No hotel das maravilhas
Visitar o Porto e revisitar alguns dos sítios onde tantas vezes me senti muito bem é algo que sempre me tem agradado de sobremaneira desde as minhas primeiras idas à capital do Norte nos tempos heróicos da Audio, já lá vão quase 35 anos. Uma refeição no Rogério do Redondo ou no Escondidinho e um café no Majestic ou no Guarany são das coisas que raramente perdoo e quando é possível combinar estes momentos de deleite gastronómico com a audição de sistemas com equipamentos do nível daqueles que se juntaram nas cinco salas do hotel Sheraton para as Ultimate Sessions Xtreme, então meus senhores é que as palavras começam a ser pequenas para descrever tanta maravilha. Foi um fim-de-semana daqueles a que poucas vezes os amantes da música têm direito o que teve lugar entre os dias 17 e 19 de Fevereiro.
Pois o caso foi que a Ultimate Audio juntou nas referidas salas tesouros que poriam o Aladino das Mil e Uma Noites a «bater mal» e a querer levar tudo para casa, ficando no fim com pena de não ter arranjado um tapete maior. Foi precisa muita coragem para uma «aventura» destas, pois o investimento financeiro e o esforço físico estão à altura de muito poucos. E havia sistemas a tocar mesmo muito bem, claro que uns melhor que outros, não só pelas combinações terem uma maior sinergia entre os vários componentes como por a sala em que estavam, por mais que uma razão, se coadunar melhor com as características desses componentes, muito em especial as das colunas.
Sem qualquer eventual ideia de classificação em sentido ascendente ou descendente senão a da ordem que comecei a ouvir os cinco sistemas presentes no hotel Sheraton, vou aqui tecer algumas considerações sobre aquilo que pude apreciar numa tarde muito bem passada junto a tanta coisa boa e anfitriões que tudo fizeram para que me sentisse bem por ali.
O sistema das Ditpyque Reference.
A electrónica por detrás das Diptyque.
E comecei por entrar na sala onde o Rui Calado tinha umas belas colunas de painel a tocar que nem umas grandes senhoras, as Diptyque Reference alimentadas por um amplificador de potência Burmester 218. O prévio era o fabuloso VAC Statement, o DAC o Aqua Formula xHD e o servidor um Antipodes Oladra. A cablagem pertencia à Esprit e à Gaia. Amante das colunas de painel como sou quase desde o primeiro dia em que ouvi umas QUAD ELS57, não pude deixar de em embevecer uma vez mais com a integração absoluta e a coerência espacial inerentes a esta tecnologia. Timbres bonitos e uma espacialidade imensa são as qualidades que eu já tinha detectado nas Diptyque 160 e que aqui estão sublimadas uma dimensão acima. Desde Kyrie Eleison até The Town Burns, de John Williams, com uma imponente entrada vocal seguida de orquestração emocionalmente muito intensa, tudo isto as Diptyque me «serviram» musicalmente com um à vontade que desarma qualquer um. As Danças Espanholas, de Rafael de Burgos, davam mesmo para bater o pé no chão acompanhando o ritmo inebriante da música do país vizinho.
Sempre com um cunho pedagógico o Miguel alargava-se nas explicações sobre o belo sistema que tinha «nas suas mãos».
Segui então para mais umas das jóias da coroa, pois que elas eram tantas! Nada menos que as Avantgarde Avantgarde Trio G3 com os subwoofers SpaceHorns, «mai-lo» fabuloso e mítico amplificador de potência a válvulas Kondo Ongaku e prévio Kondo Heritage M7 que constituíam a electrónica de amplificação. Na frente digital pontuavam o servidor Reference Server e o DAC Reference DAC, ambos da Wadax, acompanhados pela fonte analógica formada pelo gira-discos Technics SL-1000 equipado com o conjunto cabeça / prévio de phono DS Audio Grande Master. Os cabos eram da linha Vibratro, da ZDL Cables. E, claro, visitantes de boca aberta perante os níveis a que o Miguel conseguia pôr o sistema a tocar sem que se sentisse o menor incómodo não faltavam. Tantos eram que enchiam a sala e dela não saíam, solicitando amiúde «encores» e novas sessões musicais.
Uma fabulosa colecção de electrónica fazia as Trio G3 tocar muito e bem.
De facto, as Trio G3 são um verdadeiro espanto em termos das torrentes de energia que debitam cá para fora, sempre controlada e sem necessidade de potências imensas de amplificação devido à sua elevada sensibilidade. Este era um sistema que nos dava uma ideia de realismo musical, de estarmos mesmo na sala ou no espectáculo ao vivo, muito em especial quando reproduziram ali na minha frente o espantoso solo de guitarra eléctrica de Jeff Beck em Brush With the Blues. Como se dizia dantes, só ouvindo se acredita.
Wadax Reference DAC
E, claro, não faltou a omnipresente em qualquer demonstração Missa Criola, nem a Carmen, de Bizet ou a voz inconfundível de Carlos do Carmo a cantar o Porto Sentido que quase me fez ter ali na frente toda a vista da Serra do Pilar olhada da cúpula do Pavilhão dos Desportos dos jardins do Palácio de Cristal. Até quase que o perfume das flores lá estava…Sim que nos tempos que correm o milagre das rosas da Rainha Santa já nem teria possibilidade de existir pois rosas a florirem em Janeiro é algo que já não admira ninguém.
Palavras para quê, eis o mítico Kondo Ongaku!
Infelizmente não tinha havido tempo para afinar a fonte analógica que só tocaria no dia seguinte.
Como se vê, audiência não faltava.
Para evitar que eu tentasse passar despercebido o meu amigo Francisco ofereceu-me um belo crachá.