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Ultimate Sessions Extreme no Palace Hotel

Ultimate Sessions Extreme no Palace Hotel

Miguel Marques

11 abril 2025

Um som de excepção com enorme clareza e transparência e, ao mesmo tempo, íntimo e realista.


E os graves? Tantas vezes um problema para os audiófilos - graves a mais e temos o efeito blanket, que roubo do mundo da amplificação de guitarra, em que o excesso de graves escurece todo o espectro musical, tornando os agudos pouco claros e o som geral demasiado fechado. Graves a menos e o sistema perde todo o corpo e substância… Este sistema conseguiu também nos graves conciliar características que pensava serem antagónicas, derrubando muitos bias de exclusividade mútua: graves com corpo e peso mas também com definição, muito presentes mas sem retirar qualquer clareza aos médios e agudos, em destaque mas sem nunca tirar coesão instrumental às faixas tocadas e nunca tomando conta do espectro musical. Muito impressionante - tendo até havido um pequeno momento em que o Miguel Carvalho explorou o mundo da música electrónica, e não ficaram dúvidas sobre as capacidades deste sistema de reproduzir graves e de encher uma sala na totalidade.

Foto 5 Ultimate Bridge

Por fim, e como característica final, esta combinação de equipamentos não parece ter sido pensada nem para impressionar nem para vender luxo ou status a pessoas com muito dinheiro e pouco gosto (o que é mais comum do que se possa pensar), mas mesmo para tocar música. Só e apenas isso, este sistema relembra-nos que, mesmo no high-end, um sistema de alta-fidelidade é sempre um meio para um fim (ouvir música), e que o sistema deve sempre servir a música, nunca o contrário.

Não tendo sido possível ouvir música escolhida por mim de forma prolongada, por razões evidentes, ficaram-me na memória alguns momentos musicais escolhidos pelo Miguel Carvalho e que descrevo em baixo:

1) A profunda emoção na voz de Mariza e Camané, com a curiosidade de no caso de Mariza o técnico de som do concerto em questão ter estado presente na sessão a um certo ponto, assim como o irrepreensível timbre das guitarras portuguesas que acompanhavam ambos; e, falando ainda de emoção, fiquei a conhecer a versão de Into my Arms (Nick Cave) da cantora Camille O’Sullivan, que como o nome indica é irlandesa, e que no seu Sings Cave Live, nos traz esta poderosa e emotiva versão, acompanhada apenas ao piano numa igreja, e que fez este sistema brilhar muito.

2) Dois covers de Knockin’ on Heaven’s Door, uma música de Bob Dylan, recuperada pelos Guns’n Roses no início dos anos 90, e que desde aí tem contado com versões de muitas pessoas diferentes - e que, nas duas versões ouvidas, tendo sido re-harmonizadas para estarem sempre em Lá Menor e nunca irem a Dó Maior, como na versão original, soaram particularmente tristes e intensas.

Foto 6 Ultimate Bridge

3) Ainda nos covers, uma versão muito interessante de Stand by Me, fortemente re-harmonizada e com trocas constantes entre tom maior e tom menor, com impressionante espacialidade das Stenheim, e outra de Trem das Onze, clássico do samba brasileiro, pela dupla Caetano Veloso e Maria Gadú, com um magnífico arranjo em Mi Menor pelo “violão” de Gadú, com transientes e timbres perfeitos, percebendo-se perfeitamente tratar-se de uma guitarra com cordas de nylon.

4) Outros destaques vão ainda para uma bonita versão de St James Infirmary, clássico folk-jazz americano, talvez o tema que mais trouxe ao de cima as muitas qualidades deste sistema, e o tema Jean-Pierre do grupo de Miles Davis, na sua fase fusão dos anos 80, com particular ênfase para o poder de reprodução dos intensos slaps de Marcus Miller no baixo eléctrico.

5) Consegui ouvir ainda Soul Station de Hank Mobley, na versão de alta resolução remasterizada por Alan Yoshida, um pedido meu e um dos meus discos preferidos, e nunca tinha ouvido o contrabaixo de Paul Chambers tão claro e definido, numa gravação que, infelizmente, não prima pela melhor das qualidades.

6) Para além dos momentos acima referidos, ao longo das duas sessões a que assisti o repertório escolhido foi passando por muitos estilos musicais, do fado ao jazz, da clássica ao rock, da electrónica ao pop, entre outros, mostrando assim as características camaleónicas destes produtos, que se revelaram mais agnósticos que o Einstein e nunca revelaram preferências (ou maiores apetências) por nenhum género em específico.

Foto 7 Ultimate Bridge

E, para ter a certeza que não estava enganado, apesar da minha visita na sexta-feira já me ter deixado mais do que elementos suficientes para escrever o texto, decidi regressar no Domingo, para confirmar se tinha ouvido tudo bem (tinha) e para ter o prazer de «re-ouvir» este sistema. E voltei (feliz) de lá e a pensar se seria possível criticar de alguma forma um sistema destes, ou se este seria um texto apenas elogioso? Foi-me extraordinariamente difícil pensar numa crítica, para ser sincero. Uma crítica possível (que na realidade é um elogio) é que a extraordinária transparência destes sistema faz com que, por exemplo, num sistema como o vinilo, todas as pequenas imperfeições do disco ou o ruído que inevitavelmente acompanha este formato, sejam perfeitamente audíveis. Puxando pela memória auditiva (tantas vezes enganadora), será também justo dizer que no caso muito específico de orquestras de música clássica já terei ouvido sistemas mais imponentes (e impressionantes) de um ponto de vista de escala, mas muitas vezes são precisamente esses sistemas que fazem tudo soar “grande” e onde me é muito difícil ouvir um cantautor ou um trio de piano jazz. Mas isto em nada retira aos muitos e profundos méritos deste sistema que, repito, foi o melhor que já ouvi até hoje.

Fiquei também intrigado de ouvir outras combinações destes componentes - interroguei-me como soarão estas Stenheim com amplificação mais “acessível”, como o Accuphase ES-800S (que ouvi e de que gostei muito nas Ultimate Sessions de Fevereiro) ou o Gryphon Diablo 333, produtos que a Ultimate também costuma ter em stock. Ou como soarão os Halcro com as Kroma, colunas de topo que também me deixam intrigado, e que o Miguel Carvalho me assegurou serem parecidas em muitas coisas às Stenheim - respostas que uma visita do leitor à Ultimate resolverão, tendo também a certeza que a própria loja fará esses testes.
E interroguei-me também sobre como soaria este conjunto com alguns discos que não tive tempo de ouvir - como a versão japonesa two-track de Wish You Were Here, a edição também japonesa de Soul Station em XRCD ou a versão Mastersound de Kind of Blue, a minha preferida de entre tantas que existem, ou ainda os inigualáveis Nocturnos de Chopin de Maria João Pires. E é este o verdadeiro sinal de que gostamos de um sistema, quando estamos constantemente curiosos de saber como irá soar um certo disco (ou versão de um disco) que conhecemos bem nesse mesmo sistema e temos sempre vontade de ouvir mais e mais música,

Deixo ainda uma nota final para indicar que a esmagadora maioria destas sessão foi feita em modo digital, através do Taiko, com Roon (sem nenhum DSP aplicado) e acesso aos serviços de streaming Qobuz e Tidal, com breves passagens pelo vinilo, como por exemplo a verão de Fever, de Elvis Presley. Isso acabou por ser bom para mim, porque a minha experiência (e gosto) no digital é muito superior à do vinilo, o que me deixa mais confiante na fidelidade das palavras que aqui escrevi.

Foto 8 Ultimate Bridge

Gostaria ainda de deixar um elogio final ao Miguel Carvalho, que conduziu estas sessões como um bom maestro dirige uma orquestra - excelentes escolhas musicais (e que me tiraram um pouco da miopia de especialidade em que os anos de música me deixaram), com o volume sempre no sítio certo para uma demonstração destas (alto sem estar demasiado alto), abertura esporádica para «discos pedidos», explicações curtas e ocasionais do sistema mas sem interrupções excessivas / longas e controlo constante do ruído na sala - sala essa muito bonita, a combinar na perfeição com um sistema high-end, aliás como toda a envolvente do Hotel Palace e do Estoril, e inclusive com uma boa acústica, não tendo sido sequer necessário usar o tratamento acústico que a Ultimate Audio levou consigo. Melhor seria impossível.

Infelizmente um sistema destes não está ao alcance do comum dos mortais e, portanto, da maioria dos audiófilos. Se tiver a sorte de poder comprar um sistema desta gama de preço, e aconselhando-se sempre que oiça vários sistemas para fazer uma compra acertada, é simplesmente obrigatório ter esta combinação Halcro/Stenheim na shortlist e deslocar-se à Ultimate para uma audição completa - parafraseando os ingleses: Run, don’t walk!. Se tivesse fundos para o comprar, este sistema teria vindo comigo para casa, e certamente não fui o único a pensar assim.