As Kii na Ajasom e ao Lusco-Fusco.
Existem ainda dois extras que se podem acrescentar a estas Kii Three - o Kii Control e o BXT, que transforma estas monitoras em torres. Começando pelo primeiro, parece-me uma excelente adição, e nem creio fazer muito sentido comprar estas colunas sem este extra, que acrescenta três entradas digitais às colunas (coaxial, óptica e USB) e um muito prático controlo de volume (que opera no domínio digital), sendo ainda possível usar um controlo remoto externo. Já o extra BXT, acrescenta dezasseis (sim, leu bem) woofers e mais de 7000 Watts (por par), às Kii Three, aumentando a resposta de graves, o SPL e a espacialidade das Kii Three (que funcionam, naturalmente, com um firmware diferente quando estas BXT são acrescentadas).
Já aqui as Kii Seven, partilham as mesmas tecnologias que as Three mas são mais pequenas e mais baratas, tendo dois altifalantes de graves de seis polegadas e meia, um altifalante de médios de cinco polegadas e um tweeter de uma polegada, também em modelo guia de onda, e uma resposta de graves de 40 Hz a -3 dB. A grande diferença, é que estas Seven estão desenhadas para funcionar em modo sem fios, com os protocolos Qobuz Connect, Tidal Connect e Spotify Connect disponíveis, assim como Bluetooth (uma pena, para mim, não haver inclusão de UPNP). É possível também usar equalização de elevadíssima qualidade, segundo me explicou Steven Gomes, o representante da marca presente no evento, com actuação em amplitude e em fase, e com todo o processamento de DSP a ser realizado a 40 bits floating point (e o mesmo para o modelo Three), o que assegura a total transparência de tais operações.
As audições foram necessariamente breves, e portanto não me alongarei muito neste departamento. Comecei pelas mais pequenas, as Kii Seven, a funcionar com o Tidal por Tidal Connect e, propositadamente, encostadíssimas à parede, a mostrarem o excelente desempenho que as Kii têm neste departamento. Tive, aliás, a oportunidade de pedir para ouvir Bury a Friend, da Billie Elish, e Enter Sandman, dos Metallica, duas excelentes músicas para testar graves de um sistema, e foi absolutamente impressionante o desempenho destas colunas nesse departamento - o funcionamento em cardióide é muito eficaz e o DSP consegue de facto fazer maravilhas nos dias de hoje, e é hora de abandonar os preconceitos em relação a esta tecnologia. Em tudo o resto que ouvi, fiquei sempre muito impressionado com as muitas qualidades sonoras destas monitoras - não será nada fácil, se não mesmo impossível, pelo preço que estas Kii Seven custam, montar um sistema equivalente em performance usando componentes separados.
Passei de seguida para a sala das Three, onde só ouvi o modelo em formato torre, com o módulo BXT acumulado, e com o Kii Control a operar o controlo de volume e a receber sinal USB de um servidor Pink Faun 2.16 Ultra a correr Roon e os serviços Tidal e Qobuz. Mais uma vez mesmo muito próximas da parede e com um desempenho notável - a um certo momento de O Fantasma da Ópera, em que os graves estavam particularmente intensos, desloquei-me até à parte de trás da coluna e, no exíguo espaço entre a coluna e a parede, foi impressionante a quase ausência de radiação sonora traseira. Ao contrário de algumas tecnologias que aparecem na alta-fidelidade e que, por muito que as equipas de marketing se esforcem, acabam muitas vezes por ser de utilidade bastante duvidosa, esta tecnologia cardióide das Kii não é apenas adjectivos e fanfarra e resulta de forma impressionante (de uma marca de Bruno Puntzey não se esperaria outra coisa, afinal) e, num mundo em que as que as casas tendem a ser cada vez mais pequenas, com o preço das mesmas e o número de solteiros ambos em subida vertiginosa por todo o mundo, a possibilidade de ter um sistema de topo absolutamente agnóstico em relação à sua posição pode ser um trunfo difícil de bater. A audição seguiu ainda com Into my Arms, na versão de Camille O’Sullivan, inspirada no original de Nick Cave, com as Kii a mostrarem muito boas capacidades espaciais e também bastante emoção na sua reprodução deste tema (apesar do seu pedigree de estúdio, não senti que fossem colunas excessivamente analíticas ou frias), tendo depois continuado com música clássica, onde impressionou particularmente a reprodução dos violinos no registo mais agudo, sem estridências nem aveludados, e com um excelente final com o contrabaixo de Ray Brown, em “Manhã de Carnaval”, com um timbre simplesmente soberbo.
Foi então uma apresentação muito interessante, de uma marca que não pode ser acusada de fazer mais do mesmo e que tem também como interesse o diminuto número de produtos ao fim de onze anos no mercado (o que mostra coerência e leva a que os modelos não se desvalorizem desnecessariamente no mercado usado). Para todos os que busquem produtos «all in one» e que se queiram despir de preconceitos em relação ao DSP ou às colunas activas, têm na Kii Audio uma das marcas mais interessantes do mercado - e, para quem não tenha como evitar a proximidade em relação à parede, não ouvi até hoje melhor solução que esta. Recomenda-se então uma ida à Ajasom a todos os que busquem produtos neste segmento, vale bem a pena ouvir estas Kii Audio e ter uma experiência audiófila digna do século corrente.
PS 1 - Como nota final, as Kii estão disponíveis em diversas cores premium, algumas delas bastante interessantes - basta googlar um pouco e ver as cores disponíveis. E deixo também dois links, um de medições bastante profissionais sobre as Kii Three, e outro da própria marca, sobre as (muitas) tecnologias aqui presentes.
PS 2 - Aproveito também para deixar aqui uma nota pessoal - apesar de compreender a inevitabilidade, em muitos casos, de posicionar colunas junto à parede e os muitos méritos que a tecnologia aqui descrita tem nessa circunstância, continuo a sentir que há um (pequeno) preço a pagar no domínio espacial em colocar colunas tão perto da parede. Não deixei de achar que as Kii Three tiveram um desempenho muito bom em termos de palco, mas fiquei curioso de as ouvir no meio da sala, com o Contour Switch ajustado para isso - e acho que teria ficado (ainda) mais impressionado. A todos os que tenham sala com tamanho suficiente, experimentem colocar as colunas o mais ao meio possível, pode ser que gostem do resultado - a interacção com as paredes será certamente muito menor, a resposta de graves mais natural e o palco soará menos contido / comprimido.