Um século de pioneirismo em som e imagem
Não existem hoje em dia muitas empresas que tenham atingido um século de existência e então na área da electrónica de consumo esse número é bem mais escasso. Dentre esses poucos destaca-se a Loewe, um fabricante alemão de equipamentos de som e imagem, fundado em 1923 por dois irmãos, Siegmund e David Ludwig Loewe, inicialmente sob o nome Radiofrequenz GmbH. E a data de início de actividade deixou logo uma marca do que haveria de ser o espírito de inovação e antecipação que tem caracterizado a marca através da sua longa vida: é que os seus primeiros produtos eram rádios virados ao consumidor doméstico, nalguns casos com componentes inovadores, tais como as primeiras válvulas múltiplas, algo como que o primeiro circuito integrado, e, além disso, a grande exposição que se tornava necessária para despoletar o interesse do público para esta nova fonte de entretenimento só, a IFA, só teria a sua primeira edição no ano seguinte. A parceria com a Telefunken, um gigante alemão no domínio industrial, permitiu à Loewe desenvolver e fabricar válvulas próprias e o rádio OE 333 foi um enorme sucesso no mercado alemão nos anos vinte e trinta, devido à sua estrutura compacta e ao preço imbatível.
O rádio OE 333 foi um retumbante sucesso nos anos 20 do século passado.
A televisão era ainda muito um fruto de laboratório, com diversos investigadores a dedicarem-se ao tema mas isso não impediu a Loewe de, já perto do final dos anos 20 do século passado, se associar a Manfred van Ardenne, um dos pioneiros da televisão, tendo nascido dessa colaboração o primeiro televisor para utilização doméstica a nível mundial. E aí foi a Loewe quem teve de tomar a opção de dinamizar o mercado, tendo desenvolvido um veículo especial para demonstração do funcionamento da televisão o qual se deslocou às mais importantes cidades alemãs, chamando o interesse do público para a TV e, ao mesmo tempo, pressionando o governo para que se iniciassem as primeiras transmissões públicas de televisão. E foi assim que foi possível iniciar em 1933 a produção em série do televisor acima mencionado. Por essa altura as instalações da Loewe dividiam-se entre Berlim e Dusseldorf e só em 1948 é que a empresa se mudou para Kronach, cidade onde ainda se encontra hoje e que está situado na Francónia, não muito longe de Nuremberga.
Primeiros tempos da televisão.
Por essa altura as instalações da Loewe dividiam-se entre Berlim e Dusseldorf e só em 1948 é que a empresa se mudou para Kronach, cidade onde ainda se encontra hoje e que está situado na Francónia, não muito longe de Nuremberga.
Televisor Loewe Iris
E aqui o pioneirismo continuou, com o lançamento em 1951, por exemplo, do televisor Iris, o primeiro a ser produzido em massa, e ainda, em 1963, da Loewe Optaport, a primeira televisão transportável. A televisão estéreo teve igualmente uma grande aceitação por parte de Loewe, bem como foi a marca a primeira a lançar um televisor com acesso à Internet em 1997, o Loewe Xelos@Media.
No decorrer da sua longa vida a Loewe foi alvo da cobiça de algumas das grandes marcas e foi até vendida «em segredo» à Philips, nos anos sessenta, na sequência da morte de Siegmund Loewe. Diversas vicissitudes, nos anos setenta, levaram a perdas financeiras significativas e foi assim que um grupo de administradores, comandado por Dieter Motte, adquiriu a empresa por volta de 1985. Dieter relançou uma série de conceitos de design que tornariam a colocar a marca no topo dos fabricantes que colocam um enfoque especial no design, tendo como base, no caso da televisão, o desenvolvimento de uma placa de circuito impresso única, sobre a qual assentavam todos os componentes e que facilitava de sobremaneira a fabricação de vários modelos diferentes numa mesma linha de produção. Embora Motte tenha deixado a empresa antes da aquisição, muitos dos conceitos de design que ele tinha desenvolvido nos anos oitenta mantiveram-se na Loewe com um enfoque especial na criação de equipamentos que rompesse com os cânones da altura, com uma ergonomia muito apelativa e um aspecto exterior diferenciante, linhas de rumo ainda perfeitamente válidas nos tempos que correm.
A arte pura era uma mais valia nos rádios a Loewe.
Os tempos correram, muita água passou por debaixo das pontes e o início do século vinte e um foi uma vez mais um momento de grande mudança, com os televisores de ecrã plano a tomarem conta do mercado com uma velocidade impressionante – recordo-me perfeitamente de em 2003 ter visitado a IFA e ter apenas encontrado dois fabricantes ainda com televisores equipados com tubos de imagem do tipo CRT. Estranhamente, a Loewe não foi um dos primeiros fabricantes a assumir esta mudança mas rapidamente entrou no comboio e apresentou televisores LCD e de plasma com linhas inovadoras e que receberam diversos prémios de design e de tecnologia. Aliás, desde 1985 até 2008, ano em que Reiner Hecker assumiu o cargo de presidente do órgão de supervisão da empresa, a Loewe receber nada menos de 190 prémios. Em 2013 novos problemas assolaram a marca e seguiu-se a aquisição por parte de um grupo de investimento que reestruturou a Loewe, despediu metade dos na altura 1000 empregados e estabeleceu uma parceria tecnológica com a Hisense. Para alavancar financeiramente a empresa, os terrenos onde se encontram a fábrica foram vendidos à cidade de Kronach, o que garantiu a entrada de uma quantidade assinalável de dinheiro.
Vista aérea do polígono industrial da fábrica de Kronach.