No hotel das maravilhas
E passei à sala mais próxima, neste caso aquela em que o Francisco controlava um sistema centrado nas colunas Audiovector R8 Arreté, ligadas a electrónica Accuphase: dois monoblocos de potência A-3000, prévio C-2900 e DAC DC-1000. O servidor de áudio digital era um Innuos Statement Next-Gen e na frente analógica pontuava um gira-discos Brinkmann Oasis Anniversary, com cabeça e igualizador phono DS Audio W3. A cablagem assentava nos Crystal Diamond 2 Ultra e nessa sala pude conversar por alguns momentos com a minha velha conhecida Gaby Rynveld, acompanhada pelo seu muito provável sucessor Peter de Leeuw.
Mais uma excelente sessão musical, de que destaco a audição de Dopo l’Oscuro, da ópera Adelson & Salvini, com a bela voz de Joyce Di Dinato, acompanhada pela Orquestra da Opera Nacional de Lyon. Os crescendos de voz de Joyce eram belíssimos e controlados, com uma extensão quase estentórea mas nunca agrestes ou incomodativos, muito pelo contrário.
Belíssimas, sem dúvida, as Audiovector R8 Arreté
E não podia falhar mais uma faixa incontornável, neste caso o ubíquo Take Five, que soou rítmico, álacre e com excelente batida na percussão, quer em termos de controlo quer no que se refere a intensidade. Mas não posso deixar de mencionar aqui a excelente audição de som analógico através da reprodução do LP Elvis is Back. E Elvis parecia mesmo que tinha voltado com a sua voz inconfundível a estender-se por toda a sala e a trazer muitas memórias de outros tempos.
Brinkmann Oasis Anniversary
Comecei por dizer que eram cinco sistemas com uma grande parte dos grandes equipamentos que neste momento existem no mundo, por isso ainda vão ter que ler mais uma boa parte de texto sobre o que se segue. E quem estava na minha sequência de salas eram as Burmester BC150, ligadas a electrónica igualmente da marca, na forma dos amplificadores de potência monobloco 159 e o prévio / DAC / streamer 111. A cablagem era da Siltech, gama Double Crown e o Jorge tinha tudo sobre grande controlo, tal qual um bom maestro.
Sistema Burmester
Fui acolhido pelo cálido A Warm Embrace, com um belo solo de saxofone, a que se seguiu Que Amor Não me Engana, do álbum Fado Roubado, cantado por Paula Oliveira, acompanhada por Bernardo Moreira. O estilo de Paula é bem diferente do de Zeca Afonso, como é mais que evidente, mas a combinação da sua voz intensa e cálida com a mestria de Bernardo no piano deu origem a um excelente momento musical que demonstrou que, para além de toda a pujança energética que as colunas da Burmester têm, e que pude ouvir uma vez mais numa outra faixa com uma batida bem potente, elas também são capazes de se portarem como pequenos gatinhos a ronronar.
Electrónica Burmester
Prévio / DAC / streamer Burmester 111
E por fim, mas nunca por último, tínhamos o António com um sistema Kroma / Gryphon: colunas Kroma Mercedes em estreia absoluta, amplificadores de potência monobloco Gryphon Apex e prévio Gryphon Commander. O DAC era o excelente MSB Select and Reference Director e o servidor de música o Taiko Extreme, tudo cablado com Stage III Cerberus, Poseidon & Ckahron. Este foi, para mim, o sistema que senti como estando mais coeso, mais integrado em termos de interacção entre o sistema e a sala, soando sempre com uma segurança extrema e uma elevadíssima naturalidade.
Sistema Kroma/Gryphon/MSB
Todos temos preferências e, nunca desfazendo em nenhum dos «enormes» sistemas que já descrevi, este foi o que mais mexeu comigo. Ouvir uma vez mais Kyrie Eleison foi altamente revelador pelo som intenso, quase celestial e profundamente emocional que saía das Kroma. E destaco aqui ainda a reaudição de The Town Burns, de John Williams, que já mencionei no caso da Diptyque, com uma portentosa entrada vocal, seguida de momentos orquestrais de extrema intensidade. E que melhor complemento poderia vir de seguida senão a bela e alegra ária Papageno, da Flauta Mágica. A música era bela, arejada, com uma excelente integração das várias faixas de frequência e uma ampla e coesa imagem espacial. E logo de seguida, para se ver que o sistema estava nas suas sete quintas com qualquer tipo de música, veio um intenso solo de órgão com as colunas a emitirem imperturbavelmente energia por todos os poros.
Com esta «escolta», era difícil que as Kroma Mercedes não se sentissem nas suas sete quintas.
Foi uma tarde em grande, acompanhada por música de alto gabarito reproduzida por aqueles que eram com certeza alguns dos melhores sistemas que se podem ter em qualquer parte do mundo. É preciso arrojo e coragem e o Miguel e o António demonstraram que não lhes falta nem um nem a outra. E o público correspondeu pois, embora fosse uma sexta-feira à tarde quando lá estive, logo hora de trabalho para muita gente, a frequência foi muita, com quase todas as salas cheias de público atento e interessado até cerca da inevitável hora do jantar. Está de parabéns a Ultimate Audio Elite na pessoa dos responsáveis atrás mencionados e de toda a sua equipa pelo grande trabalho que realizaram em salas que decididamente não eram fáceis de dominar, o que é verdade para praticamente todas as salas de hotel. E não lhes invejo de modo nenhum o esforço e trabalho de levar todas aquelas montanhas de equipamento para o Porto e trazê-lo de volta para o voltar a pôr a tocar. Espero bem que o encanto de quem ouviu embevecido se traduza na necessidade de alguns deles ficarem pela loja do Porto, pois sempre fica mais perto. E agora, que venham mais sessões destas, que estamos cá todos para as apreciar.