O silêncio é tão importante como as notas
Passando agora a um outro tema, o som de saxofone de Sonny Rollins em Blue Z, reproduzido a partir de uma faixa resultante de uma remasterização de Rudy van Gelder, foi pura e simplesmente sublime. E, na mesma faixa, as pancadas nas tarolas da bateria de Max Roach tinham não só um timing perfeito com um som daqueles que quase causa arrepios de tão real.
A expressividade da música que passa por estes cabos é uma coisa que só ouvindo se acredita. Já tinha ouvidos cabos da ZenSati por diversas vezes em Munique mas aqui na minha casa a performance global ultrapassou em muito tudo aquilo de que me recordava. Fazendo jus ao nome, os cabos Silenzio definem um nível de silêncio muito marcante entre notas mas o mais importante é o modo como essas notas nos são apresentadas, a subtileza, o nível de clareza e a transparência.
Que subtileza de percussão e que voz linda a de Alice Zawalski em Dezile a Mi Amor. O som parece suspenso no ar e claro que o está pois é o resultado da vibração das partículas do mesmo, só que na maior das vezes isso não é tão evidente como o foi durante a audição dos ZenSati. A música fica quase etérea, sublime. Diria mesmo que quase perfumada e um tempo de «desaparecimento» incrível, algo muito semelhante ao que acontece quando percutimos um copo de cristal de alta qualidade ou um diapasão. Até a eterna Roberta Flack em Killing Me Softly With His Song pareceu renovada, quase renascida das cinzas, com uma voz muito mais viva e presente, como se tivesse voltado do outro mundo com mais energia ainda que a que já tinha quando por cá andou.
Chegado a este ponto, vale talvez a pena fazer algumas considerações em termos do efeito maior ou menor das mudanças dos cabos num sistema. A minha formação técnica faz-me olhar para este tema sempre com algum distanciamento, embora nunca tenha chegado ao ponto de me converter à doutrina de que os cabos são todos iguais, basta usar um que tenha a secção correspondente á função a desempenhar e deixemo-nos de tretas. Mas esse mencionado «distanciamento» acaba por ser muito útil porque me permite avaliar com bastante isenção aquilo que estou a ouvir, do que é que resulta e se a sensação é mais forte ou menos forte. E, ao fim de tantos anos de experiências, não me tem sido difícil avaliar aquilo que acontece no meu sistema quando mudo este ou aquele cabo. Os cabos de coluna Kimber Select KS-3035 que uso há alguns anos produzem resultados consistentes e equilibrados e posso com relativa facilidade extrair conclusões da sua retirada do sistema, da entrada de um novo cabo e, como conclusão final, da sua reentrada. E tudo se resume, desculpem-me se estou a tentar colocar as coisas como se fosse tudo muito fácil, a detectar o que é que mudou em músicas que eu já conheça bem, em perceber no meio do conjunto de sensações que em mim se desenvolvem, quais serão as que são reais ou as que podem resultar da minha vontade em descobrir diferenças.
Estes «sintomas» são tão fáceis de descobrir com música clássica, como jazz ou com qualquer género de música que estejamos a ouvir. E é muito importante que tal aconteça porque não é exigível a quem ouve que tenha frequentado um curso de «crítica audiófila» que, ao que sei, não existe – deve sentar-se em frente ao sistema, começar a ouvir as músicas de que gosta no formato que normalmente utiliza e deixar que a música flua naturalmente. Será interessante constatar que os resultados da incorporação no sistema dos ZenSati são imediatos e contagiantes, diria mesmo quase viciantes, retirando a esta última palavra todas as conotações menos abonatórias que ultimamente se lhe colaram: um vício não é necessariamente algo negativo, é um modo de apreciação que produz sensações tão fortes que fazem com que quem o tem se sinta coagido a fazer uso desse vício vezes e vezes. E que mal terá um vício que poderemos designar como «gostar de ouvir boa música reproduzida através de um sistema que nos transmite sensações extasiantes»?
Um aviso: nada do que está relatado até aqui tem a ver com a velha frase «É caro, tem que ser bom»., antes pelo contrário: como já disse atrás, já ouvi os ZenSati pelo menos três vezes em Munique, com sistema algo diferentes uns dos outros, e não fiquei por aí além entusiasmado depois dessas audições. Em face disso até poderia ser o caso contrário relativamente à citada frase, ou seja, que eu partisse para o teste com um «parti pris» em relação aos cabos em causa. Longe de mim tal ideia – os que me conhecem já ao longo de um número razoável de anos, sabem que tenho sempre um espírito aberto e tento o mais possível não desenvolver preconceitos. Testar produtos de um modo completo só o faço no meu sistema logo, se lá coloco pela primeira vez um determinado equipamento ou acessório, faço tudo o possível para esquecer ideias hipoteticamente preconcebidas e partir do ponto zero. E foi assim que aconteceu mais uma vez!
Os efeitos da colocação em simultâneo de vários cabos Silenzio num sistema não evoluem de maneira exponencial nem nada que se pareça. São antes subtis, embora não tão difíceis assim de detectar depois de se ter percebido para «onde se deve olhar». Ou seja, aquilo que descrevi quando coloquei os cabos de coluna no meu sistema está igualmente presente, embora com graduações diferentes até porque o sítio onde se colocam os cabos não é o mesmo. E, para perceber isso mesmo tive que fazer um pouco o caminho das pedras, experimentando e tornando a experimentar para tirar dúvidas. Significa isto que fiz como que o reset ao meu sistema, recolocando os Kimber Select nas colunas, experimentei então mudar apenas o cabo de alimentação, neste caso no prévio Inspiration 1.0, da Constellation, retirando um AudioQuest antigo que eu «fabriquei» aqui há una anos com fichas especiais nos dois lados, e coloquei então o cabo de sector Silenzio. Rodou, ouvi por várias horas, tomei notas e fiz tudo voltar a zero uma vez mais. Mais um pouco de reabituação com os meus cabos habituais de volta, ouvindo faixas que conheço bastante bem, e toca a passar à fase final, colocando o cabo de interconexão entre o prévio e o amplificador de potência Inspiration e os dois outros cabos Zensati de novo para as audições que concluem este teste. E, se toda esta descrição pode cansar, olhem que também não foi pêra doce colocar e retirar os cabos pois eles são mesmo muito rígidos e o espaço que tenho livre na parte traseira do sistema, embora sempre me tenha parecido amplo, revelou-se exíguo para algumas das «manobras». Portanto, quem tem sistemas com pouco espaço livre nas traseiras dos equipamentos ou os tenha inseridos em móveis, é melhor ver com cuidado se lhe é fácil ou não colocar os ZenSati no seu sistema.
E a conclusão final é que experimentar os Silenzio foi como que um gosto adquirido: um é muito bom, dois é ainda melhor, três, então nem falar. Mas as mudanças percebidas, embora caminhem por percursos não muito diferentes, não são do tipo de dizer que se com um cabo é bom, com dois é duplamente melhor e assim por diante. Não, são tudo pequenas mudanças, sempre perceptíveis mas a que por vezes se tem de prestar um pouco mais de atenção porque já sabíamos que elas lá estavam quando colocámos apenas um cabo e corremos o risco de nos habituarmos a esse novo normal e não darmos ao conjunto dos três cabos a importância que esse algo mais merece. E o algo mais traduz-se numa maior amplitude da imagem espacial, numa percepção quase perfeita dos timbres, na imediaticidade das notas graças a um silêncio quase sepulcral, na imponência (é mesmo o caso!) dos graves e assim por diante. Mas cuidado que não ficamos na frente com um «fogo-de-artifício musical», nada disso, são nuances, são subtilezas, são perfumes sofisticados, chamemos-lhes o que quisermos, mas a música é sempre o mais natural possível - todas essas coisas boas que acabei de descrever estão lá, embora nunca acenem para nós, tentando dar nas vistas.
Conclusão
Os ZenSati Silenzio são qualquer coisa de muito especial, quase seguramente os melhores cabos que já tive no meu sistema. Tentei traduzir por palavras aquilo que senti quando os ouvi mas tenho a certeza de que essas palavras não serão suficientes para descrever os efeitos que eles têm num sistema e até que outras pessoas, com sensibilidades diferentes, detectem neles outras qualidades para além das que enumerei. No que se refere a preços vou eximir-me de fazer comentários, limitando-me a transcrever os preços da tabela da Exaudio no final do teste e a indicar que os Silenzio nem são o topo de gama da ZenSati, o lugar do pódio é ocupado pela gama #X. Quem se sentir com «coragem» suficiente para os ouvir deve fazê-lo sem quaisquer preconceitos e isso é que é o mais importante. Mas cuidado que depois de os ouvir vai ficar contagiado por aquilo que eles fazem e a cura não é fácil (nem barata)...
Cabos ZenSati Silenzio
Cabo de coluna, 2 metros, forquilha ou banana 31 675 €
Preço por cada metro a mais 7 450 €
Cabo de interconexão, 1 metro 12 110 €
Cabo de alimentação, 1,5 metros 14 905 €
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