Uma parelha de referência a todos os níveis
Se tivesse que fazer uma lista dos produtos que testei de que mais gostei, o Audiolab 9000N certamente estaria nessa lista - permanece até hoje um dos melhores streamers que já ouvi, sendo apenas condicionado pela aplicação da Lumin, que é pouco mais que funcional. Foi portanto com entusiasmo que tive a oportunidade de testar mais dois produtos da série 9000, os recém-lançados 9000Q (um pré-amplificador com DAC) e 9000P (um amplificador de potência), ambos desenhados por Jan Ertner. A primeira impressão, a ocular, foi logo muito positiva - com uma construção imaculada, o 9000Q/9000P são dois produtos muito bonitos, com um design minimalista, mas moderno e refinado (pelo menos, na versão em preto).
O 9000Q conta com uma secção de DAC novamente baseada num chip da ESS Sabre (o 9038PRO), e soou-me muito idêntico ao 9000N que tanto gostei (de memória) - a Audiolab alega repetidamente possuir muito conhecimento e experiência com estes chips e, na minha opinião, isso não é apenas marketing, a marca britânica tem mesmo a minha implementação preferida dos ESS (até agora, claro). Para além das entradas de DAC (uma USB, duas ópticas, duas coaxiais), o 9000Q conta com uma topologia completamente balanceada, uma entrada de gira-discos para cabeças MM, que não testei mas que assumo ser de igual qualidade a tudo o resto, igualização para graves e agudos (que não permite o uso do modo balanceado), Bluetooth, um amplificador de auscultadores e quatro entradas analógicas (três RCA e uma XLR). O mostrador é grande e pode ser configurado com diversos vuímetros, entre outras opções, e temos também diversas configurações nos menus: ligar e desligar o upsampling (gostei mais com ele ligado, como no 9000N), mudar o filtro de base do chip ESS, controlo de balanço, entre outas. A escala de volume é, felizmente, mostrada em decibéis negativos e funciona em precisos passos de 1 dB.
Neste ponto, acho importante esclarecer algumas coisas:
1) Este pré-amplificador só funciona em modo completamente balanceado quando essa opção é activada (menu - source configuration - XLR - direct) e esta opção desactiva o uso da equalização. Testei em modo balanceado e não balanceado e gostei mais em modo balanceado (e estava a usar cabos XLR na entrada e na saída, claro), mas foi uma diferença subtil - suponho que a diferença possa ser maior quando se combine o 9000Q com um amplificador de potência completamente balanceado.
2) Os modos Filter e Upsampling podem ser confusos e requerem alguma explicação. Filter refere-se aos diferentes filtros do chip ESS, e Upsampling refere-se a um filtro customizado pela Audiolab (que suponho seja implementado através de um FPGA e que sei basear-se em tecnologia da MQA) que se sobrepõe aos filtros da ESS (o que significa que quando o upsampling está ligado, a opção Filters, apesar de disponível no menu, não faz nada). Este filtro é um filtro do tipo minimum phase, que converte todos os sinais no formato original para DXD (352,8 kHz ou 384 kHz, conforme estejamos a falar de múltiplos de 44,1 kHz ou 48 kHz), e que infelizmente não contém headroom suficiente, sendo uma boa ideia fazer uma ligeira atenuação de volume no domínio digital, se o transporte precedente assim o permitir. Apesar de ”clipar” a 0 dBFS e de aumentar muito ligeiramente a distorção (link em baixo), preferi sempre o filtro do Audiolab aos filtros por defeito da ESS (que me soam sempre mais parecidos que diferentes) e, usando um Eversolo A6 Master Edition Gen 2 e o seu Eversolo Volume Control para atenuar -3 dB, consegui excelentes resultados sonoros.
Gráfico de distorção do Audiolab 9000Q
3) A opção DPLL permite configurar o Digital Phase Lock Loop, que está activo nas ligações SPDIF assíncronas e que permite controlar a rejeição de jitter. Em casos de valores elevados de jitter é possível escolher a opção wide, mas hoje em dia nenhum transporte digital “envia” jitter em doses massiças e, se algum o fizer, recomenda-se (e muito) a sua substituição. E recomenda-se também sempre o uso de ligações assíncronas (leia-se, USB), embora em alguns casos, como uma televisão ou um transporte de CD, isso não seja possível - no caso de uma televisão, aliás, pode haver mais jitter na sua saída óptica, e pode ser interessante experimentar o modo wide.
4) As outras configurações dos menus permitem ligar e desligar a equalização, configurar o balanço entre canais esquerdo e direito, a sensibilidade de cada entrada (muito útil quando se usa fontes com voltagens de saída menos convencionais), o volume máximo quando se liga o 9000Q, as opções do visor frontal, o trigger de 12 V, a linguagem dos menus, o tempo até o pré-amplificador entrar em standby, a possibilidade de fazer reset e, por fim, verificar a versão de firmware corrente. Excelente, para um produto acessível, e, já agora, o manual explica todas as opções de forma muito clara, o que é raro, na minha experiência.
5) Ainda em relação ao DAC, e a quem interesse, temos MQA em modo full decoder, e bons codecs Bluetooth (aptX, aptX HD, LFAC) - não sou fã de nenhuma das tecnologias, mas importa relevar que fazem parte do produto, para os que as usem. As entradas SPDIF (óptica e coaxial) permitem PCM até 192 kHz, assumo que a 24 bits, e a entrada USB PC permite PCM até 768 kHz, assumo que a 32 bits, e DSD até DSD512, sendo importando mais um vez realçar que os chips ESS não lêm DSD de forma nativa (escrevi “assumo” sobre a informação sobre o bit depth de cada uma das entradas, porque não consegui confirmar se as minhas assunções estavam certas).
Quanto ao 9000P, trata-se de um amplificador de potência com andar de saída em Classe A/B, que usa tecnologias proprietárias da Audiolab, como a topologia CFB (Complementary Feedback), e que conta com um novo e melhorado transformador no seu circuito. Com uns muitos interessantes 60 000 µF de capacidade de filtragem, o 9000P pode funcionar em modo XLR (ganho de 23 dB e sensibilidade de 2 Vrms) ou RCA (ganho de 29 dB e sensibilidade de 1Vrms), e em modo mono (300 W a 8 ohm, 380 W a 4 ohm) ou estéreo (100 W a 8 ohm, 160 W a 4 ohm – potências por canal), devendo alimentar sem dificuldades a maioria das colunas no mercado em salas pequenas / médias - com colunas menos sensíveis e / ou espaços de maior dimensão, o uso de dois 9000P em modo mono será o mais indicado. Já o trigger de 12 V, funciona na perfeição com o 9000Q, dando a sensação de se estar a lidar com um integrado. E, como nota final, desaconselha-se a colocação de algo em cima do 9000P - a ventilação deste produto faz-se exclusivamente pela parte de cima.