluência incrível e facilidade de utilização. Através do Roon, passava da audição de CDs para a audição de ficheiros armazenados no meu servidor domésticos ou transmitidos pelo serviço Qobuz, muito rapidamente e sem se notar a transição. Em termos de um leitor de rede com DAC, nunca encontrei tal fluência de utilização.
A segunda é a de que o som possui um pouco, a mesma fluência do que a utilização. É um som muito natural e verdadeiro, com detalhe suficiente e bom palco sonoro, transparente mas sóbrio, e sem colorações artificiais. É pena que o ECM1 MKII não seja compatível com ficheiros DSD de maior resolução (não lê DSD 512 e lê com dificuldade, ou seja, com interrupções, ficheiros DSD 256). Só imagino o que seria a reprodução deste nível de reprodução pelo ECM1 MKII se se mantivesse o nível de qualidade no processamento de ficheiros de menor resolução (por exemplo, de DSD 128).
Mas passemos a uma audição mais detalhada.
Playlist
R. Seidel & D. Valentin-Marx –Telemann Chamber Music for Bassoon – Qobuz 96 kHz /24 bit
Tim Mead & Arcangelo (dir. J. Cohen) – Sacroprofano Vivaldi – Qobuz 96 kHz /24 bit
Scott Hamilton Quartet – Talk to me Baby – CD Blau Records
Jan Harbeck Quartet – Balanced – Qobuz 96 kHz /24 bit
Bella Hardy – Love Songs – CD Noe Recordings
Júlia Reis – Ó Nossa – CD Cafetra Records
Começando pela clássica, comecemos por uma gravação bastante original e de muita qualidade, a música de câmara de Telemann para fagote com um contínuo de guitarra com arranjos do próprio guitarrista, Daniel Valentin-Marx. O som do fagote de Rainer Seidel é simultaneamente hipnótico, taciturno e sóbrio. E a gravação permite ouvir as teclas do fagote a serem premidas ou a respiração de Seidel. Este disco parece que foi feito de propósito para o ECM1 MKII, tal a magia, a fluência escorreita e a transparência com que reproduz este diálogo improvável entre o fagote e a guitarra. Excepcional. Na outra referência, encontramos o contratenor Tim Mead é que mais um virtuoso a surgir na última dezena de anos com cada vez mais notoriedade. A gravação de obras sacras e profanas de Vivaldi é um óptimo teste audiófilo para qualquer equipamento. O ECM1 MKII mostrou respeito pelos timbres, precisão nos tempos, controlando bem os tutti e, mais importante, deixando os agudos melífluos de Mead, fluir sem entraves ou estridências.
No jazz, Scott Hamilton é um senhor que não sabe fazer más gravações. O som do tenor cheio de insinuações e melodia, dizendo metade e deixando-nos a adivinhar a outra metade é verdadeiramente ímpar. Aqui, o ECM1 MKII soube transmitir o intimismo lírico de Hamilton, sem esquecer o seu swing, sobriamente, com grande neutralidade e toda a musicalidade. O saxofonista tenor dinamarquês Jan Harbeck tem-se afirmado como nome seguro no panorama mundial, com um sopro sussurrante, diria mesmo uma autêntica sotto vocce, e um swing arrastado, únicos. Também aqui, excelente o desempenho do ECM1 MKII, com grande à-vontade, sem colorir nada mas deixando tudo florir, representou mais um argumento poderoso a favor da excelência deste equipamento.
Finalmente, desta vez, a terceira categoria não inclui rock, mas apenas folk do melhor. Começo pela consagrada Bella Hardy, num conjunto de canções de amor cheias de verdade e de experiência, destiladas da enorme tradição anglo-saxónica. A gravação contém infelizmente alguma reverberação exagerada e o ECM1 MKII não perdoa, devolvendo uma música tão sublime como alguma crueza intencionalmente introduzida na produção. Finalmente, a grande surpresa deste teste, Júlia Reis. A Júlia pertencia à banda Pega Monstro com a sua irmã e também compositora e cantora, a Maria Reis. Desta vez, a Júlia foi sozinha a jogo, compondo e interpretando todas as músicas e o resultado não poderia ter resultado melhor. A verdade que transmite, às vezes magoada, o intimismo e a simplicidade desarmante dos arranjos, da instrumentação e da voz, fazem desta uma gravação, uma autêntica pérola por achar, com canções que ficam connosco e nos fazem sentir e pensar. A gravação não é propriamente audiófila, mas às vezes a música interessa mais do que a audiofilia. A reprodução do ECM1 MKII soube preservar a intimidade do ouvinte com a Júlia, encolhendo-se na transparência e crescendo na musicalidade. As faixas a voz solo são particularmente bonitas e o ECM1 não sabe mentir.
Conclusão
O ECM1 MKII é um grande equipamento, juntando um DAC de qualidade a um streaming muito estável, fluente e flexível. A utilização é fácil e conveniente e do ponto de vista musical, os DACs gémeos da Cirrus Logic são um êxito. Contras, só talvez o preço, mas temos de considerar que não é um streamer com um DAC de trazer por casa, que só se utiliza se não se tiver outro melhor, este é um verdadeiro DAC audiófilo.
O Caminho do Norte já tinha facetas perigosas e misteriosas, como os Vikings, Fiordes e a Aura Boreal. Agora a Electrocompaniet acrescenta o que faltava, a grande música.
DAC/streamer Electrocompaniet ECM1 MKII
Preço: 4 064,23 €
Distribuidor Smartaudio