Loewe - 100 anos

Jorge Gonçalves

26 maio 2023

Um século de pioneirismo em som e imagem

Mas os problemas continuaram a acumular-se e em 2019 ocorreu com grande tristeza o momento da declaração de falência, com os seus então 400 empregados, todos vivendo em Kronach ou nas proximidades a perderem os seus empregos. Numa empresa com a dimensão já mencionada, foi impressionante ver que restaram apenas dois dos seus empregados mais antigos, os quais ficaram com o encargo de tentar encontrar uma pessoa ou uma estrutura que assumisse o desafio de relançar a marca.

A Loewe sempre utilizou conceitos próprios no que se refere à interface do utilizador com os seus produtos.

E foi a essa tarefa que Christian Albert, actual COO, e Thomas Putz, o CTO da marca, os quais tinha entrado como aprendizes em 1996 e seguiram depois percursos diferentes dentro da empresa se abalançaram, tendo tido a sorte de conseguirem convencer o grupo Skytech, dirigido pela família Khabliev, a comprar todas as acções da Loewe. Este grupo financeiro com ligações à indústria tinha já vasta experiência na área da electrónica de consumo, pois tinha conseguido reposicionar a Sharp e a Blaupunkt dentro do sector de televisão do mercado europeu. Na sequência disso, Asian Khabliev, o novo dono da Loewe, assumiu o cargo de CEO da mesma, formando com os dois experientes gestores o grupo que controla actualmente todos os aspectos de funcionamento da fábrica de Kronach e da promoção e comercialização dos produtos dela saídos.

Da esquerda para a direita: Thomas Putz, Jorge Gonçalves e Christian Albert.

Foi com enorme prazer que, apesar de bem cansado depois de quase três dias de perambulação pelo show de Munique e pelo show paralelo Hifideluxe e na sequência de quase 20 anos de convites e insistências por parte dos meus amigos Roland Sthele e Roland Raithel, que me dirigi a Kronach para visitar a relançada fábrica e falar com Christian a Thomas, nos quais detectei um entusiasmo e energia que ilustram perfeitamente os grandes avanços conseguidos em pouco mais de três anos. Aliás, tendo recomeçado a funcionar em Janeiro de 2020, foi com um esforço hercúleo que conseguiram colocar no mercado 20 novos produtos em Março desse ano. A Loewe tem neste momento 150 funcionários em Kronach, tendo igualmente conseguido readquirir metade dos 120 000 m2 do espaço ocupado pelo parque industrial que foi seu durante tantos anos. Recuperar da pandemia, da guerra da Ucrânia, aumentando ao longo de 3 anos o número de distribuidores internacionais, tudo isto foi um verdadeiro milagre.

A interface Smart Home da Loewe foi diversas vezes premiada.

O produto icónico da Loewe é, muito apropriadamente, neste momento o televisor iconic, disponível em dois tamanhos de ecrã, 55 e 65 polegadas A tecnologia do ecrã é OLED e a base que distingue imediatamente um iconic é Syno-Stone, com a cor cinzento-pedra, um material mineral sólido, durável e muito higiénico, graças à sua superfície não porosa. Para além das diferenças na dimensão do painel, os televisores iconic distinguem-se ainda por duas versões, a SL5 e a SL7. A primeira dirige-se essencialmente aos mercados de língua alemã que continuam a solicitar as capacidades de gravação e, portanto, integra um disco rígido de 1 TB, bem como dois sintonizadores para permitir gravar dois programas em simultâneo. Já o SL7 optimiza as potencialidades VoD graças ao sistema operativo de funcionamento muito simples e imediato, mas não deixa de lado as capacidades de gravação. O som é reproduzido através de uma barra sonora integrada no suporte e com capacidades de reprodução de conteúdos Dolby Atmos e DTS:X.

Loewe iconic.

Em grande segredo, foi-me confidenciado que está a ser desenvolvida uma nova linha de produtos de luxo com o nome de código Dragon e sobre a qual me foi solicitado que não divulgasse pormenores. Mas estejam atentos porque, à boa maneira d Loewe, será algo que vai abanar o mercado dos televisores de alta qualidade. Do ponto de vista de áudio posso avançar já que haverá igualmente em breve um equipamento multiroom de topo com um controlo tipo jog-dial, do género dos que equipam alguns dos modelos da BMW.

O rádio S3 tem um vasto conjunto de funcionalidades.

A linha Meisterwerk vai igualmente ter cores novas, tendo-se sido possível observar na linha de produção o início da entrada em linha da cor bronze. Em termos de linhas de produção é igualmente interessante mencionar que todos os televisores são pré-calibrados de fábrica, com os dados de alinhamento a serem guardados num servidor e ainda que todos eles funcionam durante meia hora para detectar eventuais falhas de início de funcionamento (early failure). Está neste momento em fase de desenvolvimento uma reestruturação total da linha de produção para juntar tudo num único piso.

Entrada do castelo de Kronach.

Tudo somado tenho que reconhecer que valeu a pena esperar todos este tempo para visitar a Loewe em Kronach (tinha lá estado nos anos noventa mas claro que a estrutura da fábrica era na altura bem diferente), não só pelo caloroso e entusiástico acolhimento de Thomas e Christian, como por me ser possível constatar que tudo está em movimento para manter a marca alemã no rumo de inovação tecnológica e de design que a tem caracterizado ao longo destes 100 anos, como por poder ter tido a oportunidade de visitar o museu Loewe integrado no castelo de Kronach, aberto especialmente para mima na ocasião, pois fechava à 2.ª feira, como todos os museus a nível mundial. Longa vida à Loewe, como deixei exarado no livro de visitas, e que o seu pioneirismos se mantenha pelo menos menos por mais 100 anos.

Foto de despedida: Roland Sthele, Jorge Gonçalves e Roland Raithel.