A tradição reinventada para a era digital
Audição
Comecei por experimentar o streaming do Model 60n. Foi fácil ligar à rede doméstica e foi fácil utilizar o Heos. E o desempenho foi bastante bom, embora não fosse fácil ligar ao meu serviço de música, o Qobuz e as capacidades de DSD parecessem um pouco exageradas. Na verdade, o desempenho só foi estável até DSD128 (ao contrários dos DSD256 prometidos). Claro que continuo a advogar um streamer dedicado. E embora reconheça a conveniência da solução proposta, acredito que poucos decidirão por um Model 60n em função da excelência do seu streaming e muitos pela sua amplificação. E, por isso, o remanescente do teste centra-se nesta última capacidade.
É na audição como amplificador integrado que o Model 60n revela o seu verdadeiro carácter — quente, articulado, com uma apresentação tridimensional que cativa desde os primeiros acordes. Em sessões com colunas como as Bowers & Wilkins 705 S2, e o leitor Atoll SACD200 (mais o Cyan DSD DAC, da Holo) como fonte, o Model 60n exibiu um equilíbrio tonal refinado, com agudos doces e detalhados, médios cheios e expressivos (um clássico da marca) e graves firmes, ainda que não esmagadores.
Playlist
Rachel Podger & Brecon Baroque – Just Biber, CD Channel Classics CD
Luca Cervoni & Concerto Romano (dir. A. Quarta) – Missing Vittorio, CD Christophorus
Lilly – The Song is You, CD Challenge
David Murray – Ballads for Bass Clarinet, CD DIW
Wet Leg – Moisturizer, CD Domino
Neil Young & Chrome Hearts – Talking to the Trees, CD Warner
Mas passemos ao pormenor.
Começando pela clássica e pela procura do tenor romano de Handel, Vittorio Chiccheri. Quando Handel viveu e trabalhou em Roma, no início do séc. XVIII, Vittorio Chiccheri era um dos cantores romanos proeminentes da sua época e Handel usou-o nos papéis principais dos seus oratórios romanos. Aqui Luca Cervoni assume a persona de Chiccheri e interpreta Scarlatti, Caldara, Handel (é claro) e outros compositores menos conhecidos. O Model 60n conseguiu separar a voz de Cervoni e cada instrumento com uma precisão quase holográfica, sem se deixar cair na armadilha da clínica frieza.
A voz de Cervoni soou natural, enquanto o baixo contínuo manteve presença e textura. Depois o violino da divina Podger a interpretar as obras de Biber no stile rappresentativo, querendo imitar com o violino os sons da natureza como o vento, os pássaros e os animais. Podger soou prodigiosa e encantadora. O Model 60n manteve um bom nível de reprodução, embora nos registos mais agudos pareceu menos natural e mais «em esforço», não atingindo, no entanto, nunca a distorção.
No jazz, Lilly, voz, com grandes acompanhantes como Gilad Hekselman (guitarra) e Kirk Knuffke (corneta) mostrou como o jazz continua imprevisível. O registo do standard It Might As Well Be Spring é de uma enorme criatividade. E o Model 60n mostrou-se à vontade: bom impacto rítmico e boa escala dinâmica. Depois David Murray e as suas baladas em clarinete baixo, instrumento revelado para o jazz por Eric Dolphy, e aqui magnificamente tocado. O som é quente, intenso e com grande controlo, mesmo nos arremedos, às vezes tonitruantes, de Murray.
No rock, temos primeiro, uma banda que nos visitou recentemente, os Wet Leg. Música sussurrada ou violenta, mas sempre com um enorme bom gosto e elegância, sobretudo da sua vocalista ruivíssima, Rhian Teasdale. Bom desempenho do Model 60n, mostrando perfeitamente nos ambientes eléctricos da banda. Finalmente, Neil Young, o inimitável. Quem mais poderia começar uma canção com as palavras Well I lost my little girl to darkness inside, her mama’s is gone now and there is nowhete to hide? As canções são todas magníficas e sentidas e as guitarras sabem do que falam. Grande detalhe dos timbres e nos ataques das notas, sem perder a energia, a verdade e a sua música.
Conclusão
O Marantz Model 60n é um excelente amplificador integrado ao seu nível de preço, embora a própria Marantz tenha outros modelos muito competitivos na relação qualidade / preço. É também verdade que como é apontado por muitos audiófilos, a Interface HEOS ainda pode melhorar em fluidez. Além disso, a potência pode ser limitada para colunas muito exigentes em grandes salas. Mas recordemos o que dizia Dick Olsher: “o primeiro watt é o watt mais importante”.
A conclusão é que o Model 60n é uma solução completa para quem se quer introduzir no mundo do streaming sem perder de vista o universo do áudio analógico. Com uma assinatura sónica musical, rica e envolvente, combinada com funcionalidades modernas de streaming, conectividade HDMI e uma boa secção de phono, este modelo representa uma excelente proposta ao seu nível de preço.
Amplificador integrado com streaming Marantz 60n
Preço 1278 €
Contacto B&W Group Spain/Masimo