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Nagra Classic PHONO

Nagra Classic PHONO

Jorge Gonçalves

28 julho 2022

Música das (mais) altas esferas


Audições


O Classic PHONO substituiu no meu sistema residente o prévio de gira-discos que construí há alguns anos, sendo o resto do sistema o habitual: conjunto de electrónica Inspiration 1.0, da Constellation, tendo como fonte digital o Roon Nucleus Plus com o Pro-Ject Pre Box RS2 Digital como descodificador D/A e renderer de MQA (descodificação completa) e, no domínio analógico, o gira-discos Basis com braço SME V Gold e cabeça Air Tight PC1 Supreme. As colunas eram as QUAD ESL63 Pro, e os cabos de interconexão e coluna eram predominantemente da gama Select, da Kimber.  Na alimentação de sector pontuava a régua Vibex Granada Platinum à qual ligavam todos os equipamentos electrónicos em uso, com o Classic PHONO a ser ligado ao sector através do cabo Tiglon TPL-2000A.
Convém lembrar aqui que quando se coloca o comutador do Classic PHONO na posição de ligado se inicia uma sessão de preaquecimento que envolve quer os filamentos das válvulas quer a inicialização das tensões de alimentação das mesmas, o que é indicado externamente pelo piscar do LED que indica o funcionamento em mono.
Por uma questão de evitar demasiadas variações no sistema em si optei por utilizar inicialmente os mesmos cabos Kimber Select não balanceados com 1,5 metros que estavam ligados na saída do meu prévio de gira-discos. No entanto, como veremos de aqui a pouco, tiveram que ocorrer algumas mudanças (para melhor) em relação a esta situação
A primeira coisa que se nota quando se activa o Classic PHONO é o ruído nulo, mesmo zero, isto com uma cabeça MC, situação que implica a utilização do ganho máximo. Impressionante! Comecei com uma «dieta» simples em termos dos LPs ouvidos, isto para me familiarizar com o seu estilo de apresentação da música. Para tal, nada melhor que o álbum duplo dos Three Blind Mice com o título The Famous Sound of Three Blind Mice e uma das faixas de que nele mais gosto – Midnight Sunrise. E foi de ficar pura a simplesmente absorto com o nível de naturalidade tímbrica e a capacidade de discriminação dos mais ínfimos pormenores da verdadeira avalanche de instrumentos que se aliaram nesta faixa para dar origem a uma das grandes músicas do mundo do jazz, muito em especial o piano de Masahiro Konoyama que dá o tom durante uma boa parte do tempo da faixa. E passei a um «disco preto» que já não ouvia há algum tempo e que foi dos meus predilectos nos velhos tempos da Audio, nada menos que King’s Galliard, com música tradicional irlandesa, numa edição da Opus 3. Se há instrumento que se destaca neste disco é a flauta, a qual neste caso atinge uma extensão em frequência quase incrível e modulações tonais que numa outra companhia podiam até soar agressivas mas que foram apresentadas pelo Classic PHONO com enormes à-vontade e naturalidade.

Nagra_Classic_Phono

Tudo parecia estar no reino em que o leite o mel jorravam mas havia ainda algo que me fazia «cócegas»: o nível a que tinha que colocar o controlo de volume do prévio Constellation Inspiration estava algo para além daquilo a que eu estava habituado. E já aqui abordei por diversas vezes a minha hipótese, nunca contrariada, de que a distribuição dos níveis de ganho ao longo dos diversos componentes de um sistema de áudio deve manter-se sempre muito equilibrado, sob pena de o equilíbrio dinâmico da música ser alterado, algo que pode não se notar de imediato mas que a pouco e pouco começa a causar um ligeiro incómodo. Mas de onde viria essa diferença, já que o meu prévio tem um ganho de 66 dB, não muito longe do do Classic PHONO? E foi aí que me recordei de que continuo a utilizar o andar de linha do citado prévio e o respectivo controlo de volume de alta qualidade, podendo assim o sinal vir a ser amplificado em 4 a 5 dB em relação ao nível de saída do andar de gira-discos. Uma vez que não queria colocar no circuito mais um cabo de ligação, pensei um pouco mais e alvitrei que a utilização da saída balanceada do Classic PHONO, embora ela não seja puramente balanceada, pois pega apenas no sinal de áudio que sai pelas fichas RCA e coloca um inversor de ganho unitário no percurso do sinal, poderia ajudar a «compor» as coisas. E foi assim que peguei num cabo balanceado van den Hul The Second que uso de vez em quando em situações deste tipo e o liguei entre a unidade de phono da Nagra e o prévio Constellation. O ganho em termos de nível sonoro foi evidente mas em termos tímbricos o som desviou-se bastante do que eu estou habituado a ouvir com os meus Kimber Select híbridos e a imagem sonora ficou algo imprecisa e pouco expandida. E não tive outro remédio senão fazer uma viagem à Ajasom e pedir emprestado um Kimber Select balanceado KS 1136 com 2 metros, o tamanho que mais se aproximava das minhas necessidades. Felizmente o cabo estava já rodado, pelo que foi só chegar rapidamente a casa e refazer as ligações. E que diferença senti: o som expandiu-se em termos espaciais, ganhou um relevo dinâmico antes apenas adivinhado e, mais que tudo, uma coerência fenomenal. Agora sim, estava nas minhas sete quintas e seria então o momento de ouvir uma das obras-primas que tenho na minha colecção de LPs para ocasiões especiais: a 2.ª Sinfonia de Mahler, com Lorin Maazel a dirigir a Filarmónica de Viena e o respectivo coro e Iliana Cotrubas como soprano. O disco foi-me oferecido pelo meu amigo Heiz Lichtenegger, o qual conseguiu um contrato especial com a Filarmónica de Viena para reeditar algumas das suas melhores fitas master. E esta é realmente um trabalho artístico de nível elevadíssimo: começando pelo primeiro andamento, ao qual Lorin confere uma forte intensidade em termos de tempo de execução, continuando até ao Andante que tem uma fraseologia musical luxuriosa e finalizando de modo quase apoteótico. Foi tudo tão agradável que tornei a ouvir a obra depois de trocar a resistência de carga da cabeça, a qual estava ainda no valor de 180 ohm com que vinha da Ajasom. A Air Tight PC1 Supreme funciona no seu melhor, no meu entender, com uma carga de perto de 400 ohm mas esse valor não consta dos seis disponibilizados pela Nagra pelo que achei que 470 ohm, o valor mais próximo, poderia funcionar igualmente bem. E funcionou, sem dúvida, com o resultado de que a imagem espacial ficou ainda mas ampla quer lateralmente quer em profundidade e os instrumentos de cordas passaram a «cheirar» um pouco mais a madeira com os tempos de execução dos diversos estilos musicais, de que destaco o jazz e clássica, a estarem muito ligeiramente mais relaxados, ou seja, com os instrumentos a soarem menos sob tensão, o que acaba por traduzir-se num maior envolvimento entre o ouvinte e a música. Poderia estar aqui a falar horas e horas sobre os muitos discos que ouvi que acho que o que disse até aqui permite perfeitamente aos leitores que gostam de vinilo construírem uma ideia bastante completa sobre aquilo de que este prévio de phono é capaz. Mas também não precisam de acreditar piamente em mim – vão ouvi-lo e tirem as vossas próprias conclusões.

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Conclusão



Ter o privilégio de ouvir este Classic PHONO no meu sistema foi decididamente algo que me marcou de modo bem fundo, bastará exarar aqui que este foi o melhor prévio de gira-discos que passou cá por casa! O HD PHONO parece estar quase a rebentar por aí, depois de uma primeira aparição em Munique e terá seguramente algo mais do que este Classic, mas seguramente irá igualmente custar entre 2 a 3 vezes mais, ou seja, destina-se apenas a muito pouco privilegiados. Por mim ficaria mais que satisfeito todo o resto da minha vida com o Classic PHONO que me encheu as medidas em termos de naturalidade de apresentação, ausência de ruído de fundo, espacialidade ampla e coesa e notável capacidade de ir aos mais escondidos detalhes da música. Quem puder comprar que o compre e, fundamentalmente, quem o puder ouvir que o ouça. Entrará num patamar de reprodução de discos de vinilo que nunca julgou ser possível atingir-se.

Prévio de gira-discos Nagra Classic PHONO

Preço: 20 500 €
Representante: Ajasom
Telef.: 21 474 8709
Web:  Ajasom 

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